sábado, 13 de setembro de 2014

Outros meios de vencer uma guerra

Quando a não agressão pode ser o melhor ataque




Eu sempre gostei da área de Estratégia (inclusive, já que escrevi um livro sobre o assunto). Lá pelos meus vinte e poucos anos, tomei gosto pela coisa e resolvi retornar às origens. Passei incontáveis horas na companhia de Sun Tzu, Musashi, Vegetius, Julio Cesar, Thucidides, Maquiavel, Clausewitz e toda a turma. Achava divertidíssimo ler sobre a campanha de Átila, o Huno ou os feitos de John Zizka, um dos poucos generais que não perdeu uma batalha sequer.

A relação entre estratégia e negócios é bastante clara. Em Administração, essa disciplina cresceu muito e ganhou força após a segunda guerra mundial. Não é coincidência, já que um número considerável de pessoas abandonava a farda militar e se voltava ao mundo civil.

Muitos de nossos conceitos, como missão e visão, são paralelos diretos do linguajar de guerra. Outros campos, como logística e pesquisa operacional, têm suas raízes e grandes avanços na necessidade dos comandantes de gerenciar e alimentar grandes números de pessoas enquanto procuram o exército inimigo.

Eu sempre achei que essa ligação militar com a área de estratégia era um dos fatores que afastavam mulheres de certas carreiras. Apesar de comuns em exércitos “bárbaros”, até há pouco tempo mulheres militares eram vistas como aberrações. O linguajar sanguinolento e combativo das salas de reunião ajudavam as altas esferas a continuar clubes do bolinha.

Essa herança no militarismo gerou uma outra consequência: ao serem transportados da área militar, muitos dos grandes nomes foram interpretados e reinterpretados. Na maior parte dos casos, sobrou uma versão de caricatura com pouca relação com a realidade. Dessa forma, um dos maiores gênios no campo político teve seu nome transformado em sinônimo de coisa ruim, como “maquiavélico” (de Maquiavel), para ficar em um exemplo. Isso leva a uma interpretação errada e superficial, e quem perde somos todos nós.

A primeira vez que li os clássicos militares, achei que se tratavam de vitórias e violência. Na segunda, percebi que estava enganado.

O imaginário popular e os filmes que adoramos assistir no cinema costumam focar nas grandes batalhas: um general, rei ou algo assim, empunha sua arma, grita “Liberdade" e avança com todo seu exército em uma batalha desesperada contra o inimigo. Fica lindo na tela, acende nossa imaginação – e nos engana.

Batalhas são confusas. A energia, emoções, recursos e complexidade envolvidos deixam qualquer um louco e fazem o melhor dos planos ir por água abaixo. Se Napoleão teve problemas quando seus canhões foram prejudicados pela chuva, imagine o que a incerteza causa a mentes menos geniais.

Os grandes nomes da história são aqueles que sabiam quando lutar e como evitar uma batalha. Júlio César construiu uma muralha quilométrica para isolar seus inimigos na Gália. Diz a lenda que Alexandre, o Grande conquistou uma cidade ao fazer alguns homens escalarem uma fortaleza e convencer os habitantes de que ele possuía um exército alado.

Ainda assim, quantas batalhas vemos no dia a dia? Da resposta mal educada àquele e-mail, a brigas entre departamentos, empresas, países e assim por diante?

Coloque 50 pessoas fazendo baderna em uma praça e 30 policiais armados até os dentes acabam com aquilo rapidinho. Coloque 50 pessoas sentadas na mesma praça e, de repente, a coisa muda de figura. Quantos policias são necessários para remover uma pessoa de cada vez? Qual imagem conquistaria mais apoio à sua causa: um monte de baderneiros gritando ou pessoas sentadas eventualmente sofrendo abuso das autoridades?

A não agressão é uma estratégia tão ou mais inteligente que a violência. Ainda assim, pelo imaginário popular, achamos que o bom mesmo é esmagar os inimigos na pancada. Como já se sabe há muito tempo, é mais fácil deixar o inimigo morrer de fome.

Da próxima vez que você se vir entre a agressão e o recuo, pense sobre o que exatamente você tem a ganhar com cada opção. De vez em quando, o enfrentamento pode valer à pena. Lembre-se, no entanto, que as batalhas que vemos na televisão eram muito mais raras e menos efetivas no mundo real. Geralmente há uma resposta mais inteligente e elegante, se ao menos você abandonar seus preconceitos e esfriar a cabeça.

Senão, você pode correr o risco. Como todo bom estrategista sabe, nada melhor que um concorrente com emoções à flor da pele.



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