sábado, 13 de dezembro de 2014

Dupla de palhaças torna-se aliada de empresas ao engajar funcionários

Arte do clown é oferecida de forma inovadora pela POP para passar conteúdo às equipes de uma forma divertida. Natura, Unilever e Itaú já adotam técnica




Reuniões improdutivas, falta de comunicação entre funcionários de uma mesma equipe, displicência em relação a regras de segurança, pouca inovação e outros desafios ao planejamento estratégico de algumas companhias vêm sendo combatidos com auxílio de uma ferramenta no mínimo inusitada. Duas palhaças se tornaram aliadas de gestores e profissionais na superação dos mais variados gargalos dentro da estrutura de uma organização. As mulheres fantasiadas tomam corredores e salas e, de forma bem-humorada, falam sobre questões importantes para as empresas, usando técnicas da arte que é comemorada nesta quarta-feira, 10 de dezembro, Dia do Palhaço.


A dupla que consegue, com um pouco de maquiagem no rosto e outra pitada de tiradas engraçadas, passar conteúdo e promover engajamento entre funcionários é formada por Consuelo, também conhecida como Marina Campos, e Solenta, Mônica Malheiros. Ambas são sócias da Palhaços a Serviço das Pessoas (POP), que busca ajudar na memorização de conceitos e orientações e ajudar na relação entre as pessoas no ambiente corporativo de um modo divertido.


A metodologia se vale da brincadeira, mas serve a empresas bem sérias. Entre os clientes da dupla estão Bradesco, Itaú, Volkswagen, Nestlé, Unilever e EMS, entre outros. “Não sei que imagem você tem, mas esse é um palhaço diferente, que está muito mais para o clown. É um palhaço que tem menos maquiagem, que fala com as pessoas e cuja graça é pequena. Ele não é um palhaço de picadeiro, de teatro ou de circo, mas de relação. É um arquétipo. Desde que o homem se juntou em grupos, essa função existe para nos lembrar de nossa humanidade”, explica Marina Campos, em entrevista ao Mundo do Marketing.


Quatro pilares de atuação

Por meio das palhaçadas, a dupla já trabalhou a integração de uma nova identidade da marca da Rossi entre corretores e reforçou boas práticas de fabricação para 1,8 mil funcionários da EMS Laboratório Farmacêutico. O trabalho baseia-se em quatro pilares. O primeiro diz respeito ao efeito biológico do humor, que, quimicamente, relaxa o corpo, esvazia a mente dos problemas e das questões pessoais. Há também o poder do sim, palavra dita a todo momento pelos personagens, mas raramente nas corporações, e que passa uma sensação muito boa.


Outro ponto é o risco atrelado à figura do clown. Ele usa roupas esquisitas e fala coisas que ninguém se atreveria a dizer. “Nas empresas, todo mundo usa a mesma roupa, está na mesma rotina, viaja mais ou menos para os mesmos lugares. De onde vai brotar a inovação?  É preciso sair desse ciclo para favorecer a criatividade. Para isso, combinamos o palhaço com jogos de pensamento não linear, muito divertidos, nos quais as pessoas não têm como não estarem presentes. Deste esvaziamento, surge o estado da criatividade”, conta Marina.


O quarto pilar diz respeito à verdade. Isso porque o palhaço não tem como mentir. Ele comenta sobre a ausência do chefe, a sobrecarga de trabalho, a necessidade de descanso e outros temas que precisam entrar no debate, mas sobre os quais as pessoas têm dificuldade de conversar. “Outro dia, participamos de uma reunião pesada do departamento jurídico de um cliente. Fomos chamadas para deixar o encontro mais leve. Falava-se sobre assédio moral, assédio sexual, questões de contrato e estávamos lá para falar a verdade. ‘Tem saída doutor?’ Colocamos os advogados em várias saias justas. Mas, com a verdade, deixamos as pessoas completamente desarmadas”, conta a intérprete de Consuelo.


Herança corporativa

Marina mesmo não gostava de palhaços até 2003, quando assistiu ao espetáculo Jogando no Quintal. A sensação de bem-estar com que saiu da apresentação a fez se apaixonar pela arte e, alguns anos depois, abandonar sua carreira de publicitária, durante a qual passou por grandes agências como JWT e Lew’Lara. Após muito estudo de como usar as técnicas do clown, Marina abriu a POP em 2007.

Ao lado da sócia Mônica e depois de sua experiência em grandes corporações, a publicitária percebeu que a arte poderia ajudar os profissionais a reestabelecerem conexões entre si. Muitas companhias enfrentam dificuldades de aprimorar sua comunicação interna, mudar as atitudes dos colaboradores, propiciar uma visão sistêmica em relação à organização e estimular a criatividade. “As empresas estão sofrendo porque as pessoas não conseguem enxergar que, se não fazem seu trabalho bem, o outro também não consegue fazer. Falta essa preocupação mútua, o que é um problema do mundo”, reflete Marina.

O processo de convencimento de novos clientes a respeito dos benefícios da técnica costuma levar um tempo, já que a ferramenta é inovadora. Após algumas reuniões e a primeira experiência, no entanto, o relacionamento costuma ser duradouro. Na Natura, por exemplo, a POP já soma diversos projetos desenvolvidos. Um deles envolveu os jovens aprendizes que começaram a atuar na empresa em 2009. Nessa primeira experiência numa empresa, eles ainda apresentavam comportamentos que não condiziam com o adequado ao ambiente de trabalho.

Conteúdo denso passado de forma leve

O desafio era tocar esses meninos e meninas de uma forma divertida, fazendo com que eles recordassem e respeitassem regras corporativas. “Consuelo e Solenta trabalharam com exercícios de improviso, de linguagem corporal, que facilitavam a passagem do conteúdo mais denso de forma leve. Mostraram o que podia e não podia de um jeito divertido, e os jovens lembravam das palhaças sempre que viam um deles fazendo algo inadequado”, conta, em entrevista ao Mundo do Marketing, Andrea Vernacci, que na época trabalhava na Natura e hoje é Gerente de Planejamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos do Hospital Beneficência Portuguesa – para onde levou a dupla da POP.

Na unidade de saúde, o humor também foi usado na hora de falar dobre cuidados que precisam ser tomados pelos profissionais em ambiente hospitalar. Os procedimentos fundamentais para se minimizar riscos a pacientes e aos próprios funcionários sempre foram passados por meio de apresentações em slides. Questões como a importância de se notificar incidentes críticos, mesmo quando eles não foram convertidos em falhas ou acidentes, de identificar corretamente os pacientes e de lavar as mãos todas as vezes que se entra e sai do centro cirúrgico foram parar nas encenações das palhaças.

Os ganhos foram a atenção maior por parte da equipe ao que era dito e, consequentemente, a melhor memorização das regras. “Elas transmitem as orientações de forma gostosa e divertida e todos entendem o que é dito. A vantagem é que as palhaças conseguem passar o conteúdo e promover o engajamento”, resume Andrea.



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