Como empresas locais e desconhecidas agora se encontram em
situações onde podem comprar líderes mundiais do setor?
Muitos executivos de multinacionais tradicionais do ocidente
estão percebendo a ameaça que as empresas de mercados emergentes representam.
Esses mercados não são mais vistos apenas como aqueles que apresentam novas
oportunidades de negócios – são hoje um novo tipo de concorrente. Empresas
novas provenientes destes mercados emergentes estão competindo cada vez mais
com as multinacionais tradicionais no mercado global, disputando o mesmo segmento
de clientes.
Vejamos a Sany, fabricante multinacional chinesa de
equipamentos pesados, com sede em Changsha, na província de Hunan. É a sexta
maior fabricante de equipamentos pesados do mundo, e a primeira de seu setor
na China a fazer parte dos rankings FT Global 500 e Forbes Global 2000. No
início dos anos 90, a Sany optou por focar seus negócios na fabricação de uma
bomba para lançar concreto líquido. Até 2005, o mercado era dominado por duas
empresas alemãs: a Putzmeister e a Schwing. Em janeiro de 2012, a Sany comprou
a Putzmeister.
Como empresas locais e desconhecidas agora se encontram em
situações onde podem comprar líderes mundiais do setor? Empresas locais em
mercados emergentes normalmente começam suas operações focando em segmentos
ignorados pelas grandes multinacionais. Ao invés de competir com tecnologias de
ponta, elas optam por desenvolver produtos e sistemas de distribuição
destinados a consumidores com menor poder de compra. Essa estratégia é comum em
toda a Ásia, em países como Índia, Tailândia, Coréia do Sul e Cingapura.
Há 50 anos, os japoneses implementaram a mesma estratégia.
Na década de 1950, a Toyota ergueu sua primeira fábrica no exterior, na
Tailândia, e quando entraram nos EUA, já tinham uma extensa rede de produção e
distribuição em toda a Ásia. Em vez de gastar dinheiro desenvolvendo carros
grandes típicos dos EUA, a Toyota passou décadas fabricando automóveis
compactos bastante consumidos na Ásia, permitindo atingir maiores economias de
escala a nível mundial e ganhar tempo para aprimorar suas capacidades de
marketing e distribuição. Fabricantes de automóveis da Coreia do Sul, como a
Hyundai e Kia, seguiram a mesma estratégia nos EUA, trabalhando o segmento
menor antes de crescer.
Como é hoje? A Mahindra Tractors é líder no mercado de
tratores na Índia. A empresa desenvolve tratores pequenos, confiáveis,
robustos, eficientes e altamente rentáveis, custando metade dos da Deere, a
gigante americana. Quando a Mahindra expandiu internacionalmente, ela trabalhou
os mercados de pequenos fazendeiros e de manutenção de gramados e campos de
golfe da Austrália e dos EUA. Normalmente, pequenos fazendeiros possuem cinco
hectares ou menos de terra e empresas de paisagismo atendem clientes com
grandes jardins. Os consumidores querem tratores pequenos, duráveis, de fácil
manutenção e econômicos – igual aos vendidos pela Mahindra Tractors na Índia.
Da mesma forma, a Lenovo, fabricante chinesa de
computadores, inicialmente focou suas operações no setor de varejo rural local
– outro segmento de mercado evitado pelas multinacionais ocidentais. Com o
aumento da demanda, o imenso tamanho da população permitiu que a Lenovo
desenvolvesse enormes economias de escala e uma grande eficiência operacional.
Quando a empresa se globalizou, sua estrutura de custos lhe dava vantagem
competitiva difícil de superar. Em 2005, a Lenovo comprou a área de
computadores pessoais da IBM, abrindo o caminho para adentrar mercados mais
desenvolvidos.
O padrão é claro
Empresas de mercados emergentes que se tornam bem-sucedidas
tendem, inicialmente, a focar em mercados menos atraentes e, portanto, não
atendidos pelas multinacionais tradicionais. Além disso, países pobres
geralmente têm vizinhos igualmente pobres, fazendo com que produtos que vendem
bastante no mercado interno têm o mesmo desempenho em países vizinhos. Tendo se
estabelecido bem nesses mercados, as empresas começam a expandir sua oferta de
produtos a um custo tão baixo que as multinacionais tradicionais têm
dificuldade em competir.
Vemos hoje muitos exemplos desse padrão: A Asia Pacific
Breweries, da Cingapura, conta com uma linha de 40 marcas de cerveja e suas
variantes, incluindo a Tiger Beer (vendida em 60 países em todo o mundo), a
Anchor e a ABC Stout; a Dilmah, do Sri Lanka, se encontra em 92 países; a Jim
Thompson, da Tailândia, que inicialmente fabricava seda tailandesa, agora
comercializa roupas, itens para o lar e tecidos em suas cadeias de lojas da
marca Jim Thompson na Tailândia e no exterior; a sul-coreana LG Electronics oferece
comunicação móvel, eletrodomésticos, produtos de entretenimento para o lar e
soluções de ar condicionado e energia.
Multinacionais tradicionais com visão de futuro têm
procurado combater a ameaça ao adquirir certas empresas de mercados emergentes.
Porém, enfrentam um dilema ainda mais complexo. Para a empresa emergente, seu
único objetivo é subir na cadeia de valor para não fazer parte da concorrência
de commodities. É clara e simples sua perspectiva de ganhar mais dinheiro em um
segmento de mercado mais rentável.
É uma tarefa difícil para as multinacionais tradicionais
justificarem o envio significativo de recursos para entrar em um segmento de
mercado aparentemente menos rentável. A menos que as multinacionais transformem
suas operações nestes mercados em plataformas globais para poder competir em
segmentos diferentes, a prática de adquirir para evitar a concorrência futura
não será suficiente.
Fonte: Administradores
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