É recorrente a quantidade de jovens profissionais da
enérgica geração Y enfrentando frustração na primeira década de carreira
profissional. A mentoria dos Y é necessária, mas poucos X e Baby Boomers se
dispõem a fazer por pura insegurança, medo de perder o posto
Nesses trinta anos de carreira, tenho lido muita coisa sobre
Geração Y no mercado de trabalho. O assunto está saturado. Fala-se que os Y têm
muita ambição, que são muito rápidos, que por terem nascido numa geração na
qual as tecnologias de informação evoluíram muito rapidamente, não têm
paciência para esperar a conclusão de processos. Fala-se que os Y não têm
lealdade com os empregadores. Quando enxergam uma oportunidade muito melhor em
outro lugar, não pensam duas vezes, vão trabalhar na concorrência, porque não
focam a organização, mas apenas o sucesso pessoal. É dito que os Y desejam
ocupar as diretorias de alguma grande organização em tempo recorde, por isso
esperam uma ascensão vertiginosa na carreira. Enfim, tudo isso bate na mesma
tecla como aquele velho disco de vinil arranhado que tocava sempre a mesma
linha de uma faixa musical, algo com que os Y tem pouca familiaridade e os Z
nenhuma.
Anos atrás, o Jornal da Globo apresentou uma série de
reportagens intitulada: "Gerações no Mercado de Trabalho", que tenho
usado em classe muitas vezes. Esta série explica as diferenças de comportamento
entre os empregados de várias empresas pertencentes às três gerações: Baby
Boomers (nascidos após a Segunda Guerra), Geração X (nascidos a partir da
década de 60) e Geração Y (Yuppies - Young Urban Professional - nascidos a
partir dos anos 80). As empresas que alcançaram maior sucesso em seus modelos
de gestão são aquelas que aprenderam a harmonizar as habilidades
características de cada geração na gestão por competências dentro da empresa.
Ou seja, habilidades e comportamentos, velhos integrantes do CHA da gestão por
competências, são cada vez mais requeridos dos profissionais, nas organizações
contemporâneas, mais até que os conhecimentos.
A realidade não mudou tanto desde que as reportagens foram
exibidas pela primeira vez, embora, na época, elas tenham-se antecipado,
mostrando tanto o funcionamento de empresas criadas por empreendedores Y – como
o Facebook, de Mark Zuckerberg – quanto o formigamento da geração Z, que já
ocupa os espaços no mercado de trabalho como jovens aprendizes e estagiários.
Todavia, alguns aspectos estão “evoluindo” noutra direção.
Nos estudos mais recentes mostra-se que o processo de frustração com o
desenvolvimento da carreira profissional da Geração Y tem crescido bastante.
Como uma geração autora de ideais tão ousados que nós, os X, nunca sonhamos, e
que os Baby Boomers facilmente classificariam como delírios, pode experimentar
tamanha frustração com a carreira ainda tão promissora?
Dois anos atrás li um artigo que trazia um curioso título:
"Os Y estão envelhecendo". Falava da forma como o Google começou a
mudar alguns processos internos por perceber que uma postura mais madura era
demandada no mercado.
Craig Groeschel, analista de TI, desenvolvedor de Softwares,
conferencista do SUMMIT, autor de vários livros e um CEO cuja faixa etária é
limítrofe entre a geração X e a geração Y, confirmou uma percepção que eu já
tinha disseminado entre alguns Y, que não ficaram felizes com o que eu falei:
vocês precisam de mentores, para isso, sejam mais humildes. Permitam-se serem
ensinados.
Ano passado, deparei com outros dois artigos. O primeiro:
uma reportagem da Época de 2012, que se tornou viral, falando do discurso de
David McCullogh, professor numa escola americana, em plena formatura de seus
alunos de ensino médio. McCullogh repetiu 9 vezes, num discurso de 13 minutos,
a seguinte frase: vocês não são especiais!
Nestas três abordagens ficou claro que a sensação de ser
muito especial tem levado os Y à frustração quando a carreira não acompanha a
expectativa gerada pela sua autoimagem. O segundo artigo de 2013 trazia a
pesquisa de Paul Harvey, professor da Universidade de New Hampshire, EUA,
expert em GYPSYs (uma categoria especial de Yuppies - Gen Y Protagonists &
Special Yuppies). A constatação dizia o seguinte: os jovens profissionais da
Geração Y estão infelizes.
Entre os principais alavancadores de frustração foi listado
um fator pouco percebido pela própria Geração Y: o Facebook está atormentando
todos os Y que não ascendem tão rapidamente na carreira. Mostrou-se que o FB
coopera aumentando a frustração, transformando a vida do Y num “reality show”.
Nestes espaços as pessoas apresentam versões maquiadas da própria realidade e
publicam apenas aquilo que “vende” uma imagem de sucesso em todas as áreas da
vida. Os que publicam fotos de carreiras muito bem sucedidas e que condizem com
a realidade, pressionam os que estão se sentindo fracassados.
Na minha experiência, como mentora de Y, duas coisas que
muito tem prejudicado a Geração Y na carreira, além das já mencionadas são: a
falta de foco e a falta de sabedoria com o uso da informação a seu favor.
Em seu livro "Administração na era das grandes
transformações", Peter Drucker disse algumas coisas muito interessantes
sobre gestão de carreiras: " A empatia é uma competência prática. Há anos
venho defendendo esse tipo de autoconhecimento, mas agora ele é essencial para
a sobrevivência. O segredo para a produtividade dos trabalhadores do
conhecimento é fazê-los se concentrar na tarefa real"
Quando estive no Drucker Institute ano passado, constatei
que no hall de entrada estão estampadas as frases mais famosas do pai da
administração moderna e uma delas é: “Focus, focus, focus”. Tão óbvia, mas tão
difícil de pôr em prática.
Foco e alteridade. Dois valores muito interessantes para
serem fixados no planejamento de carreira
como competências a serem desenvolvidas, principalmente quando se sabe
que na sua cultura a alteridade não foi um valor muito bem desenvolvido e a
internet com suas inúmeras atrações muitas vezes dispersa a atenção que deveria
estar no foco.
Se você se identificou com esta realidade, e percebeu que
precisa desenvolver algumas competências, é hora de fazer um upgrade no seu
planejamento de carreira, ou realizar um planejamento consistente pela primeira
vez. E corra! Se o ano começa depois do carnaval, já estamos "na
pista".
Fonte: Administradores
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