terça-feira, 29 de julho de 2014

Um texto para você que acha que sabe tudo

Algumas considerações sobre a cultura dos técnicos de poltrona




Recentemente, terminei a primeira versão do que, com alguma sorte, será meu próximo livro. Confesso que nessa ressaca de escriba, passei um tempo nas redes sociais, onde normalmente passo fazendo coisas mais úteis.

O que eu vi nesse período? Após a revolta nacional com o técnico da Seleção Brasileira, tivemos teorias da conspiração sobre quedas de avião, revolta nacional por um chef estrangeiro achar que brigadeiro não faz bem à saúde, notícias falsas sobre um empreendimento imobiliário inteiro doado pela Seleção Alemã, manifestações sobre uma foto do cineasta Steven Spielberg “assassinando" um dinossauro (para quem viu o post original, rapidamente, a coisa virou uma bagunça entre quem caiu, quem entendeu a piada e tirou sarro e quem tirou sarro de quem acreditou na história), fotos de desastres naturais se passando por conflitos armados, uma completa confusão sobre mais conflitos armados, mais teorias da conspiração sobre quedas de avião e, finalmente, notícias antecipadas sobre a morte de Ariano Suassuna.

Ufa. E isso foram só alguns dias em que resolvi prestar atenção no que meus amigos virtuais colocavam em suas páginas.

Pensei em tudo que já li e vi sobre a tal da "sociedade da informação”. Teoricamente, todos vivemos no momento mais bem informado da história. Temos, ao alcance de nossas mãos, acesso a todo o conteúdo do mundo, conseguimos falar com gente em todos os cantos, falamos e somos ouvidos por uma multidão que antes era impossível de ser alcançada sem um megafone e um palanque no meio da praça.

Me pergunto até que ponto isso é informação e até que ponto é apenas impressão de informação.

No último primeiro de abril, a rede americana NPR resolveu fazer uma pegadinha, postando em seu site o título “porque os americanos não leem”. Quem clicava na notícia abria uma página recebendo os parabéns por ser alguém que lê as notícias. Como você deve imaginar, uma quantidade enorme de internautas incautos compartilhou a notícia, muitos se indignando e se manifestando de que, sim, liam um monte, e a notícia estava completamente errada (claro que se ao menos tivessem clicado no link não passariam essa vergonha)!

Hoje, discutimos o que se passa na cabeça do técnico da Seleção antes de ouvirmos uma entrevista dele, criamos teorias sobre o que derrubou um avião antes de saber a opinião dos técnicos sobre a caixa preta, compartilhamos escândalos políticos antes de sabermos a veracidade daquilo tudo. Estamos tão acostumados a nos indignar e sair compartilhando coisas, que a maioria de nós mal se dá ao trabalho de descobrir o que há por trás das fotos e notícias.

Preciso dar uma de chato e levantar um sinal amarelo: é tanta informação, mastigada, amplificada e triturada nas redes sociais, que acabamos com a impressão de que estamos muito bem informados, quando, na verdade, temos uma visão extremamente superficial e, em boa parte das vezes, bastante errada, do nosso conhecimento sobre o mundo à nossa volta. Tudo devidamente amplificado na histeria dos comentários entre completos desconhecidos.

Antes da explosão de conhecimento, sabíamos que não sabíamos das coisas. O conhecimento era mais difícil, precisava ser pesquisado, aprendido e estudado lentamente. Não ache que estou falando da época dos meus avós. Lembro-me da alegria que eu sentia quando comecei a encomendar livros do exterior, depois da longa espera para o conhecimento chegar às minhas mãos.

Hoje é tudo muito mais imediato e acessível. Ligue o computador, o telefone e comece a consumir conteúdo. Como resultado, achamos que sabemos muito. No entanto, se começarmos a cavar esse pretenso conhecimento, ver até que ponto realmente entendemos o que achamos que sabemos, se tivermos coragem de realmente nos questionar, vamos descobrir que em boa parte dos casos a conclusão é só uma: sabemos de nada, inocentes.



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