Conversamos com Maria Rita Spina Bueno,
sócia fundadora do Anjos do Brasil, uma das principais organizações brasileiras
de investidores-anjo, para entender quais os fatores que fazem esse
investidores apostarem em um negócio
Eles são vistos como os verdadeiros salvadores da pátria
para diversas startups e, de fato, para muitas delas, realmente são. Mas não é
ter uma ideia mirabolante que o empreendedor conseguirá um caminhão recheado de
dinheiro dos investidores-anjos. Há todo um critério para que um negócio receba
um suporte ao invés de outro pronto.
Para entendermos quais os fatores que fazem um
investidor-anjo apostar em um negócio, além de entender um pouco mais do perfil
desse tipo de empreendedor, conversamos com Maria Rita Spina, sócia fundadora
do Anjos do Brasil - uma iniciativa sem fins lucrativos que fomenta o
investimento anjo. Confira abaixo:
Você pode falar um pouco do trabalho
que a Anjos do Brasil realiza?
Maria Rita Spina | Temos três vertentes de trabalho. A
primeira linha de atuação é que nós somos uma rede de investimento anjo.
Investimento anjo é sobre conexão, relacionamento entre investidor, troca de
boas práticas, recepção de bons projetos. Também atuamos em uma linha vertical
que é a criação de uma cultura de difusão de conhecimento. A gente percebe que
para que tudo aconteça, nós precisamos ter uma cultura de empreender muito mais
inovadora, muito mais colaborativa. E precisamos ainda colaborar explicando o
que é investimento anjo e estimulando esse tipo de empreendimento.
E o terceiro foco de atuação é com políticas públicas. A
gente tem conversado com uma série de redes internacionais e todas elas nos
dizem que nos países onde existe um reconhecimento da importância dos
investimentos- anjos, isso cresce muito. Isso é uma pauta de longo prazo, mas é
uma pauta que nós atuamos. E fazemos tudo isso através de uma extensa rede de
parceiros. Só vai existir um ecossistema forte de empreendedorismo e inovação
no país se muitos agentes diferentes agirem com sinergia, de forma que tenhamos
condições para que isso aconteça.
Houve um aumento desse tipo de investidor. Qual
justificativa você daria para esse crescimento?
O que percebemos é que existe uma enorme necessidade nesse
tipo de investimento no Brasil. Estamos em um momento muito oportuno e
interessante. Onde o empreendedor mudou bastante. As pesquisas mostram que se
há 10 anos o empreendedor empreendia por necessidade, hoje, existem uma geração
de pessoas que empreendem por oportunidade.
Eles vêm um problema real, encontram uma ação relevante e
querem empreender. E nesse cenário, o investimento-anjo tem um papel muito
especial. Porque o investimento-anjo não é só o capital. Quem está começando um
negócio também precisa de apoio, precisa de uma visão mais experiente, precisam
de networking. E o anjo pode oferecer isso.
Qual é o perfil dos investidores-anjos no Brasil?
Ele é tipicamente homem, empresários ou executivos que
fizeram uma carreira corporativa. Agora, está surgindo muitos profissionais
liberais. Eles têm algum capital para fazer um investimento de risco e todo um
conhecimento agregado de networking e de relacionamento. Há também a iniciativa
do MIA – Mulheres Investidoras Anjo, um movimento de fomento ao investimento
anjo feminino, que estamos desenvolvendo.
Quais são os principais modelos de negócios investidos?
Quais os setores?
Tem muita coisa sobre tecnologia. Claro, é um setor muito
interessante, mas não é só isso. Você vê investimentos, por exemplo, em setores
de educação, saúde e energia. Muitas vezes são projetos de tecnologia aplicados
a esses setores. E são áreas que despertam muito interesse por terem problemas
reais, terem um mercado amplo e serem escaláveis.
Onde estão concentrados os maiores investimentos?
Hoje ainda, você pode dizer que a maior parte dos
investimentos está concentrado na região Sudeste, em especial, no eixo São
Paulo - Rio de Janeiro. Mas isso vem sendo modificado. Então há
investimento-anjo pelo Brasil inteiro. No Nordeste vem surgindo muitas coisas.
O que acontece quando você fala a nível Brasil é que existe muita gente que faz
o investimento-anjo, mas não sabe que está fazendo um. No caso, ele geralmente
é feito de uma maneira esporádica. Que é o empresário que conhece um rapaz mais
jovem e investe no projeto dessa pessoa, colocando capital e orienta de
diferentes frentes. Isso é ser investimento-anjo. O que a gente quer incentivar
é investidores que façam isso de maneira sistemática. E assim terem uma
carteira de investimento anjo.
Muitos empreendedores resolvem abrir uma startup visando o
dinheiro rápido. O que você poderia dizer para esse empreendedor?
Quando o foco é ganhar dinheiro, muito difícil você fazer um
projeto de longo prazo e sustentável. O dinheiro é consequência de você ver um
problema real e encontrar uma solução. O que a gente sempre percebe quando
olhamos empresas inovadoras – e que no final acabam valendo muito – são
empresas cuja motivação inicial não é fazer dinheiro, mas sim dar uma solução
relevante para um problema real. O caminho tem que ser esse. O dinheiro é
consequência, não pode ser o foco.
Para quem deseja começar uma startup ou virar um
empreendedor, o que você considera como fundamental aos olhos de um anjo?
Tem um dito que é muito comum para o investimento-anjo, que
acredito que você já tenha ouvido, que fala: “invista no jockey e não no
cavalo”. Então, o fundamental é esse empreendedor cultivar dentro dele as
características do empreendedor. Cultivar a capacidade de realização, fazer
acontecer, ser resiliente e encontrar um problema real e dar uma solução
relevante.
Empreender não é fácil, ainda mais de maneira inovadora. Você
vai ter que está preparado para tudo isso, para ser flexível e isso é o
fundamental. É o que a gente mais olha. Muito empreendedor acha que só é a
ideia que importa, tem uma ideia e pronto. Não. A ideia vai mudar ao longo do
tempo porque os projetos mudam, o mercado lhe dar respostas diferentes do que
você originalmente imaginou e você tem que ser flexível para escutar esse
mercado e entender o que é importante. É isso que todo investidor-anjo procura.
Fonte: Administradores
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