sábado, 15 de novembro de 2014

Como prever o futuro sem precisar de adivinhos

O mundo de hoje tem um verdadeiro exército de especialistas em futuro. Mas, acredite: você não precisa deles




O ser humano sempre teve fascínio por prever o futuro. Reis da antiguidade mantinham uma infinidade de feiticeiros, videntes e outros profissionais especializados em falar com os céus. Grupos de caçadores usavam adivinhos para decidir onde caçar, fazer guerra e até decidir sobre a migração de toda a comunidade para outro lugar. De xamãs batendo o tambor a bolas de cristal com efeitos especiais, qualquer coisa que ajudasse a prever o futuro sempre foi tida como uma grande vantagem.

O mundo de hoje tem um verdadeiro exército de especialistas em futuro. É possível sair de uma cartomante e procurar a última entrevista de algum Prêmio Nobel falando sobre a próxima tendência, sobre a próxima crise econômica ou algo que o valha.

O problema é que essas previsões estão frequentemente erradas. Sério. Você já se perguntou se todas aquelas pessoas fazendo previsões na mídia, relatórios de investimento e consultoria alguma vez checaram se estavam certas? Você ficaria surpreso se eu dissesse que as pesquisas não são muito animadoras? Quando se trata de prever o futuro, infelizmente ainda vale aquela velha frase: “Frequentemente, temos certeza, Geralmente, estamos errados”.

Acontece que no mundo real precisamos tomar decisões. De onde investir nosso próprio dinheiro a qual carreira buscar, ou quais ações tomar em nossas empresas e atividades profissionais. Como fazer para ter uma ideia do que o futuro reserva? Vou te contar um segredo. Existe algo que funciona: ler os relatórios de um punhado de grandes empresas.

Ao contrário de um analista sob o holofote da mídia ou algum acadêmico preso a um modelo, os dirigentes de uma empresa precisam tomar decisões reais sobre o que fazer em seus setores. Não é possível construir uma fábrica na China e depois dizer: “Ops, foi mal”. É totalmente diferente dar uma opinião sobre o futuro de investir esforço e dinheiro em uma decisão sobre o futuro. O cara que tem dinheiro na reta, precisa ter feito todo o trabalho de casa para confiar no que está fazendo.

Por isso, apesar de previsões dadas por analistas estarem frequentemente erradas, acompanhar como uma boa seleção de empresas entende o mundo e o que estão fazendo a respeito vai dar a você uma bela visão não só do presente, mas do que vai acontecer em um futuro próximo. É a vantagem de acompanhar quem está criando o futuro, em vez de escutar quem apenas costuma falar sobre ele.

Para isso, tudo que você precisa é encontrar as áreas de relações com investidores e ler alguns relatórios. Comece por algumas multinacionais. Mantenha os olhos em empresas como McDonald’s, Starbucks e Disney. Em uma parte significativa do mundo, McDonalds é uma opção de alimentação barata. Então, geralmente vemos um aumento de procura quando as pessoas estão sem dinheiro e uma diminuição quando a coisa começa a melhorar.

Por outro lado, o desempenho dessa empresa nos “emergentes" dará a você uma ideia da saúde desses países. Considero o Starbucks o primo um pouco mais rico da turma do hambúrguer (afinal, quem mais vende café a esses preços?). O fato deles continuarem crescendo nos Estados Unidos e investindo em expansão internacional mostra que a economia do mundo não está tão ruim quanto se fala por aí.

Por último, se as pessoas estão indo a parques de diversão, cinemas e assinando TV a cabo (pouca gente sabe, mas a Disney é dona da ESPN), quer dizer que o consumidor está com dinheiro no bolso. O fato de a Disney estar construindo um parque na China e o Starbucks também estar investindo bastante por lá nos diz que a economia daquele país continua atraente para quem se der ao trabalho de ir buscar oportunidades.

Por último, leia a carta anual da Berkshire Hathaway, escrita por Warren Buffet. Pelo simples motivo de que o cara é um gênio e gênios devem ser lidos.

Agora que você tem uma ideia do que as multinacionais andam fazendo. Vamos olhar para o Brasil. Comece pelos grandes bancos privados (Itaú e Bradesco, mas se estiver com preguiça dá até para escolher um dos dois). Vá direto nos números de inadimplência. Pessoas e empresas estão pagando suas contas? Não é à toa que pequenas mudanças nesses números podem derrubar ou fazer disparar uma ação. Depois, olhe outras coisas, como crédito, margens e projeções de crescimento. Os bancos são os canários da nossa economia. Mineiros levavam esses pássaros para dentro da montanha e saíam todos correndo se os bichos apagassem por falta de ar. Muita gente adora reclamar do sistema financeiro. Mas no dia em que ele parar de cantar, salve-se quem puder.

Depois, gosto de ver a Gerdau, BRFoods e Natura. São três empresas muito bem geridas, que possuem presença internacional e, portanto, podem escolher onde focar sua atenção. O fato de as três apresentarem números melhores fora do país do que dentro mostra que a preocupação que alguns apontam na nossa economia pode ser legítima. Por outro lado nos mostra que, dada a oportunidade e momento certos, basta um empurrão para nosso país voltar a crescer.

Uma retomada nas vendas da Gerdau aqui dentro seria um belo indicador de melhorias à frente. A BrFoods faz um favor a você e separa os números de “aves" e “bovinos e suínos”. Se você prestar atenção nessas coisas, vai perceber que sua avó estava certa quando falava que quando a carne de boi estava cara o negócio era comer um belo frango. Por último, uma olhadinha em alguma empresa de shopping vai mostrar a aceleração ou desaceleração do consumo em geral, enquanto as construtoras vão dizer muito sobre a capacidade do brasileiro de assumir dividas, formar famílias e assim por diante.

Empresas, ao contrário de palpiteiros, investem com base em demanda, planos, reagem a dificuldades e respondem a oportunidades em setores que passaram anos ganhando experiência. Como esse curto exemplo mostrou, se você aprender a olhar as empresas certas, vai ter uma imagem muito mais detalhada de para onde as coisas estão indo do que mil analistas podem te dizer.

Experimente, aprenda, acostume-se a procurar suas próprias referências. Quer entender o mercado da moda? O que dizem as grandes grifes europeias em seus últimos relatórios e cartas aos acionistas? Tecnologia? Por onde andam Google e Tesla? Acredite, não há futurologia melhor do que procurar os sites de relação com investidores das melhores empresas de seus ramos e acompanhar suas ações e raciocínios.

É aquela velha história de que a melhor forma de prever o futuro é o construindo. Se você se acostumar a olhar para onde os peixes grandes estão indo, vai aprender a nadar na direção certa.



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