quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Golpistas arrependidos viram gurus da auto-ajuda

No passado os pecadores viravam santos. No mundo moderno os golpistas arrependidos viram gurus da auto-ajuda. E o mercado é crescente. Vem ocorrendo desde que a felicidade se tornou produto de consumo. Fenômeno típico da sociedade industrial e que continua no mundo virtual.




A história universal está repleta de casos de bandidos, assassinos e figuras sanguinarias que, depois de um processo de revisão das suas condutas se tornaram heróis e figuras admiradas.

No mundo espiritual das inúmeras religiões, seitas e filosofias, também são comuns casos de indivíduos que tiveram um passado, ou sua própria história, qualificadas como de uma conduta “pecaminosa”, e que após um processo de arrependimento, foram ungidos e transformados em santos. Muitos até hoje ocupam lugar de destaque nos templos, altares e imaginário dos crentes e seus seguidores.

Criminosos, traficantes, prostitutas e guerrilheiros, que após uma etapa revisionista das suas vidas pregressas se tornam pastores, missionários e pregadores da salvação eterna,a nossa sociedade está repleta.

Mas o que o mundo considerado moderno – especialmente na estrutura capitalista selvagem – está revelando, é uma nova faceta e origem destas figuras transformadas e transformadores.

Esta nova safra de “gurús” é proveniente do mercado financeiro. E tem surgido, de forma especial, logo após alguma grande crise do mercado. Situação esta que não apenas abala suas conquistas, mas revela a total carência de escrupulos no processo do enriquecimento ilícito. De forma especial nos casos em que esta figura, adicionalmente, ludibriou a confiança de um grande número de investidores que lhe confiou suas reservas financeiras, na expectativa de um futuro, ou aposentadoria tranquila.

Um exemplo recente foi o sucesso do filme “O lobo de Wall Street”, estrelado por Leonardo DiCaprio.

Baseado na história real de Jordan Belfort, um especulador financeiro que, com apenas 22 anos, granjeou a confiança de muitos investidores e do próprio mercado americano.

Mas a crise da Bolsa de Nova York do ano de 1987 desnudou o golpista e todos os que o acompanhavam. No filme fica muito claro como o dinheiro, poder e carisma podem levar as pessoas aos maiores abusos, tanto no estilo de vida como na manipulação de pessoas. Drogas, festas, bebidas, prostituição fazem parte das demonstrações do que siginfica sucesso na sociedade americana.

Entretanto, o mais curioso é que depois de enfrentar uma série de processos judiciais, prisão e escárnio público através dos meios de comunicação, Jordan Belfort se tornou um admirado palestrante de autoajuda.

O caso mais recente é do ex-operador financeiro, Jerôme Kerviel, que causou um prejuízo de 4,9 bilhões de euros ao banco, clientes e acionistas do Societé Générale, e que está prestes a ser preso pela polícia francesa.

Segundo artigo do jornalista Michael Stothard, do “Finacial Times” – publicado no Brasil pelo jornal Valor – Kerviel vivia uma grande crise existencial, pensando até no suicídio, quando encontrou o apoio emocional e religioso do Monsenhor Jean Michel di Falco Leandri, um ilustre bispo francês, que o levou em audiência pessoal até o Papa Francisco.

Segundo seu depoimento, após esta visita, que classificou de um incrível encontro com o Papa, afirmou que “minha mente estava fechada e ele encontrou a chave para abri-la e deixar a luz entrar. Especialmente suas críticas à idolatria do dinheiro e ao capitalismo”.

Ao sair da audiência Kerviel decidiu iniciar uma vida de sacrifícios, e voltar para casa a pé, percorendo os 1.400 kms. que o separavam da França, onde o aguarda a polícia. Munido apenas de um casaco esportivo vermelho, sapatos reforçados e um GPS, partiu decidido a viver este periodo, apenas com doações de amigos, e estranhos que encontre pelo caminho.
Segundo ele, seu propósito é “espalhar a mesangem do Papa, de que o sistema capitalista é profundamente falho e injusto”.

A longa caminhada, que deve terminar em uma prisão na cidade de Paris, o está transformando em um pregador anti-capitalista. Sobre o mundo atual afirma que “negócios fraudulentos continuam acontecendo o tempo todo. O que acontece é que se eles – os operadores, investidores e instituições financeiras – perdem dinheiro, são demitidos sem barulho. Se ganham, ninguém liga”.

Kerviel está a caminho, mas com certeza não será o último golpista a se tornar um novo gurú da autoajuda. Já vem recebendo propostas para escrever um livro, embasar um filme e fazer palestras para os mais diferentes públicos.

A mídia, que tanto pode criar, ou também destruir personagens, já está se “locupletando” com mais esta fascinante história. E ela vai ocupar espaço até que surja outra, mais fascinante aos olhos, fantasias e desejos do mercado.



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