O Capitalismo
O Capital transforma tudo em mercadoria, isto é, algo
objetivamente mensurável e substituível por uma abstração quantitativa - o
dinheiro. Nem mesmo o ser humano conseguiu escapar. Ser prático e objetivo,
autocriador, o homem foi alienado de sua essência sob o domínio do Capital.
O atual estado de coisas (nos EUA e na Nova Zelândia, no
Chile e na Inglaterra, em Portugal e no Japão, na África do Sul, em Cuba e no
Brasil - resumindo, no mundo inteiro) caracteriza-se por terem sido normalmente
abolidas a escravidão e a servidão. Todos os homens são livres e iguais,
enquanto vendedores e compradores de mercadorias. Conseqüentemente, aqueles que
não têm mercadorias para vender (que outrora seriam escravos ou servos e que
agora são os proletários, a quase totalidade da população) são forçados a
escolher: a morte ou a venda do que ainda lhes pertence, os braços, as mãos, os
pés, o sentimento, o raciocínio, os gestos... sua essência humana, sua
atividade vital, sua existência criativa, sua força-de-trabalho em troca de um
salário.
Desse modo, o ser humano é constrangido a aceitar a mais
desigual das trocas: a da vida pela sobrevivência, sendo forçado pela
necessidade a fazer de suas aptidões um objeto de consumo e vendê-las no mercado
de trabalho. Tendo conseguido vender sua força-de-trabalho, a realização do
proletário se torna sua desrealização, a afirmação do proletário se torna a
negação de si como homem, pois o trabalhador não age como ser humano, mas como
força-de-trabalho, como mercadoria, subordinado à vontade do capitalista, em
troca de um salário.
O capital reduz toda atividade humana a trabalho e toda
realização do ser humano a mercadoria. Tudo que os trabalhadores fazem existir
por meio de suas atividades (alimentos, ruas, cadeiras, poemas, meios de
produção, computadores, casas...) é radicalmente separado deles e se torna
propriedade privada do que ou de quem comprou sua força-de-trabalho. Com isso,
a atividade dos homens se coagula numa esfera separada, que se volta contra os
próprios homens que a produziram, sua alienação é total. Nessas condições,
quanto mais os homens transformam a realidade (todos os aspectos do mundo),
tanto mais essa realidade se torna estranha e hostil para eles, tanto mais eles
se sentem estranhos em seus próprios atos e hostis para si mesmos, enquanto
reproduzem ampliadamente sua própria condição de vendedores da
mercadoria força-de-trabalho, desvalorizando-se ao produzir
mais-valia. Essa crescente reedificação da atividade passada (trabalho morto),
que suga a atividade viva do trabalhador é o Capital, cujos proprietários - os
capitalistas - podem ser indivíduos (como nos EUA, Brasil etc.) ou Estados (em
Cuba, China, Coréia do Norte etc.).
A recorrente crise econômica que impregna a
"globalização" demonstra que o atual desenvolvimento das forças
produtivas não mais permite que o valor, em escale mundial, seja produzido e
mensurado pelo trabalho vivo, que, com a aplicação da robótica e da
micro-eletrônica, tende a ser anulado no processo produtivo. Portanto, o
dinheiro começa a perder seu fundamento, fica "sem pé nem cabeça" e a
crise se agrava ininterruptamente. Doravante, a sobrevivência do Capital é sua
autofagia, sua autodestruição - ele já não pode dar um passo sem tropeçar nas
próprias pernas. Desse modo, a luta pela abolição revolucionária do trabalho,
hoje uma necessidade óbvia, não pode mais ser acusada de utópica, uma vez que o
apitalismo mal sobrevive à lembrança espectral dos "tempos
prósperos".
No atual estado de coisas, toda reforma é simples maquiagem
da crise do Capital. É o próprio capitalismo que torna sua condição de
possibilidade, o trabalho assalariado, impossível. Portanto, a revolução social
é a única perspectiva, além de humana, realista e necessária. Trata-se, nada
mais nada menos, de o ser humano se auto-instituir como única medida de todas
as coisas, abolindo o dinheiro, o trabalho e o Estado. Trata-se, pois, de
efetivar a comunidade humana mundial, na qual as forças produtivas disponíveis
serão direcionadas para realizar concretamente os seres humanos em suas
atividades, como tais: poesia, gozo, arte, inseparáveis entre si e da vida como
um todo. A economia e a política serão extintas, juntamente com as demais
esferas separadas, alienadas e especializadas, com a destruição do Estado e a
supressão do Capital. A essência humana será a comunidade dos indivíduos
livremente associados, na cotidiana atividade de transformação das
circunstâncias e de si mesmos, atividade que enfim lhes permitirá tornarem-se
seres humanos, com e para os outros.
O Trabalhador Capitalista
O trabalho sempre esteve presente na história da humanidade,
sendo seu objetivo inicial, sobrevivência. Porém, com a Revolução Industrial,
passou-se a o lucro e para obtê-lo era preciso mão-de-obra de baixo custo, fato
que teve como conseqüência à exploração dos trabalhadores.
Essas características pertencem ao modo de produção
capitalista, que se consolidou na Inglaterra, através da primeira Revolução
Industrial, que ocorreu no final do século XVIII e foi possível graças ao
acúmulo de capital, conquistado através do mercantilismo. A partir daí, surgem
às fábricas, há o uso de máquinas a vapor, ocorre uma maior divisão do trabalho
e, conseqüentemente, o aumento da produção. O capitalismo desde sua origem é um
sistema de exploração da mão-de-obra, pois já nessa época houve a concentração
de riquezas nas mãos dos grandes proprietários capitalistas.
Na segunda metade do século XIX, houve a segunda Revolução
Industrial, a qual foi a inserção de outros países nesse processo,
proporcionando assim, a expansão do capitalismo, sendo a passagem do
capitalismo competitivo para o monopolista, com formação de grandes empresas e
a fusão do capital bancário com o capital industrial. Houve o progresso
técnico-científico, possibilitando o desenvolvimento de novas máquinas,
utilização do aço, do petróleo e da eletricidade, evolução dos meios de
transporte e expansão dos meios de comunicação.
Na década de 1970, de acordo com MAGNOLI (1995) ocorreu a
terceira Revolução Industrial, a qual alterou o panorama produtivo mundial,
devido ao surgimento de tecnologias microeletrônica e da transmissão de
informações sobre a automatização e robotização dos processos produtivos. Além
disso, surgiram novos ramos industriais, como a indústria de computadores e
softwares, telecomunicações, química fina, robótica e biotecnologia, os quais
caracterizam-se por utilizarem mão-de-obra qualificada.
Deste modo, as indústrias se difundem por todo o mundo em
busca de mercado consumidor, matéria-prima mais barata e acentua-se a
exploração do trabalhador, visando a acumulação de capital. Segundo COHN &
MARSIGLIA (1999, 59) o controle do processo de trabalho é importante para esta
acumulação devido ao fato de os trabalhadores produzirem através de formas cada
vez mais avançadas de divisão do trabalho.
De acordo com MARX apud COHN & MARSIGLIA (1999, 60) com
a dinamização do processo de produção, passou-se a investir em uma organização
de trabalho mais lucrativa, visando uma maior produção em um menor tempo.
Momentos característicos do processo de trabalho na história
do modo de produção capitalista:
Cooperação Simples - o trabalhador executa diversas
atividades, correspondentes às do artesão, utilizando ferramentas deste. O
controle capitalista ocorre devido à relação de propriedade, utilizando-se da
força de trabalho comprada pelo dono da mesma.
Manufatura - Há nova divisão do trabalho, na qual os
trabalhadores executam tarefas parceladas, dando início a uma desqualificação
do trabalho e aumento da produtividade, ocorrendo à separação entre concepção e
execução do trabalho.
Maquinaria - Acentua-se a divisão entre concepção e execução
do trabalho, há inserção de máquinas no processo de produção, ocorrendo
desqualificação do trabalhador, uma vez que realizam tarefas isoladas,
impedindo de conhecer todo o processo de trabalho “.
Devido a essas características, a maquinaria possibilita
diferentes formas de divisões e organizações do trabalho:
Maquinaria Simples - O trabalhador mantém algum controle no
seu ritmo de trabalho, tendo liberdade para acionar as máquinas, fato que é
estimulado através de remuneração por produção.
Organização Científica do Trabalho - O ritmo de trabalho é
determinado pela máquina, ocorrendo separação extrema entre concepção e
execução do trabalho. No Taylorismo há a redução máxima do tempo gasto para
executar cada tarefa, fracionando o processo de trabalho em tarefas simples. Já
no Fordismo há um ordenamento seqüencial de tarefas, utilizando-se de uma
esteira, que define o ritmo de trabalho."
Automação - Este item foi incluído neste processo por
Freyssenet, uma vez que através do desenvolvimento técnico-científico, a função
do trabalhador se restringe a vigilância do processo produtivo.
Teorias Modernas de Administração
Defendem a tese que o homem tem necessidades básicas e
psicos-sociais. Propõem a participação do mesmo no processo de organização da
produção, incentivando a comunicação, desenvolvendo a motivação no trabalho,
descentralização nas decisões, delegação de autoridade, consulta e participação
dos trabalhadores.
Para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade,
passou-se a utilizar princípios da administração japonesa na organização do
trabalho, sendo este um novo paradigma de produção industrial, iniciado na
década de 60. Este é denominado de Toyotismo e segundo Bezerra Mendes (1997,
57) "pressupõe a polivalência dos trabalhadores, a fabricação de produtos
diferenciados, a responsabilidade com o mercado e uma estrutura organizacional
que comporte mudanças e inovações constantes, bem como a mudança da relação social
no trabalho e a participação dos trabalhadores no sistema produtivo".
Para Bezerra Mendes (1997) a participação dos trabalhadores
nas decisões e transformações referentes à organização do trabalho é essencial
à promoção da saúde mental, bem como para a melhoria da qualidade de vida no
trabalho e do trabalhador.
Destaca-se que há algumas condições da flexibilização na
organização do trabalho que proporcionaria maior qualidade de vida no trabalho,
como:
A integração e globalização dos processos, métodos e
instrumentos de trabalho;
O conteúdo significativo das tarefas, a autonomia, o uso das
competências técnicas e da criatividade;
As relações hierárquicas baseadas na confiança, cooperação,
participação e definição de regras pelo coletivo de trabalhadores".
Essas condições contrapõem os modelos de organização do
trabalho clássicos, fazendo com que através do novo paradigma, os trabalhadores
sintam-se integrantes do processo produtivo, valorizando suas tarefas,
aumentando sua auto-estima e contribuindo para melhorar sua qualidade de vida e
satisfação no trabalho, deixando de ser apenas uma mercadoria.
Fonte: Cola da Web
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