Pesquisadores de Stanford descobriram que a forma como as
pessoas respondem aos seus erros pode indicar seu "nível" de
liderança
Costumamos ver os líderes como pessoas sociáveis,
extrovertidas e “pra cima”, mas uma pesquisa feita na Escola de Administração
da Unversidade de Stanford mostrou que nem sempre o estereótipo corresponde à
realidade. Um elemento em especial, a culpa, é o objeto da pesquisa, que aponta
que pessoas com tendência a se sentirem culpadas geralmente carregam grande
senso de responsabilidade, o que transparece para os que estão ao seu redor, de
forma que essa responsabilidade os faz enxergar estas pessoas como líderes.
Esse é um resumo da tese de Becky Schaumberg, candidata ao
doutorado em Comportamento Organizacional que conduziu a pesquisa juntamente
com Francis Flynn, professor do mesmo tema. Em um de seus estudos, Schaumberg e
Flynn recrutaram grupos de quatro ou cinco desconhecidos entre si e lhes deram
um teste de personalidade online que media traços como tendência a sentir
culpa, tendência a sentir vergonha, o quanto a pessoa é extrovertida, entre
outros.
Embora “culpa” e “vergonha” pareçam a mesma coisa para
muitas pessoas (e as duas são, de fato, respostas negativas ao conhecimento de
que se fez alguma coisa errada), psicólogos reconhecem uma distinção crucial
entre elas: enquanto alguém que sente culpa se sente mal e deseja reparar seu
erro, quem sente vergonha prejudica sua autoestima, buscando afastar-se do erro
na tentativa de evitar tal sentimento.
Todas as pessoas tendem a responder aos erros com uma das
duas (culpa ou vergonha), e quando se testam as reações de cada pessoa a
possíveis situações em que ela comete um erro, constata-se para qual das duas
ela tende. Essa distinção faz toda a diferença na hora de identificar alguém
como líder, de acordo com a pesquisa. Depois de feito o teste, os pesquisadores
colocaram cada grupo em um laboratório e, sem designar um líder, lhes davam uma
hora para completar duas tarefas em grupo.
Ao final dessa hora, os participantes deveriam avaliar uns
aos outros em relação às suas habilidades de liderança. Em todos os grupos
testados, as pessoas que foram julgadas pelas outras como líderes em maiores
escalas eram as que tinham sido acusadas no teste como tendo maior tendência a
sentirem culpa. O surpreendente, segundo os estudiosos, foi que a tendência ao
sentimento de culpa foi muito mais relacionado à liderança do que a ser
extrovertido, uma marca famosa da liderança. As pessoas do grupo não
necessariamente reconheceram essa tendência a se sentir responsável pelos erros
naqueles a quem consideraram líderes. A tendência ao sentimento de culpa se
revelou em seus próprios comportamentos na hora da tarefa, e esses sim foram
identificados pela equipe.
Outros testes foram realizados, em empresas, por exemplo. Os
pesquisadores recolheram feedbacks sobre alguns alunos do MBA da universidade
com seus antigos patrões, professores e colegas de trabalho, buscando sua
percepção quanto a esses traços de liderança. A relação entre tais traços e o
nível de tendência ao sentimento de culpa também foi evidente. Schaumberg diz
que pode parecer estranho que a culpa possa agir positivamente, pois geralmente
a vemos como um sentimento negativo. O ponto-chave aqui é que esse sentimento pode
ser prejudicial para o indivíduo, quando constantemente alimentado, mas em
certo nível, é benéfico para o grupo em que a pessoa está inserida. Um
sentimento de responsabilidade em relação à empresa ou à equipe de um gerente
pode servir como um motivador para o alcance de objetivos e vitórias conjuntas.
Outra questão importante da pesquisa é a clara diferença
entre pessoas com tendência ao sentimento de culpa versus as que tendem à
vergonha. Essas últimas tendem a fugir de seus erros e problemas, de acordo com
Schaumberg e Flynn, representando um papel derrotista dentro da organização em
que trabalham. Dessa forma, a resposta mais construtiva aos erros seria
sentir-se responsável o suficiente para enfrentar as situações difíceis e
consertar o que está errado. Esse é o comportamento daqueles que são mais
percebidos - e respeitados - como líderes.
Fonte: Administradores
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