sábado, 1 de fevereiro de 2014

Os melhores líderes tendem a ter sentimento de culpa, segundo pesquisa

Pesquisadores de Stanford descobriram que a forma como as pessoas respondem aos seus erros pode indicar seu "nível" de liderança




Costumamos ver os líderes como pessoas sociáveis, extrovertidas e “pra cima”, mas uma pesquisa feita na Escola de Administração da Unversidade de Stanford mostrou que nem sempre o estereótipo corresponde à realidade. Um elemento em especial, a culpa, é o objeto da pesquisa, que aponta que pessoas com tendência a se sentirem culpadas geralmente carregam grande senso de responsabilidade, o que transparece para os que estão ao seu redor, de forma que essa responsabilidade os faz enxergar estas pessoas como líderes.

Esse é um resumo da tese de Becky Schaumberg, candidata ao doutorado em Comportamento Organizacional que conduziu a pesquisa juntamente com Francis Flynn, professor do mesmo tema. Em um de seus estudos, Schaumberg e Flynn recrutaram grupos de quatro ou cinco desconhecidos entre si e lhes deram um teste de personalidade online que media traços como tendência a sentir culpa, tendência a sentir vergonha, o quanto a pessoa é extrovertida, entre outros.

Embora “culpa” e “vergonha” pareçam a mesma coisa para muitas pessoas (e as duas são, de fato, respostas negativas ao conhecimento de que se fez alguma coisa errada), psicólogos reconhecem uma distinção crucial entre elas: enquanto alguém que sente culpa se sente mal e deseja reparar seu erro, quem sente vergonha prejudica sua autoestima, buscando afastar-se do erro na tentativa de evitar tal sentimento.

Todas as pessoas tendem a responder aos erros com uma das duas (culpa ou vergonha), e quando se testam as reações de cada pessoa a possíveis situações em que ela comete um erro, constata-se para qual das duas ela tende. Essa distinção faz toda a diferença na hora de identificar alguém como líder, de acordo com a pesquisa. Depois de feito o teste, os pesquisadores colocaram cada grupo em um laboratório e, sem designar um líder, lhes davam uma hora para completar duas tarefas em grupo.

Ao final dessa hora, os participantes deveriam avaliar uns aos outros em relação às suas habilidades de liderança. Em todos os grupos testados, as pessoas que foram julgadas pelas outras como líderes em maiores escalas eram as que tinham sido acusadas no teste como tendo maior tendência a sentirem culpa. O surpreendente, segundo os estudiosos, foi que a tendência ao sentimento de culpa foi muito mais relacionado à liderança do que a ser extrovertido, uma marca famosa da liderança. As pessoas do grupo não necessariamente reconheceram essa tendência a se sentir responsável pelos erros naqueles a quem consideraram líderes. A tendência ao sentimento de culpa se revelou em seus próprios comportamentos na hora da tarefa, e esses sim foram identificados pela equipe.

Outros testes foram realizados, em empresas, por exemplo. Os pesquisadores recolheram feedbacks sobre alguns alunos do MBA da universidade com seus antigos patrões, professores e colegas de trabalho, buscando sua percepção quanto a esses traços de liderança. A relação entre tais traços e o nível de tendência ao sentimento de culpa também foi evidente. Schaumberg diz que pode parecer estranho que a culpa possa agir positivamente, pois geralmente a vemos como um sentimento negativo. O ponto-chave aqui é que esse sentimento pode ser prejudicial para o indivíduo, quando constantemente alimentado, mas em certo nível, é benéfico para o grupo em que a pessoa está inserida. Um sentimento de responsabilidade em relação à empresa ou à equipe de um gerente pode servir como um motivador para o alcance de objetivos e vitórias conjuntas.

Outra questão importante da pesquisa é a clara diferença entre pessoas com tendência ao sentimento de culpa versus as que tendem à vergonha. Essas últimas tendem a fugir de seus erros e problemas, de acordo com Schaumberg e Flynn, representando um papel derrotista dentro da organização em que trabalham. Dessa forma, a resposta mais construtiva aos erros seria sentir-se responsável o suficiente para enfrentar as situações difíceis e consertar o que está errado. Esse é o comportamento daqueles que são mais percebidos - e respeitados - como líderes.



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