quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O prazer de estar perdendo algo

A grama do vizinho é sempre mais verde? Aprender a reverter isso é fundamental




Eu sempre sofri de FOMO (Fear of Missing Out), ou de medo de estar perdendo algo. Mas isso nunca foi consciente. Para falar a verdade, eu achava totalmente normal querer estar em todos os lugares e participar de tudo que eu pudesse. Para mim, isso era aproveitar a vida.

Quando comecei esta viagem eu percebi que, na verdade, isso era um problema. Embora eu estivesse constantemente conhecendo lugares e fazendo coisas novas, o fato de não participar da vida das pessoas que eu gosto me fazia mal de certa forma.

Não se pode negar que poder acompanhar tudo o que está acontecendo na vida de todo mundo pelas redes sociais é maravilhoso! Mas, ao mesmo tempo, também te mostra quantas coisas legais estão acontecendo sem você e isso causa muita ansiedade.

Provavelmente, a mesma ansiedade que algumas pessoas sentiam quando me viam na praia em plena segunda-feira enquanto elas estavam trabalhando. Normal. A grama do vizinho é sempre mais verde.

O auge do meu FOMO aconteceu na Copa do Mundo. Quando planejei essa viagem eu, propositadamente, desconsiderei a possibilidade de estar no Brasil durante o Mundial. Seria muito caro, caótico e, por não concordar com a maneira com que o evento foi organizado, eu não iria comprar ingressos para os jogos de forma alguma, então não teria diferença assistir pela TV do Brasil ou de qualquer outro lugar, certo? Errado.

No dia do primeiro jogo, quando ouvi o hino cantado à capela e vi minhas redes sociais recheadas de camisetas do Brasil, churrascos e amigos reunidos eu achei que fosse ter um colapso. Chorava de arrependimento e não demorou mais do que 10 minutos após o fim do segundo tempo para que eu comprasse uma passagem para São Paulo.

Sim, eu estaria no Brasil para a última semana da Copa! Iria rever todos os meus amigos, minha família e assistir aos últimos jogos em casa. Imagina se o Brasil chegasse à final? Eu não queria perder isso por nada!

Além de participar da alegria da Copa e de matar a saudade de todo mundo, eu também poderia comer minhas comidas favoritas, ir a todos os lugares que eu sempre gostei e passear pela minha cidade depois de quase 1 ano longe. GENTE, era muita alegria!

Cheguei no Brasil na manhã da semi-final e nem preciso contar nada sobre isso, né? #7X1feelings

Marquei logo encontros com diferentes grupos de amigos. Fui a todos os lugares que eu amava antes de mudar, mas fui notando que eles não eram mais tão populares ou badalados como antes. Alguns até me decepcionaram um pouco. Quando comentei sobre isso com as pessoas, ouvi comentários como: “Eu nunca mais fui nessa balada, só fui porque você queria ir”, “Por que você está indo nesse japonês? Esse outro (que eu não sabia nem que existia) é muito melhor”, “Vamos marcar nosso happy hour nesse lugar (do qual eu nunca tinha ouvido falar)?”.

A cada comentário eu pensava no quanto as coisas mudaram em um ano. Eu não sabia mais quais eram os lugares bacanas da minha própria cidade. Justo eu que sempre sabia tudo, que sempre estava em todos os lugares e era cheia de dicas para dar. Será que tudo mudou tão rápido ou era eu que tinha mudado? Perceber isso fez eu me sentir…

Extremamente bem!

Eu finalmente descobri o que é sentir JOMO – Joy of Missing Out – ou o prazer de estar perdendo algo.

Segundo o site Huffington Post, JOMO é uma reação contra o FOMO. O termo é uma rebelião contra dizer sim a tudo o que você acha que deveria estar fazendo e se deixar ter mais espaço e tempo para refletir sobre o que você realmente quer fazer e experimentar por vontade própria e não porque é o que você supostamente deveria estar fazendo para agradar a todo mundo ou ser percebido como “cool”.

Além disso, o JOMO também é uma forma de desintoxicação das redes sociais. A intenção é a de nos conscientizar mais sobre o que estamos vivendo aqui e agora e sobre o porquê estamos fazendo isso, e menos sobre o que nós ou nossos amigos estão postando no Instagram ou no Facebook.

Embora eu não seja do tipo que defenda a teoria de que as redes sociais nos fazem infelizes, eu concordo que de certa forma elas nos fazem ficar mais ansiosos.

Também acho que hoje em dia as pessoas estão preocupadas em parecer (ou aparecer) muito mais do que ser e não existe melhor lugar do que o Facebook para fazer a sua vida parecer bem mais legal do que realmente é. Este vídeo também mostra um pouco dessa relação com as redes sociais.

Na minha opinião, tanto o FOMO quando o JOMO estão muito ligados às prioridades que temos na vida.

Há 2 anos a minha prioridade era fazer tudo o que eu tinha vontade, mas isso não incluía pedir demissão e viajar o mundo porque era algo que eu julgava ser “impossível”. Sendo assim, fazer o que eu tinha vontade significava ir à todas as baladas, restaurantes, comprar roupas e viajar sempre tivesse um feriado prolongado e nas férias. Por essa ser a minha prioridade, todas as vezes em que eu declinava um convite para algo eu sentia FOMO. A necessidade de participar de tudo acabou virando um hábito difícil de mudar mesmo vivendo um estilo de vida completamente diferente.

No começo, se eu estava trabalhando eu sentia FOMO por não estar aproveitando a nova cidade onde estava morando. Se estava passeando, sentia FOMO porque não estava trabalhando para ser a blogueira mais famosa do Brasil (risos) e isso gera uma ansiedade tóxica e difícil de controlar.

Com o tempo, sem perceber, eu comecei a praticar o JOMO. Passei a me preocupar mais com o que eu estava sentindo do que com o que as pessoas esperavam de mim. Os amigos me perguntavam por que eu não postava mais fotos da minha viagem e eu notei que, muitas vezes, eu esquecia de tirar as fotos. Estava tão imersa no que estava acontecendo que, quando me dava conta, o momento já tinha passado e, embora eu não tenha postado no Instagram, ele estaria sempre na minha memória.

Talvez por isso eu não tenha milhares de seguidores no Instagram ou tenha decidido não colocar anúncios no meu blog até hoje. Não gostaria de ser mais uma incentivando e criando nas pessoas necessidades que elas não precisam ter para serem felizes, como ter a bolsa da moda, o corpo mais sarado ou defendendo o discurso de que é preciso demitir seu chefe, largar tudo e viajar pelo mundo.

Eu escolhi ser aquela que tenta mostrar que tudo o que você precisa para ser feliz provavelmente está mais perto do que você imagina, basta se desligar um pouco do mundo e olhar mais para dentro de você.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo participação!