segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Formação em mais de uma área vale a pena?

Veja o que falam profissionais que optaram por uma dupla formação e sobre os impactos dessa decisão em suas carreiras




A falta daquela “certeza absoluta” em relação à área que se deve seguir não é uma questão que se resume à adolescência e ao período do vestibular. Essa incerteza ainda assombra profissionais já inseridos no mercado, no início ou com uma carreira já consolidada. Existem aqueles que acreditam ter feito a escolha errada e os que, com aptidões para mais de uma área, optaram por apenas um curso, mas mantiveram o gostinho e um desejo guardado por outro caminho.

Ainda que existam fortes motivações para você ter escolhido essa carreira, imagine esquecê-las por um momento. Independente de sua idade, do dinheiro, prestígio, pressões familiares ou afins, qual outra profissão você, se pudesse, escolheria? 

Para aqueles que gostam dessa área e tem potencial, fica uma nova pergunta: por que não tentar enveredar também por esse outro rumo e aliar esses conhecimentos com a formação inicial? “Tempo perdido?” Para muitos profissionais foram essas perguntas que os fizeram ter iniciativa, realizar uma segunda graduação e abrir um leque de possibilidades antes não imagináveis.

Administração + Jornalismo: é possível?

“Conhecimento nunca é demais; nunca se perde tempo adquirindo e agregando conhecimento”. Essa frase proferida pelo escritor Elias Awad, também administrador e jornalista, demonstra o que é, para ele, ter uma carreira construída de maneira multidisciplinar e com mudanças, a princípio, radicais.

Adquirir essa trajetória, no entanto, não foi fácil. Para ele, a imaturidade é o grande problema na hora de optar por uma carreira. “Isso aconteceu comigo no passado. Eu me formei em Administração pela PUC e trabalhava no Grupo Votorantim. Mas depois de uns cinco anos deixei de estar feliz e larguei uma promissora carreira executiva para ir em busca de minha realização profissional: o jornalismo esportivo. Graduei-me em Jornalismo. Fui repórter das principais emissoras de TV no Brasil e cobri os mais importantes eventos nacionais e mundiais, como Copas e Olimpíadas. Assim como ocorrera no passado, deixei de estar feliz novamente. Desta vez, não com o jornalismo, mas com o esporte. Foi quando escrevi e lancei há 10 anos a minha primeira biografia, do empresário Samuel Klein, fundador das Casas Bahia”, conta Elias.


Partindo para o seu 18º livro, Elias conta como sua formação em áreas diferenciadas o ajudou a atingir seu objetivo. “Hoje, escrevendo biografias de empreendedores de sucesso, consigo aliar o que aprendi na carreira administrativa, na jornalística, na reportagem e em tudo o que aprendi, conheci e transformei na minha vida. Busco ser um especialista em pessoas e em tirar delas as verdadeiras emoções que possuem, tornando-as aprendizados para os leitores e para aqueles que assistem às minhas palestras”, explica.


Administração ou Direito - Por que não os dois?


E falando em lidar com pessoas, esse foi um dos grandes aprendizados que Arcênio Rodrigues, procurador da Fundação Faculdade de Medicina de São Paulo, teve na área de Administração. Para o profissional, o Direito e a Administração caminham juntos. “O bom senso é a base de tudo para ser um bom administrador. Você lida com pessoas e as lidera. E isso se enquadra com o Direito, em que é mais usada a razão, a interpretação de normas. Como gestor, eu tenho que tomar decisões sobre grandes investimentos na empresa e neste ano essa questão se acentua ainda mais, pois é um ano atípico por causa da Copa do Mundo. Isso vai exigir de mim como administrador, usando o bom senso nas tomadas de decisões”, explica.


O conhecimento para o processo decisório também é fundamental para a área de consultoria, um dos segmentos em que atua o administrador Marcel Cordeiro, também advogado e sócio da PwC. O profissional explica que utiliza toda a gama de conhecimentos que obteve em Administração e Direito, seja para atender aos clientes internos, seja para atender aos clientes externos das empresas. “O curso de Administração ofereceu-me a base para gerir não apenas os clientes internos, como também minha própria equipe. Quanto aos clientes externos, a área preparou-me para estruturar a melhor abordagem mercadológica, delinear uma boa gestão de projetos e a administrar uma atividade empresarial como um todo. O curso de Direito, por outro lado, deu-me conhecimento para atuar de forma técnica nos projetos dos quais participo, ajudando-me na apresentação de soluções adequadas para os mais diversos desafios”, relata Marcel.


Administração e Economia: áreas irmãs?


Se Administração e Direito são áreas que podem se interligar com perfeição, dando ao profissional um aporte gerencial e jurídico que o permite transitar em diversos âmbitos de sua carreira, a junção de Administração e Economia é simplesmente harmônica. Que o diga o administrador e economista Jamil Albuquerque, que afirma que a atuação nas duas áreas é de fácil conciliação. “O administrador cuida dos sistemas gerenciais, dos procedimentos empresariais como um todo e o economista cuida dos números financeiros. Qualquer empresário pequeno, médio, grande ou empreendedor sabe que para as coisas darem certo ele precisa prestar atenção nos dois”, explica.

Jamil, que é diretor da Escola de Executivos e Negócios Master Mind, explica que ter uma formação nas duas áreas lhe dá uma visão muito mais ampliada no comando da empresa e segue a cartilha de que é preciso conhecer um pouco de cada coisa, e muito de uma única.

A opinião também é compartilhada por boa parte dos recrutadores e profissionais que lidam com o RH. Para a psicóloga e diretora executiva de Recursos Humanos, Gisele Meter, em um mundo cada vez mais dinâmico e multifuncional, o profissional que tem mais de uma graduação, dependendo da área, pode chamar mais atenção na hora da seleção. No entanto, a especialista faz uma ressalva.

“É importante lembrar que apesar de um currículo desses chamar atenção para o momento da seleção, é na entrevista que ele deverá mostrar como as duas graduações podem ser complementares e, assim, contribuir para o desenvolvimento da empresa. Pois existem muitos profissionais com inúmeras titulações que não conseguem aplicar o conhecimento de forma prática e, em contrapartida, existem aqueles com um currículo acadêmico mais enxuto que conseguem transformar isso de forma a gerar bons resultados. É importante que o candidato demonstre como esses conhecimentos distintos podem ser estratégicos se utilizados em conjunto”, afirma Gisele.

Essa declaração, inclusive, leva a várias reflexões. Uma delas é que pode até ser bom transitar em várias áreas e conhecimentos, mas é preciso ser realmente bom em algumas delas. No entanto, uma área de atuação muitas vezes pede habilidades que não se resumem ao aprendizado focado em apenas uma graduação, sendo necessárias habilidades complementares adquiridas, seja pela atuação ou por outros cursos.

É aí que entram os profissionais com mais de uma graduação e, como estamos falando em negócios, especialmente aqueles que também são administradores. Diferente da ideia de “perda de tempo”, buscar mais de uma área foi uma boa sacada para muitos administradores. E você, já pensou em “perder” um pouco de tempo e dar um rumo diferente na sua carreira?



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