Pretende-se abordar no decorrer da pesquisa, uma das mais
novas técnicas de seleção - a Seleção por Competências - por meio da qual, além
do candidato ser analisado por seu currículo, ou melhor, por seus
"feitos" anteriores, também será analisado por seus comportamentos,
sua postura diante de determinadas situações, sua visão do futuro, entre outros
aspectos relevantes.
O conceito de "competência" não é novo. Remonta a
alguns séculos, provavelmente desde a época de aprendizes de artesãos na Idade
Média. A evolução deste conceito, e o seu emprego pela área de recursos
humanos, têm sido muito debatido. Num mundo cada vez mais competitivo, pessoas
e organizações precisam mostrar melhores qualificações e resultados. Precisam,
portanto, desenvolver suas competências (REZENDE, 2000). Por isso, as
organizações tendem a buscar métodos mais humanos de seleção.
A competência das empresas é a soma das competências de suas
pessoas. Quando se fala em competência, estamos tratando de um termo
suficientemente abrangente que envolve conhecimento, habilidades, atitudes,
valores, emoção, intenção e necessidades; nas palavras de Resende (2000, p.
29):
Competência assim como qualidade e melhoria contínua – é uma ideia antiga, reconceituada e revalorizada no presente, como resultante de movimentos econômicos e culturais [...]". Porém não há como falar em competência sem antes definir conceitos básicos de conhecimento, aptidão e habilidade.
Ainda segundo o mesmo autor, "conhecimentos são
informações, ideias e noções de domínio das pessoas, acúmulo do saber,
aprendizado, experiência”. (RESENDE, 2000, p.36). Portanto, o conhecimento
sempre foi um valor importante, porque quem o possui, apresenta maior potencial
de realização profissional, tem mais possibilidades de aplicá-lo na vida, no
trabalho e, tudo isso, com muito mais chances de satisfação e sucesso.
Quanto à aptidão, pode-se dizer que é uma característica ou
recurso inato, como mostra Resende (2000, p. 37): "[...] diz respeito
principalmente às características ou atributos físicos, fisiológicos, mentais
ou intelectuais, de personalidade, temperamento ou caráter".
Já a habilidade pode ser caracterizada pelas próprias
palavras de Resende (2000, p. 37): "o conceito de habilidade está mais
relacionado com a maneira de executar tarefas, aplicar conhecimentos, de agir,
de pensar". A habilidade favorece a aplicação da competência e da aptidão.
Ter a condição de raciocinar significa ter aptidão; ter
agilidade de raciocínio significa ter habilidade. Ter a condição de falar é uma
aptidão; falar com clareza e objetividade é uma questão de habilidade. A
habilidade é mais possível de ser treinada ou aperfeiçoada do que a aptidão.
Com os conceitos explanados acima temos embasamento para
dizer que competência, na visão de Resende (2000, p. 38) "é a aplicação
prática de conhecimentos, aptidões, habilidades, valores, interesses – no todo
ou em partes – com obtenção de resultados".
Existem diversos conceitos de competência, como mostra Joel
Dutra apud Resende (2000, p. 30) "competência é a capacidade de
transformar conhecimentos e habilidades em entrega".
Já Boyatzis apud Resende (2000, p. 30) define
"competência no trabalho é uma destacada característica de um empregado
[...] que resulta em efetivo e/ou superior performance".
Tantas definições só vêm mostrar que a competência é
possível de se aprender. Essa aprendizagem pode ser através da educação formal
ou mesmo através do treinamento.
Em uma visão mais prática a competência flui de forma
natural unindo-se os conceitos adquiridos na educação formal aos da vida
profissional; nada mais completo do que aprender com a experiência
profissional. Cabe ainda ressaltar que o homem só é competente no que faz,
quando gosta do que faz (CARVALHO, 1997).
Nota-se ainda, pelos conceitos citados que existem grandes
diferenças entre competências e habilidade, pois competência é um conjunto de
conhecimentos e sua aplicação e habilidade é apenas mais um conhecimento, uma
técnica desenvolvida.
Acrescenta-se a constatação de que as pessoas somente
aumentarão suas competências nas organizações, de forma sistemática e
crescente, se estas dispuserem de dinâmicos e eficazes planos, programas e
ferramentas de gestão de pessoas por competências. O desenvolvimento de
competências não acontece sozinho, sem forças impulsionadoras (REZENDE, 2000).
Diga-me como te comportas...
O currículo é importante, mas não suficiente para se
conhecer um candidato. De acordo com a Argentina Alejandra Figini, que chegou
em maio de 2004 para ser a diretora-geral da Adecco no Brasil, a análise de
competências relacionadas à conduta pode revelar aspectos importantes do perfil
de um profissional e sua compatibilidade com o cargo a ser ocupado. A diretora
explica que, ao utilizar um método que verifica como o candidato reagiria a uma
determinada situação, pode-se vislumbrar o futuro da relação empresa-funcionário,
em vez de apenas se efetuar uma contratação com base no histórico de um
profissional. Para isso, o candidato é submetido a dinâmicas de grupo que podem
durar até três horas. "
Com esse tempo, fica difícil o candidato interpretar um personagem”.
Alexandra é especialista em gestão de competências e autora do livro A
Inteligência Emocional Aplicada aos Recursos Humanos, recém-lançado na
Argentina.
O aspecto da competência tem sido mais valorizado nos
processos de seleção
A teoria das competências não é nova em recursos humanos. Há
muitas coisas escritas sobre isso desde os anos 60. Na América Latina, o tema
tem sido mais falado nos últimos dez anos, mas tenho a percepção de que, de
dois anos para cá, as empresas têm aumentado o número de pedidos de
preenchimento de vaga com esse tipo de metodologia.
Menos de 10% das vagas são requeridas por esse sistema, mas
isso já é bem mais do que nos últimos dois anos. É algo que está crescendo,
embora não seja ainda uma tendência generalizada.
O que muda na abordagem em uma seleção por competências
Numa entrevista tradicional, existem as perguntas
retrospectivas, referentes ao passado da pessoa: "Quantos anos trabalhou
num lugar? Quais as tarefas e responsabilidades?" Numa seleção por
competências, o objetivo não é fazer um histórico da pessoa, mas um
levantamento de suas principais condutas. Para isso, as perguntas podem ser
direcionadas tanto para o passado quanto para o futuro. Por exemplo: num
conflito de equipe, que ideias ela tem para resolver aquela situação. Existem
entrevistas em que a pessoa fala de situações já vivenciadas: uma decisão que
tomou no passado, como se sentiu e quais suas reações. E oferecemos a
oportunidade de dizer o que ela mudaria. A esse tipo de pergunta a pessoa
responde com conduta, não com feitos do passado. Se eu pergunto qual a situação
mais estressante que já viveu e ela me conta, por exemplo, que teve uma
discussão com a diretoria e isso resultou na sua demissão, pergunto o que ela
faria se pudesse reviver a situação. A pessoa pode falar: "A mesma coisa,
pois considero que os meus princípios morais são os mais importantes" ou
"tenho de mudar meus níveis de negociação e se acontecesse de novo eu
tentaria falar de uma outra maneira, ligar para outra pessoa". Daí pode-se
perceber o que a pessoa aprendeu com as situações do passado.
Na psicologia tradicional, tampouco há o que é certo ou o
que é errado. Uma pessoa, pela psicologia tradicional, pode ser classificada
como obsessiva, mas as bibliotecas estão repletas de obsessivos, porque fazem
bem esse trabalho, que requer atenção, repetição. Na psicologia tradicional, e
mais ainda na psicologia por competências, você está mais orientado para o fato
de não haver certo e errado, mas gente que combina com um posto ou outro.
Nos últimos dez anos, tem sido liderança. Até para cargos
que não requerem liderança. Nosso primeiro conselho é fazer uma revisão das
competências de condutas para um tipo de posto. Existem algumas modas nas
empresas, como pedir liderança e criatividade para todos os cargos. Mas uma
recepcionista não precisa ser líder, nem ter criatividade. Precisa ter um bom
atendimento com o público e um bom relacionamento com os demais funcionários.
Mas os pedidos mais freqüentes são liderança, criatividade e orientação ao resultado.
A capacidade de relacionamento
Essa é uma competência de conduta difícil de detectar num
processo de seleção se você não tem previamente cadastradas as competências do
grupo com o qual a pessoa vá trabalhar. Relacionamento depende das competências
do grupo. Daí a necessidade de se fazer uma interação mais profunda.
A seleção por competência é usada em países da América
Latina
Está espalhada pela América Latina. Mas há alguns países que
estão mais avançados com a seleção por competências, como Chile, Argentina e
Colômbia, que têm universidades de RH muito sólidas e uma difusão de métodos
mais generalizada para as companhias. Não tenho, ainda, informações suficientes
para falar sobre o Brasil, mas, pelo que tenho visto, está mais ou menos no mesmo
nível. O que acontece é que a América Latina tem muito mais desenvolvido esse
projeto do que os EUA. As crises internas dos países fazem com que as pessoas
tenham mais demissões nos currículos quando, na realidade, fizeram um bom
trabalho. Mas foram demitidas por causa da economia, do fechamento de empresas,
das fusões, por causa de mercados instáveis. Em países com economias mais
estáveis, é menos comum ver pessoas demitidas. Então, é preciso levar em conta
algo mais que o currículo para não prejudicar nem pré-julgar uma pessoa.
Há gente da América Latina falando em gestão por
competências no mundo todo. Foi algo desenvolvido a partir de uma necessidade.
Em mercados mais estáveis, como EUA e França, se um diretor-geral faz um mau
trabalho, você pode ver isso no resultado da companhia. Mas quem no Brasil pode
falar que se uma empresa for mal foi por causa de um mau desempenho de um
diretor-geral? Há muitos fatores mais. Pode acontecer de uma empresa financeira
quebrar e o diretor-geral ter feito um bom trabalho. Então, o processo seletivo
é mais complicado.
O coaching informal, que é ficar mais próximo do empregado
para ensinar, é muito mais comum na América Latina do que em outros mercados.
Todos que têm cargos ligados a pessoas têm mais desenvolvidas as questões de
treinamento e desenvolvimento. É algo muito mais incorporado ao processo da
companhia. Por outro lado, todas as competências que se refiram a resultados
são as mais fracas. Ainda é comum ouvir nas empresas: "É um bom empregado,
mas nunca conseguiu resultados”.Pelo caráter latino, nosso conceito de bom ou
mal tem um componente afetivo. Não somos muito bons fazendo avaliações
objetivas de pessoas e isso repercute na organização. Muitas vezes,
profissionais ascendem ou ficam no mesmo posto por opiniões subjetivas, que são
mal interpretadas como competências de conduta.
As empresas tem se interessado mais pela seleção da
competência
Mais nos níveis de trainee e em programas para jovens
profissionais. E há um predomínio no ramo de serviços, até porque é nesse setor
que se pode ver mais claramente o impacto da competência no resultado. A
indústria ainda não está fazendo tanto, pois ainda é mais ligada à experiência
técnica. Quero deixar claro que, se você precisa de um diretor financeiro, vai
examinar o currículo dele. No processo de seleção por competências, além de
analisar o currículo, o foco está nas atitudes, sem descartar o aspecto
técnico. Mas, se você põe o foco na atitude, não faz diferença se a pessoa tem
cinco ou sete anos de experiência.
Medir a experiência pela quantidade de anos é muito injusto.
Imagine dois candidatos: um ficou numa empresa por cinco anos e, nesse tempo,
houve três aquisições, fechamento de dez filiais e depois abertura de 30
escritórios. O segundo candidato ficou dez anos numa empresa que não passou por
nada assim. Quem tem mais experiência como diretor financeiro? Na turbulência,
você aprende. Não se mede experiência por cronologia, mas por riqueza de
vivências.
Fazemos primeiro uma avaliação técnica. Todas as pessoas que
passam vão para a seleção por competências. O cliente só vê pessoas
tecnicamente aptas.
Corre-se o risco, se houver falha. Na entrevista por
competências, você não faz com que a pessoa conte alguma coisa, mas que
vivencie uma situação conduzida de forma que ela tome uma decisão. Ela pode
mentir em algum fundamento, mas nós colocamos o foco na decisão final, sem nos
importarmos muito com os motivos alegados. Isso na fase da entrevista. Depois,
há uma etapa em que tem de haver uma resolução de casos em grupo, em que é
praticamente impossível que a pessoa minta. Tenho seis anos de experiência com
essa técnica e posso afirmar que é uma das experiências mais válidas que
existe, desde que seja uma dinâmica de grupo bem-feita. E, para pessoas
familiarizadas com a técnica, é fácil perceber quando alguém está atuando.
A questão da ética numa seleção por competências
Você não pode tachar de antiética uma pessoa que está
tratando de conseguir um emprego. Ela está fazendo o melhor que pode com a
informação que tem.
Na consultoria que fazemos, ficamos todo o tempo com as
pessoas, um observador fica com o cliente e, após a dinâmica grupal, tomamos a
decisão com ele, tratando de esclarecer pontos que uma pessoa não-treinada na
técnica não é capaz de olhar. Decisão sempre tem mais a ver com empatia do que
qualquer outra coisa. Em 90% dos casos, a pessoa mais apta não é a contratada.
Tem muito a ver com os medos pessoais do futuro chefe dessa
pessoa. Como o chefe acompanha as dinâmicas, acho que existe um fantasma de
"não vou chamar o melhor, porque pode ser ainda melhor que eu". Isso
é uma questão totalmente inconsciente. No começo é assim: "Ah, o candidato
tal é o melhor", mas, quando o processo vai avançando, a decisão recai
sobre um outro.
Em pesquisa de clima organizacional que a satisfação aumenta
quando há uma compatibilidade de competências entre as pessoas. Isso é fato.
Mas não podemos corroborar a efetividade das pessoas. Até porque a entrevista
para emprego é uma situação de venda, em que a pessoa também recolhe a
informação da empresa. Às vezes, ela participa de uma entrevista não
tradicional, de uma dinâmica com a presença de clientes, mas, quando ingressa
na companhia, percebe que as competências só foram utilizadas no processo
seletivo. As promoções ocorrem por tempo de casa, os critérios de remuneração
não condizem com um desenvolvimento comportamental. A pessoa fica decepcionada
e vai embora. O sistema de competências abrange todas as áreas da gestão de RH.
Se você tem um sistema de seleção por competências, é justo
que a avaliação de desempenho também seja por competências. Às vezes, uma
empresa tem um sistema de recrutamento e seleção modernizado, mas o resto da
estrutura de RH não está na mesma altura. Aí ocorre um gap entre as
expectativas do candidato e a realidade da companhia. Isso também produz turnover.
Dependendo da taxa de desemprego do país. Na Argentina, por
exemplo, quando tivemos uma boa situação financeira e emprego, nas empresas com
uma gestão por competências o turnover era menor. Mas há muita gente, hoje, que
não se desliga do emprego porque sabe das poucas oportunidades no mercado.
Posso afirmar que os testes técnicos tradicionais não têm qualquer relação com
a efetividade das pessoas no trabalho - e quase 90% dos profissionais de RH
sabem disso -, mas permanecem porque são procedimentos internacionais ou
aplicados há muitos anos. É preciso mudar uma ideologia para mudar o processo
de recrutamento.
Há uma frase boa em RH, que diz que as pessoas são
contratadas por suas competências técnicas e demitidas por sua incapacidade
pessoal. Seleção por competências trata de minimizar a possibilidade de erro
nesse aspecto. Mas essa mudança no conceito de RH é muito mais do que fazer uma
dinâmica de grupo. Tem de haver uma coerência entre os processos de RH.
Exemplo do Mc Donald’s na contratação
Dentro das competências uma premissa é reconhecer que existe
várias combinações de características pessoais e comportamentos que produzem
alta performance.
Um candidato não precisa apresentar todas as características
do Modelo de Competências McDonald’s, mas sim uma combinação especifica delas.
Na entrevista de seleção de novos funcionários o gerente tem
que assumir o papel de repórter, atrás dos fatos. A Missão do entrevistador é
conseguir informações objetivas que mostrem a existência ou não das competências.
Dicas de Observação numa entrevista:
Eu (não nós, ou a gente). Fatos específicos, comportamento
passado, clareza em eventos passados.
O que fazer para conseguir informações objetivas:
O que você fez? O que você disse? O que você pensou pensou?
pedir para contar um diálogo.
O que não fazer para conseguir informações objetivas.
O porquê que você fez? O porque que você disse? Fazer
perguntas que direcionam respostas.
Conclusão
Na seleção por competência o grupo aprendeu que o mais
importante são as habilidades e conhecimentos que vamos adquirindo ao longo de
nossas vidas. Através da nossa educação e valores que nossos pais nos passam.
Na escola aprendemos a trabalhar em equipe, exercer nossa liderança perante os
trabalhos escolares e criar nosso círculo de amizades.
Na empresa passamos a compreender melhor a relação chefe x funcionário,
e nosso comportamento passa a ser de um grupo em busca de resultados.
O sistema de competências tem que abranger todas as áreas de
gestão de RH. Se você tem um sistema de seleção por competência, é justo que a
avaliação de desempenho também seja por competências.
Fonte: Cola da Web
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