Planejamento para 15 ou 20 anos a frente demanda um olhar
apurado e capacidade de adaptação frente aos imprevistos. Atenção deve se
voltar para mega cenários
As megatendências podem ser entendidas como tendências
previstas a longo prazo. Em muitos setores, esses movimentos são capazes de
gerar mudanças e impactar por completo um modelo de negócios. Uma preocupação
estratégica da maioria das empresas é: como se posicionar para aproveitar da
melhor forma estas mudanças, se adaptar aos novos contextos e o que fazer para
sair na frente dos concorrentes no quesito inovação. Contudo, aproveitar as
tendências que surgem passa por questões de planejamento estratégico de longo
prazo, correção de erros, conhecimento do mercado e pesquisas para tentar
definir como será o próximo período.
As empresas tentam antever o futuro por meio de indicadores
de mercado e pesquisas. Com base nestes dados, são traçados os novos rumos
pretendidos para longos períodos de 10, 15 ou 20 anos. Por mais que fazer um
planejamento pareça algo fechado para se seguir à risca, o segredo está
exatamente em manter os processos abertos e passíveis de mudança a qualquer
momento. O futuro ainda está em construção e as companhias devem ser maleáveis
o bastante para alterar suas rotas ao longo do tempo em direção à meta pré-estabelecida.
As projeções para o longo prazo e as decisões operacionais
de curto prazo andam de mãos dadas para o sucesso ou para fracasso da empresa.
“O longo prazo e o curto prazo: ambos precisam ser tratados. O estratégico dá
norte para os objetivos, enquanto que o operacional deve contar com iniciativa,
inovação e criatividade. Quando se tomam decisões de curto prazo sem controle,
provavelmente uma empresa que era saudável entra em declínio. A saúde do
presente permite planejar o futuro”, avalia Luiz Alberto Gravina Belmiro,
Proferssor de Planejamento em Marketing da ESPM e da Estácio.
Olhar global é fundamental
A missão de compreender os rumos que o mercado vai tomar nas
próximas décadas extrapola os limites setoriais de qualquer empresa. Para aproveitar
as tendências que surgem da realidade cotidiana, as organizações devem manter
um olhar global para identificar as melhores oportunidades. “O primeiro passo
para é compreender que o mundo está mudando e colocar algumas pessoas para
analisar e entender essas transformações. Quais megatendências têm mais
influência na sua área?”, diz Peter Kronstroem, Representante do Copenhagen
Future Studies no Brasil, em entrevista ao Mundo do Marketing.
As apostas feitas no longo prazo sempre escondem perigos
inerentes à imprevisibilidade. Porém, nenhuma empresa deve ignorar às
megatendências. O caminho é encontrar quais são as mais próximas ao seu
segmento e trabalhar com maior atenção nestas, sem desprezar as outras. “Todas
as megatendências são certezas de mudança no mundo, ainda que não se compreenda
em um primeiro momento para qual lado. Não é possível se esconder de uma
megatendência. É uma obrigação saber a melhor forma de se adaptar a elas”,
aponta Peter kronstroem.
O principal perigo são os fatores externos à empresa, de
escala mundial e que podem interferir diretamente na sua forma de operar. “Os
problemas mais comuns em planejamentos de longo prazo são estes. Quando se tem
o controle da situação, tudo é possível de se contornar. Os maiores desafios
estão nos macrocenários e que não cabem à empresa controlar. Nem mesmo o
presidente da maior companhia terá controle sobre guerras, crises financeiras,
inflações, globalização ou redução de demandas”, avalia Luiz Alberto Gravina
Belmiro.
Mutabilidade programada
A distância entre o início do planejamento e a concretização
do projeto é outro ponto de atenção e os caminhos se tornam mais dinâmicos
quando são revistos periodicamente. “Não adianta ter um planejamento e não
repassar com todos os colaboradores de cada departamento, pelo menos a cada
seis meses. Por mais que o alvo esteja há 15 anos, se fizer uma reunião
periodicamente com os departamentos envolvidos é possível identificar falhas
bem no começo”, aponta Marcos Silva, Diretor da Agência CDM Marketing, em entrevista
ao Mundo do Marketing.
Até a finalização dos projetos, as organizações precisam
observar quais são as novas características que estão sendo incorporadas em seu
segmento e que ainda não fazem parte da sua realidade coorporativa, somando
eles às suas competências. “É essencial ter um planejamento de longo prazo para
alinhar as estratégias de hoje com aquelas que queremos atingir no futuro. Isso
é extremamente importante para qualquer empresa. As estratégias precisam ser
dinâmicas e todo tempo aptas a mudanças. Não existem estratégias a longo prazo
estáticas”, comenta Peter Kronstroem.
O principal erro acaba sendo a inflexibilidade por
trabalharem com a ideia de um futuro fixo. Com base neste ideal são feitos os
planejamentos, e as marcas nem sempre estão preparadas para mudar de rota
quando o cenário se altera. “O futuro não existe. O que existe são inúmeros
cenários possíveis para o futuro. Temos que analisar todas as possibilidades. O
caminho é adotar um cenário neutro, científico e menos romanceado. O
desenvolvimento sempre pode ser favorável ou desfavorável”, complementa o
representante do Copenhagen Future Studies no Brasil, em entrevista ao Portal.
Consequências da falta de planejamento e mentalidade
empresarial
A realidade de planejamentos a longo prazo no Brasil ainda é
restrita as empresas de grande porte. Em parte isto se deve a grande taxa de
mortalidade empresarial nos primeiros três anos de atuação: 50% para pequenas e
médias empresas, chegando a 70% para micro empresas, de acordo com dados do
IBGE. Por outro lado, a mentalidade que impera é a de que um planejamento
estratégico demanda muitos recursos. O olhar estratégico e a compreensão do
contexto macro do mercado, contudo, são vitais. “Não se planejar é um erro. O
pior planejamento é não fazê-lo. Se você tem um plano e não cumpre na íntegra,
pela necessidade de fazer alterações no caminho, tudo bem, pois havia um
cenário de chegada proposto. Se não existe um caminho pré-estabelecido, não se
tem trajetórias e nem metas. Sendo assim, qualquer vento leva para qualquer
lugar. Ainda que não se tenha um departamento estabelecido, existem ferramentas
digitais, que o próprio empresário pode aplicar independente do seu porte, é
uma questão de visão”, pontua Luiz Alberto Gravina Belmiro.
O planejamento efetivo, bem como o futuro remoto das
companhias, depende diretamente da cabeça dos seus diretores e da sua
capacidade de investir. É um exercício para aceitar a imprevisibilidade ea
ideia de que vários pontos do planejamento poderão não dar certo ao longo da
execução, demandando mais investimento. “Quando estipulamos prazos para que um
projeto dê retorno, existe uma dificuldade de se aceitar mudanças. O
imediatismo tende para a perda de identificação da marca, o que prejudica
muito. Um planejamento de Marketing é montado para determinado período, sendo
que as coisas mudam constantemente e um risco que sempre existe é chegar lá na
frente e perceber que todo esse planejamento ainda precisa de mais
investimento. Normalmente quando isso acontece, surge uma resistência”, aponta
Marcos Silva.
Quando a diretoria da empresa passa a compreender estas
mudanças estratégicas, o foco se volta para inovações em produtos e serviços, o
que constrói um diferencial competitivo. “Para investir no futuro, as empresas
precisam deixar de fazer mais do mesmo e compreender que o seu trunfo para se
destacar em meio às megatendências está exatamente naquilo que elas ainda não
inventaram. As tentativas e erros podem ser preciosos neste processo de
criação”, diz Peter Kronstroem.
Fonte: Mundo do Marketing
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