sábado, 26 de abril de 2014

Riscos dos líderes que se tornam mitos ou personagens

Cuidado com os "gurus” produzidos pela mídia e meios de comunicação. Em geral são volúveis e passageiros. Evoluir como pessoa e profissional é um processo de reflexão e provocações permanente




Um tema sobre o qual pretendo propor uma reflexão neste artigo é um contraditório que tem caracterizado o mundo contemporâneo. Refiro-me ao fato de que, constantemente, temos lido e ouvido declarações de que nos faltam novas lideranças políticas ou econômicas que possam transmitir alguma credibilidade ou segurança para o enfrentamento dos desafios provocados pela crise mundial que se iniciou em 2008.

Mas, por outro lado, é cada vez maior o surgimento – bastante estimulado pelos diferentes canais de comunicação e literatura em geral – de lideranças corporativas que devem ser admiradas, enaltecidas e até imitadas. Muitos, inclusive, são rapidamente colocados na qualidade de referência, ou, adicionalmente, transformados em novos “gurus” da administração de empresas.

É evidente que o contraste entre o mundo político e o universo corporativo, até mesmo pelas características muito próprias de cada um, não representa em si a questão central do que aqui desejo tratar. É suficientemente óbvio de que as características para uma liderança, requeridas em cada um destes universos, exige perfis e habilidades bastante distintas.

O que acredito mereça uma análise mais ampla e profunda, é o fato de que muitas destas figuras corporativas – sejam eles empreendedores, empresários ou altos executivos – com alguma facilidade e rapidez, tem se tornado mitos ou personagens. Na maioria das vezes com uma imagem construída de forma muito dissociada – ou sem muita coerência - com sua identidade pessoal.

Eis alguns dos riscos que figuras humanas “normais”, representam ao serem transformados, ou se transformem, em mitos ou personagens.

- Em geral são pessoas que atuam de forma muito solitária e utilizam a equipe de colaboradores, exclusivamente, para seus fins e interesses;
- Utilizam todos os meios possíveis para chamar a atenção do mercado, meios de comunicação e eventos públicos como meio para fortalecer sua imagem de pessoa diferenciada dos demais;
- Uma significativa maioria não forma equipes. Adestra seguidores.
- Mantém uma forte preocupação em “deixar a SUA marca”
– bastante personalizada - por onde passa e nos empreendimentos que realiza;
- Não manifesta nenhuma preocupação ou atitude no sentido de treinar, educar e desenvolver novas lideranças;
- De maneira geral levam consigo sua equipe de “sustentação” em todas as transferências para novas empresas ou desafios;
- Em geral não consideram o conceito de “legado” como forma de transmitir valores, conduta ética ou princípios de longo prazo;
- Se esforçam no propósito de se tornarem figuras consideradas “insubstituíveis”, esquecendo que o cemitério está cheio delas;
- Atuam com uma visão mesquinha de curto prazo;
- Tem grandes dificuldades no encaminhamento da sua sucessão ou de qualquer processo de continuidade da sua obra ou realizações;
- Todas suas ações procuram criar a imagem de mito, ou fortalecimento do personagem, evitando qualquer demonstração de fragilidade ou insegurança, decorrente da sua personalidade original;
Apresentam grande dificuldade em lidar com o ostracismo, perda de poder, status ou se tornar um “ilustre desconhecido”.

Também para os filhos destas figuras a missão é difícil. Na mesma medida em que são comparados com o “personagem” perfeito, convivem, na intimidade, com a figura de um pai ausente. Um ser humano normal, com todas suas imperfeições.

Diante deste conjunto de fatores está claro que o processo de sucessão ou continuidade de um mito ou personagem é missão impossível. E com os diferentes impactos ao se tratar de empresário ou executivo.

É evidente que isto não impossibilita a substituição de figuras importantes. Desde que estas sejam reconhecidas por suas obras e legado, além da dimensão humana, nas suas fortalezas e fragilidades.

O que estou afirmando – e no Brasil temos vários exemplos – é que mitos e personagens, que procuram manter uma imagem de superação permanente, se tornam únicos e não passíveis de sucessão.

Qualquer pessoa o que tente fazer, correrá o risco de cair no ridículo ou se tornar uma cópia, sem identidade própria.


Esta é mais uma provocação para ser pensada.



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