Funcionários empreendedores não são facilmente liderados.
Eles requerem um grau de liberdade de ação e decisão que nem sempre os chefes
podem ou querem dispor
Muito se fala sobre a necessidade de desenvolver uma atitude
empreendedora nas organizações. O assunto vem ganhando interesse e relevância
cada vez maiores, mas as discussões em torno do tema ainda são insipientes,
superficiais e com pouca consistência.
Existe uma concordância geral de que qualquer processo de
mudança de cultura só tem sucesso se a iniciativa partir da alta direção. Além
disso, ao longo de todo o processo, a diretoria também deve demonstrar
comprometimento e empenho no processo de mudança. Isso sempre aconteceu
historicamente, em projetos de reengenharia, terceirização, implementação de
tecnologias diversas, downsizing, políticas de qualidade, etc. Das estratégias
ligadas ao incentivo da inovação como fator de competitividade, a vertente mais
completa e integrada é o empreendedorismo corporativo. Trata-se de uma mudança
profunda de cultura porque mexe em todos os níveis da organização, e mexe de
forma contundente, pois desafia pressupostos, paradigmas e o status quo. Por
isso mesmo, não dá para imaginar nenhum programa de implantação de
empreendedorismo corporativo sem o apoio e comprometimento da alta
administração.
Mas este é apenas o gatilho que inicia o processo. O que na
verdade está por trás de todas as iniciativas de sucesso é o envolvimento da
gerência média. É o nível intermediário que faz as coisas acontecerem, são os
gerentes que estabelecem a ponte entre a visão corporativa e os desafios no
nível operacional. Somente os gerentes possuem consciência das realidades dos
dois lados da pirâmide hierárquica e somente eles podem consolidar ambas em
planos de ação sistemáticos e viáveis.
Entretanto, tenho ouvido com certa freqüência tristes
histórias de conflitos entre chefes e subordinados que acabam tragicamente com
a demissão do subordinado. Muitas destas histórias trazem em comum diferenças
irreconciliáveis que acabam penalizando aquele que tem menos poder político. O
curioso é que, conhecendo estas pessoas, me causa espanto o fato de eles
possuírem características que deveriam ser valorizadas e exploradas por
qualquer empresa. São dinâmicos, criativos, cheios de iniciativa, pró-ativos e
comprometidos. Além disso, são auto-motivados, geralmente bem organizados e com
facilidade de comunicação e relacionamento com colegas e pares. Invariavelmente
seus trabalhos são de uma irrepreensível qualidade e são freqüentemente
elogiados pelos clientes.
Por que então eles são demitidos? Por que acabam surgindo
conflitos que provocam tristes perdas para ambas as partes? Será que estas
pessoas não são tão boas quanto parecem? Será que sabem atender bem os
clientes, mas não os seus superiores? Será que estes chefes sofrem de miopia
corporativa? Não, acho que não é nada disso. A verdade é que estes gerentes se
sentem ameaçados quando alguém de sua equipe começa a aparecer e se destacar
mais do que ele próprio. Quando as competências do chefe são colocadas à prova
diante de seus funcionários mais talentosos, a primeira e inevitável reação é a
da auto preservação, ou seja, eliminar a ameaça.
Começam então a surgir defeitos, falhas, problemas, ainda
que imperceptíveis e pouco relevantes, ou até mesmo inexistentes. Servem como
bode expiatório que são devidamente potencializados sob os argumentos dos
respectivos chefes. A natureza humana é naturalmente resistente a críticas, por
mais construtivas e isentas que possam parecer. Isso faz com que os chefes não
aceitem alguns comportamentos típicos de funcionários empreendedores, que
questionam as regras, o status quo, os paradigmas pré-existentes. Muitos destes
gerentes ainda acreditam que a melhor liderança é a autoritária, com decisões
unilaterais e arbitrárias. Para eles, o funcionário ideal é aquele que obedece
sem questionar e se desdobra para atender desmesuradamente todos os seus
desejos e vontades.
Funcionários empreendedores não são facilmente liderados.
Eles requerem um grau de liberdade de ação e decisão que nem sempre os chefes
podem ou querem dispor, são como cavalos selvagens que se revoltam contra as
amarras impostas que os impede de evoluir e seguir o caminho que escolheram.
Por isso que tantos talentos ‘pulam’ de empresa em empresa.
Um pouco deste fenômeno se deve ao seu comportamento irascível e questionador,
mas uma boa parte é atribuída ao sentimento de ameaça que o gerente sente sobre
seu cargo e sobre suas ‘verdades absolutas e inquestionáveis’. A recorrência
das demissões é diretamente proporcional à resistência deste empreendedor
interno em se sujeitar às regras corporativas. Ele só vai encontrar o seu
caminho quando tiver a sorte de se deparar pela frente com uma organização que
cultiva o espírito empreendedor ou quando o seu futuro chefe valorizar a
atitude empreendedora. E isso só vai acontecer se ele mesmo detiver tais
características empreendedoras, pois só sendo um empreendedor que se poderá não
só compreendê-lo, mas conduzi-lo.
Normalmente o empreendedor corporativo típico se sente um
pouco frustrado e confuso quando é demitido sem uma causa razoável, mas ele
logo se firma novamente sob suas convicções, retoma a confiança em si e
recupera o otimismo que o ajuda a se recolocar rapidamente no mercado. Alguns
deles, porém, gostam da empresa, gostam do seu trabalho, apreciam o ambiente e
têm esperança de crescer lá e colher valiosos frutos para sua vida e carreira.
Quando eles encontram chefes não-empreendedores, precisam aprender a
gerenciá-los para preservar o seu emprego e os objetivos a ele relacionados. E
a regra básica para estes casos é ‘Não brilhe mais do que o seu chefe!’.
Fonte: Administradores
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