domingo, 17 de agosto de 2014

Campeões esquecidos: os jovens que podem transformar o Brasil

Vencedores de olimpíadas nacionais e internacionais de conhecimentos, alunos de escola pública do interior que superam as adversidades e fazem bonito com pesquisas de alto impacto, professores dedicados a transformar o Brasil. Essas são apenas algumas das histórias que você vai conhecer aqui neste especial




A história de glórias do futebol brasileiro acostumou o país a nunca aceitar muito bem uma derrota dentro de campo. Sair de uma Copa do Mundo, realizada em casa, com uma amarga goleada de 7x1 colocou a massa apaixonada praticamente à beira da depressão. Passamos semanas lamentando o fim trágico da festa, nos engajamos em uma incessante busca por explicações e muitos ainda continuam concentrados em encontrar soluções para que outras tragédias futebolísticas não aconteçam no futuro.

Choramos tanto o fracasso dentro de campo que mal ouvimos falar que do outro lado do mundo outros craques – com bem menos recursos e muita força de vontade – conquistavam para o Brasil títulos que, para o projeto de país que precisamos pensar para o futuro, representam muito mais do que a taça da Fifa. Eles, no entanto, são apenas a ponta do iceberg. 



Pelo Brasil afora, histórias de garra e superação estão longe de se restringir apenas aos gramados. Da Paraíba a São Paulo, da Bahia a Goiás, há campeões esquecidos que são verdadeiros empreendedores e precisam ser lembrados. Por isso, o Administradores.com foi em busca dessas histórias e as reuniu aqui neste especial.

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Praticamente no mesmo período da Copa, Brasil ganhou várias medalhas em olimpíadas internacionais de conhecimento

Há poucos dias, o Brasil viveu momentos de glória. E isso, como você já sabe, não aconteceu no Maracanã. Na 55ª Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, da sigla em inglês) realizada na África do Sul, o Brasil conquistou cinco medalhas (três de prata e duas de bronze). Murilo Corato Zanarella (SP); Rodrigo Sanches ngelo (SP); e Daniel Lima Braga (CE), ganharam medalhas de prata. Já Victor Oliveira Reis (PE), e Alexandre Perozim de Faveri (SP), receberam o bronze. Alessandro de Oliveira Pacanowski (RJ), ganhou uma menção honrosa. A competição aconteceu nos dias 8 e 9 de julho, na University of Cape Town.

Em Taiwan, a equipe brasileira que particiou da International Olympiads in Informatics (IOI), de 13 a 20 de julho, também voltou para casa com bons resultados na bagagem. Arthur Ferreira do Nascimento e Mateus Bezrutchka (SP) conquistaram medalhas de prata, enquanto Arthur Pratti Dadalto (ES) e Michel Rozenberg Zelazny (SP) ganharam medalhas de bronze.

Em outro palco, em Bali, na Indonésia, entre 5 e 12 de julho, outros brasileiros fizeram bonito. O time formado pelos estudantes Bruno de Almeida (CE), Thiago Matheus Santos (BA), João Gabriel Santos (GO) e Allan Costa (SP) trouxe para casa a medalha de bronze na Olímpiada Internacional de Biologia, conquistada por este último.

Você que leu até aqui deve estar se perguntando: Se não houve nenhum ouro, por que chamá-los de campeões? Técnico dessa seleção de gênios, o professor Daniel Berto se orgulha de acompanhar os estudantes nas provas e explica por que essas medalhas ou mesmo a simples participação nesses eventos precisam ser comemoradas como grandes vitórias.

“O aluno que participa dessas competições, mesmo que não vença, volta deslumbrado pela ciência. E só em estar lá, já é uma prova do potencial desses estudantes. Antes de irem, eles encaram uma prova brasileira onde participam 70 mil alunos de ensino médio. Depois disso, é selecionado o grupo de quatro estudantes que vai representar o país em uma competição que reúne os 250 melhores estudantes de biologia do mundo. Dessa vez, só o Allan Costa recebeu medalha. Mas a experiência do intercâmbio, essa interação com outros jovens, fez com que todos voltassem maravilhados”, conta Berto.

Ainda assim, o professor explica que a escassez de recursos prejudica os alunos. “Antes de irem para Bali, os alunos precisaram participar de um treinamento especial no Rio de Janeiro. A UERJ e a UFF abriram seus laboratórios para os nossos estudantes, por que o ensino da biologia no Brasil prioriza a teoria e pouca prática. É difícil encontrar escolas equipadas com laboratórios de biologia no país e a prova da OBI valoriza bastante essa área”, completa o professor.


Jovem de Santos conseguiu vaga em Yale, EUA, e pode participar de pesquisas no CERN

Santos é um celeiro de craques. No futebol, revelou Pelé e Neymar. Na física, apresentou ao mundo Bárbara Cruvinel. Aos 13 anos, a então adolescente fez uma prova para concorrer a uma bolsa escolar. Após obter um ótimo desempenho, o colégio a incentivou a participar de olímpiadas de conhecimento. Hoje, Bárbara estuda física em Yale e acredita que participar de competições como essas formaram a estudante que ela é hoje. “Na época, eu não sabia muito bem o que eram as olimpíadas, mas me soou bacana por que eu era um tanto competitiva e gostava muito de matérias exatas, em geral”.

Ela conta que foram poucas vitórias nos dois primeiros anos, mas, no ensino médio, um torneio de física na Alemanha trouxe sua medalha mais importante. “Um professor falou de um torneio chamado Young Physicist’s Tournament, o IYPT. Era uma competição diferente das outras, por que não envolvia provas como a maioria das olímpiadas. Na verdade, eram problemas que demoravam meses para serem resolvidos e os alunos deveriam propor soluções teóricas e provar com experimentos o que eles tentavam demonstrar. Em seguida, os alunos selecionados teriam que debater na frente de jurados as suas respectivas soluções”, conta Bárbara, que voltou para o Brasil carregando um bronze.



Ao todo, ela coleciona 12 medalhas nas mais diversas áreas. Além de física, Bárbara já participou de competições em matemática, linguística, química, astronomia e robótica. Depois do IYPT, ela decidiu se dedicar a pesquisas em física e passou pela faculdade de engenharia da USP, enquanto aguardava pelos resultados nos Estados Unidos. Hoje, como aluna de Yale, Bárbara pode ir até o CERN (Organização Europeia para Pesquisas Nucleares, em traduçao livre), na Suíça, e pesquisar física de partículas com sua professora. “Realmente, percebo que vir para os Estados Unidos foi algo despertado por causa da curiosidade que as olimpíadas me geravam por ciência e pesquisa. O que eu faço agora está bastante ligado ao que eu fiz no ensino médio com olimpíadas”, explica Bárbara.

Mesmo após deixar a escola, ela ajuda a manter um site sobre olímpiadas de conhecimento, criado pelos jovens Cássio dos Santos e Ivan Ferreira. Cássio, inclusive, também é colecionador de medalhas (25, ao todo). Seu interesse por Olímpiadas surgiu em 2006, ainda no oitavo ano, quando o colégio ofereceu aulas preparatórias para uma competição em astronomia.

Ele explica que entre as em que esteve presente, a Olímpiada Internacional de Física, na Croácia, em 2010, foi a mais marcante. “A competição envolveu 370 alunos de 81 países. Um nível de provas alto e nosso time conseguiu trazer a medalha de bronze”, afirma Cássio.



Hoje, o estudante de engenharia da computação no ITA avalia os impactos de ter se engajado nessas competições durante o ensino médio. “Você cria um outro interesse pelo estudo e se envolve com conteúdos mais avançados. Você vai além dos livros e desenvolve sua criatividade. Aprende como modelar um problema nunca visto”, complementa.


Projeto foi apresentado em feira mundial de ciência e tecnologia em Abu Dhabi, no ano passado; quando estudos foram iniciados, alunas tinhas apenas 14 anos

Estamos acostumados com jovens prodígios norte-americanos e europeus que se destacam por iniciativas inovadoras e de alto impacto, em áreas como ciências e tecnologia. Jack Andraka, o adolescente dos EUA que aos 15 anos desenvolveu um método extremamente barato e rápido de detecção de três tipos de câncer, foi um dos que ganhou os holofotes do mundo há pouco tempo. Mas não precisamos ir tão longe para encontrar mentes brilhantes.

Um projeto desenvolvido em uma escola pública de Salgueiro, município do interior de Pernambuco com 59 mil habitantes, pode ser tão revolucionário para o combate ao câncer quanto o de Andraka. Neste caso, diferentemente do invento do americano, o foco não é no diagnóstico, mas na prevenção. Os estudantes de ensino médio iniciaram uma pesquisa com o objetivo de criar um protetor solar a partir de uma planta típica do Nordeste, a Quixabeira.

“Levando em conta que o Nordeste tem os maiores índices de incidência do câncer de pele, nós pensamos em criar um protetor solar a partir de uma planta comum na região”, explica Maria Solidade Sá, uma das estudantes envolvidas no projeto. Caso se torne viável, o produto pode ser uma alternativa barata e eficiente para a proteção das pessoas, principalmente para aquelas que trabalham no campo e têm baixo poder aquisitivo.



O projeto foi premiado em 2012 com o primeiro lugar na categoria de incentivo à pesquisa na 18ª Feira Ciência Jovem, em Recife. Em 2013, o grupo foi convidado para apresentar a iniciativa na feira internacional ESI Milset Mundi, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.

Sede de conhecimento

Para Solidade, o incentivo à participação dos estudantes em projetos que os levem a pensar além da sala de aula é uma forma de despertar maior interesse dos alunos pela escola. “Quando a escola motiva, a gente sente sede de conhecimento, nos faz pensar que educação é mais do que ensino médio, nos faz querer mais, quer conhecer mais”, ressalta.

Hoje, aos 17 anos (na época em que iniciou a pesquisa, tinha apenas 14), Solidade está no segundo período do curso de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina/PE. “O projeto abriu meus olhos para o que eu realmente queria fazer”, conta Solidade.

Na universidade, ela apresentou o projeto aos professores e conseguiu autorização para continuar com o projeto do protetor solar dentro do grupo de pesquisa que passou a integrar. “Aqui, vou poder usufruir de uma infraestrutura melhor, com mais equipamentos, para continuar a pesquisa. Caso os resultados dos testes sejam favoráveis, vamos procurar patrocínio de empresas que se interessarem em fabricar o produto”, afirma a estudante.


Dedicação de professora ajuda a preparar alunos que já ganharam dezenas de medalhas em olimpíada nacional

A pequena Paulista, localizada no coração do sertão paraibano, tem apenas 11 mil habitantes e pouco se ouvia falar dela até mesmo no próprio estado. Em 2012, no entanto, um feito inédito de estudantes do ensino fundamental mudou essa história e o Brasil tomou conhecimento de um fantástico celeiro de craques. Craques em Matemática. Com a dedicação de uma professora apaixonada pelos números, alunos da cidade têm ganhado medalhas na Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas (OBMEP) desde 2010. Há dois anos, voltaram para casa com quatro ouros na bagagem e viraram notícia.

Como conta Jonilda Alves Ferreira, professora que teve a iniciativa de preparar os alunos da cidade para a OBMEP, tudo começou com seu filho, Wanderson Ferreira, que queria muito participar da competição e pediu que ela lhe desse aulas preparatórias. Em 2010, com um ouro, ele foi o primeiro de Paulista a ganhar uma medalha na olimpíada. Naquele ano, só ele e outro estudante da capital, João Pessoa, conseguiram subir ao lugar mais alto do pódio pela Paraíba.

"Quando vi que as aulas que dei para meu filho deram aquele resultado, resolvi levar a experiência para os outros alunos e comecei a dar aulas para eles, de forma voluntária, visando a olimpíada. Inicialmente, eram na minha casa. Depois, o número de estudantes foi crescendo e a escola abriu um espaço para essas aulas", conta Jonilda, que leciona atualmente na Escola Municipal de Ensino Fundamental Cândido de Assis Queiroga.



Os frutos começaram a ser colhidos no ano seguinte. Em 2011, 17 alunos de Paulista foram premiados, com medalhas de ouro, prata, bronze e menções honrosas. Em 2012, veio a consagração. Com 22 medalhas, os estudantes da cidade conseguiram quatro ouros. Para se ter uma ideia, dos sete paraibanos que conseguiram chegar ao lugar mais alto do pódio nas competições da OBMEP naquele ano, cinco eram de Paulista. Foram quatro da Cândido de Assis Queiroga, onde Jonilda leciona, e uma aluna da escola José Jerônimo Neto.

Em 2013, embora não tenham conseguido nenhum ouro, os alunos de Paulista conseguiram ainda 21 premiações. E a preparação continua para 2014, que já passou da primeira fase. "Quando está próximo ao período de realização das provas, nós reservamos sempre duas aulas por semana para preparar os alunos", explica Jonilda.

Matemática deixando de ser disciplina "chata"

Além dos entraves estruturais do ensino público brasileiro, Jonilda explica que um grande desafio para engajar os alunos, no caso da disciplina de matemática, é o baixo interesse que se tem pelo tema, historicamente tratado como chato. "Nosso maior desafio é fazer os alunos se interessarem por matemática", conta Jonilda. Ela afirma, porém, que os resultados conseguidos pelos estudantes da escola na OBEMEP têm ajudado a despertar mais interesse nos demais pela disciplina.

Professora viajava para outra cidade todos os dias para fazer faculdade

Jonilda conta que desde pequena foi apaixonada por Matemática. Quando terminou o ensino médio, estava decidida a cursar algo na área. Foi estudar, então, Ciência Econômica em Patos, cidade relativamente próxima à sua, também localizada no sertão da Paraíba. Enquanto cursava a graduação, começou a dar aulas e, ao fim do curso, sentiu que precisava se aperfeiçoar enquanto professora. Foi aí que começou a fazer a licenciatura em Ciências Exatas, com habilitação em Matemática.

Como já trabalhava, Jonilda ia para Patos e voltava para casa todas as noites. "Eu saía de Paulista umas 17h30 e chegava de volta em torno das 23h30", relembra. O caminho entre as duas cidades tem cerca de 80 km e a viagem dura em média 1h10.


Competições científicas nacionais e internacionais são catalisadoras da busca pelo aprofundamento do conhecimento

As olimpíadas de conhecimento ou científicas são competições que acontecem em nível nacional e internacional, e visam medir e premiar o conhecimento de estudantes desde o ensino fundamental até o início do ensino superior (tanto de instituições públicas quanto das privadas). Através da realização de provas teóricas e práticas, os alunos recebem notas correspondentes e os melhores resultados são recompensados com medalhas e prêmios variados.

O objetivo geral dessas competições, que normalmente acontecem anualmente, é o de incentivar jovens a valorizar o meio científico e identificar talentos nas mais diversas áreas do conhecimento, estimulando-os a escolher a área científica para suas carreiras. Nas olimpíadas em geral, mas especialmente nas internacionais, há uma preocupação em comparar e destacar pontos positivos e negativos dos sistemas educacionais dos participantes, de forma que a troca de experiências entre professores, organizadores e alunos gere benefícios educacionais a cada um dos países representados.

A primeira olimpíada científica de que se tem notícia é a de Matemática, que teria acontecido em 1894, na Hungria. A primeira internacional foi também de Matemática e aconteceu em 1959, após o modelo inicial ter se espalhado por países do leste europeu. Nos anos seguintes, foram criadas as olimpíadas de Física (1967) e Química (1968). A partir de 1989, e durante os sete anos que se seguiram, surgiram competições internacionais de Informática, Biologia, Filosofia, Astronomia e Geografia. A primeira olimpíada a acontecer no Brasil foi também de Matemática, em 1979.



Existem vários tipos de olimpíadas científicas. Como já citado, disciplinas como Astronomia, Biologia, Química, História e Linguística possuem suas competições. Das olímpiadas internacionais geralmente participam os melhores estudantes de cada país, selecionados através das competições nacionais. Há também olimpíadas internacionais regionais, que restringem a participação a nações de determinada localidade do mundo.

O Brasil geralmente participa das olímpiadas internacionais de Matemática (IMO), Física (IPhO), Química (IChO), Biologia (IBO), Informática (IOI), Astronomia (IAO), Linguística (IOL), além do Torneio Internacional de Jovens Físicos (IYPT), Olimpíada Internacional Júnior de Ciências (IJSO) e Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica. As únicas competições internacionais nas quais nunca tivemos representação são a de Filosofia (IPO), Geografia (IGeO) e a de Ciências da Terra (IESO).

Brasil em números

- Participam, segundo a Sociedade Brasileira de Matemática, uma média de 5,3 mil escolas e 155 instituições de ensino superior na Olimpíada Brasileira de Matemática. Na última edição, foram cerca de 565 mil inscritos.

- Ao todo, são 190 mil jovens e seus professores participando anualmente da OBM e 290 mil estudantes competindo nas olímpiadas estaduais e regionais de Matemática.

- No Brasil se realiza a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), voltada para o sistema público de ensino. Da última edição participaram mais de 42 mil escolas e 900 mil alunos.

- Em 2013, o Brasil venceu a Olimpíada de Matemática Internacional Cone-Sul, da qual participaram 28 países da América Latina. As medalhas de ouro foram trazidas por Murilo Corato Zanarella, 15 anos, de Amparo (SP); e Victor Oliveira Reis, 16 anos, do Recife (PE). Daniel Santana Rocha, 16 anos, do Rio de Janeiro (RJ), e Pedro Henrique Sacramento de Oliveira, 13 anos, de Vinhedo (SP), ganharam medalhas de prata.

- Na 20ª Competição de Matemática para Estudantes Universitários, realizada na Bulgária, os brasileiros somaram 14 medalhas, sendo uma de ouro, 11 de prata e duas de bronze.

- Na última edição da Olimpíada de Matemática da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, organizada em Maputo (Moçambique), o Brasil ficou, pelo terceiro ano consecutivo, com a primeira posição geral.

- Na Olimpíada Internacional de Informática, são 32 medalhas conquistadas.
- Na Olimpíada Internacional de Física, 27 medalhas.
- Na última edição da Olimpíada Internacional de Química, conquistamos 4 medalhas.
- O Brasil conquistou, até hoje, em competições internacionais de Matemática:
- 81 medalhas na olimpíada Cone-Sul (na qual competem países da região meridional da América do Sul)- 96 medalhas na Olimpíada Internacional de Matemática, da qual participam cerca de 100 países- 85 medalhas na competição Ibero-Americana (América do Sul, Portugal e Espanha), sendo o país com maior número de medalhas nesta olimpíada- 84 medalhas na Olímpiada Internacional de Matemática Universitária, sendo uma delas a medalha de ouro especial chamada First Grand Prize.




Para além do quadro de medalhas

O Jornal da Ciência, publicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), divulgou, na edição de setembro do ano passado, matéria especial relatando alguns impactos das olimpíadas científicas, com base em constatações de especialistas sobre suas principais consequências e vantagens para o Brasil. Qual seria a real importância de estimular a participação de alunos e professores brasileiros nessas competições?

Primeiramente, é inegável que o Brasil atingiu um certo nível de sucesso em relação às competições, no sentido mais "raso" da palavra: ganhamos primeiros lugares, somamos mais de 400 medalhas internacionais (contando apenas com as competições de Matemática, Física, Química e Informática). Existe um nível mais profundo de sucesso, porém. De acordo com os especialistas citados no artigo, as vitórias não são o prêmio mais valioso. A valorização da dedicação e estudos através das medalhas é importante por representar o reconhecimento do investimento feito por estudantes e professores para alcançar tais resultados. A consequência disso é o crescimento da dedicação por parte dos alunos, de forma espontânea, e isso é ainda mais importante.

João Batista Garcia Canalle, professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) desde 1998, conta que se alguém decide participar de uma olimpíada de forma voluntária, como é o caso da OBA, o inscrito provavelmente se dedicará para ganhar uma medalha. Falando ao Jornal da Ciência, ele defende uma primeira vantagem das olimpíadas científicas: estimular o estudo espontâneo por parte do aluno. "Isso mostra que, se estudou mais do que faria sem a presença da olimpíada, então, já estamos causando um impacto sobre ele, pois estudou mais, e isso é o que mais queremos que os alunos façam. E veja que estudaram mais por livre e espontânea vontade, e é assim que mais se aprende", analisa o professor.

Segundo Canalle, essa vantagem também se estende aos professores, que, ao serem incumbidos da tarefa de auxiliar seus alunos na preparação para as olimpíadas, são "forçados" a estudar mais e buscar maior capacitação. Durante a competição em si eles têm a oportunidade de trocar experiências com outros professores, compartilhando modelos de estudo, métodos de ensino, etc. Esse intercâmbio é benéfico para as escolas e, consequentemente, para os alunos, que ganham professores mais motivados e capazes.

Em estudo intitulado "O impacto da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) no desempenho dos alunos na Prova Brasil", o professor José Francisco Soares constatou os resultados positivos da competição não só para os estudantes premiados, mas também para os demais alunos das escolas participantes. O professor do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e que é também membro do GAME - Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais, aponta os benefícios da participação em competições de conhecimento como sendo resultado natural do envolvimento das escolas com projetos ou iniciativas "pedagogicamente relevantes".

Sua pesquisa revela que, com relação à Obmep, por exemplo, escolas participantes precisam melhorar sistematicamente seu desempenho no ensino de Matemática, preparando simultaneamente o maior número de alunos possível para competir. "No caso das escolas, observamos que o efeito da Obmep pode ser devido ao fato de que uma escola que é capaz de se organizar para participar efetivamente da olimpíada tenha um projeto mais sólido e efetivo de ensino de matemática, o que, por sua vez, enseja um melhor desempenho de todos os seus alunos nos testes de matemática da Prova Brasil", diz o estudo.

Assim, comprovada sua eficiência, os métodos usados para preparar estudantes, tanto no caso da Obmep, quanto no espectro geral das olimpíadas científicas nacionais e internacionais, poderiam e deveriam ser adaptados e aplicados às políticas educacionais brasileiras. A conclusão é que educadores, estudantes, governantes e sociedade civil precisam não só reconhecer de forma efetiva o sucesso dos campeões que nos representam mundo afora, mas de fato aprender com e como eles.



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