Essas questões nos dão uma pista sobre o real papel do consultor. Consultor é aquele que traz uma visão de fora para ajudar a resolver algum problema. Mas nenhum faz mágica
O mundo está cheio de consultores. Do profissional que nos diz qual exercício fazer na academia, especialistas em relacionamentos e os famosos e mal falados consultores organizacionais. O fato é que uma quantidade enorme de gente ganha a vida dando conselhos e dizendo aos outros o que fazer. E isso nos leva à questão da vez.
O leitor Egon Bianchini Calderari nos escreve dizendo que a "bagagem" de um consultor seria essencial em uma contratação. Como ele não possui tal "bagagem", ele pede experiências e dicas para quem quer começar na área.
Se pensarmos bem sobre o assunto, é possível concluir que consultores são personagens realmente estranhos. Na prática, não possuem nenhum poder efetivo. Um consultor pode analisar, lhe dar opções, dizer o que fazer e até executar algumas tarefas. Mas poder, não tem nenhum. Um consultor não pode definir e autorizar investimentos, não pode simplesmente mandar que algo seja feito, dificilmente pode exercer autoridade sobre os membros da organização que atende (e mesmo quando possui tal autoridade, muitos descobrem que na prática isso os torna os "inimigos de fora" para o pessoal da empresa).
Muitos pensam que o sucesso de um bom consultor está em alguma habilidade fantástica, uma capacidade acima da média que o torna especial. Esse é um pecado comum, cometido até por certas pessoas da área. Essa ideia não poderia estar mais errada.
Essas questões nos dão uma pista sobre o real papel do consultor. Consultor é aquele que traz uma visão de fora para ajudar a resolver algum problema. Vamos a alguns exemplos simples. Você, insatisfeito com sua, digamos assim, circunferência, resolve fechar a boca e fazer um regime. Em pouco tempo, a falta de comida lhe deixa de mau humor, e em breve nem você se aguenta, invade o primeiro restaurante e manda a dieta para o espaço. Você passa por esse efeito sanfona até contratar os serviços de um nutricionista para aumentar a qualidade do que você come sem ter vontade de matar pessoas nas ruas pelos seus lanches.
Você se sente mal em um relacionamento. Como aprendemos em Sex in The City e dezenas de outras obras sobre o tema, a melhor coisa é ligar para alguns amigos, e quem sabe eles nos façam ver os problemas pela perspectiva do outro.
Você está insatisfeito com sua carreira, procura um coach profissional, e essa pessoa lhe ajuda a traçar objetivos e desenvolver todo o seu potencial. Você quer instalar um novo sistema de gestão na multinacional em que é CEO, com certeza algumas das maiores consultorias do mundo podem te ajudar com isso.
Perceba, caro leitor, que em nenhum momento estou falando em habilidades mágicas. Devo confessar, porém, que a segunda mais velha profissão do mundo tem lá o seu encanto por um efeito melodramático. Alguns tocavam tambores, encarnavam espíritos, outros liam entranhas de animais mortos. Com certeza tais efeitos especiais causavam uma boa sensação aos espectadores, mas com certeza se toda a bagunça não fosse acompanhada de um bom conselho, os reis de antigamente procurariam novos consultores para seus problemas.
E aí que está o grande segredo da coisa. Não são os títulos, as roupas ou uma dança ritual que fazem alguém ser ouvido. É a perspectiva. Não é um terno novo ou um punhado de MBAs que faz um consultor, mas sim a perspectiva que ele traz aos seus clientes.
Voltando à questão que nos levou a esse texto. Um bom consultor é aquele que seus clientes querem ouvir antes de tomar uma decisão em suas áreas de especialidade. É aquela segunda opinião para o diálogo mental, para reuniões internas, é a perspectiva de alguém que olha de fora e oferece novas formas de ver o problema enfrentado. E aí, caro leitor, mora grande parte da graça da atividade de consultoria: você pode não ter o poder para decidir, mas pode descobrir que tão interessante quanto isso, é oferecer suas análises e uma perspectiva única para diferentes líderes e personagens do mundo empresarial.
Fonte: Administradores
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