quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Abaixo a cartilha da perfeição!

As pessoas se sentem desconfortáveis em aceitar seus problemas e - para superá-los - acreditam que ao seguirem determinadas receitas e cartilhas serão vencedoras




Basta entrar em qualquer livraria para ser bombardeado por dezenas de títulos que prometem, ao aplicar uma receita básica, conduzi-lo à carreira de sucesso. Em palestras - diversas delas - um discurso simplista e a certeza de que, ao seguir uma cartilha, você será capaz de tudo. Na mídia: dicas, passos e regras sobre como você deve fazer para ser um profissional brilhante, ficar rico ou vencer na vida.

Percebeu? Virou uma constância ininterrupta e até exagerada de informações que buscam impor um comportamento para todos ganharem um quadro de “funcionário do mês” permanente. Estamos na era da ditadura da perfeição da selva corporativa. E, para piorar, muito do que se fala é um emaranhado de fórmulas prontas e receitas de autoajuda que não possuem fundamento. Mas ai daqueles que não a seguirem. Afinal, “você não quer ser o profissional perfeito?”.

Se o exagero parece reinar, a situação agrava quando um grande veículo de comunicação na área de negócios publica dicas para se vestir como um empreendedor de sucesso. Aí, é demais! É a gota d’água. É preciso se posicionar sobre alguns excessos da autoajuda. Como se todos que seguissem essas orientações conseguissem o mesmo resultado. Como colocar uma calça jeans, uma blusa preta e um tênis surrado fosse transformar alguém em Steve Jobs. 

O mito do profissional perfeito deve ser quebrado e existe um aspecto muito importante nesse sentido: o psicológico. As pessoas se sentem desconfortáveis em aceitar seus problemas e para superá-los acreditam que ao seguirem determinadas cartilhas serão vencedores, invencíveis e perfeitos. 

O psiquiatra Steven Berglas, à frente da Escola de Medicina de Harvard, indicou em um recente artigo que esses métodos existe porque as pessoas, em geral, estão sempre buscando maneiras de evoluir, mas querem que isso aconteça de forma rápida e indolor. "Essa necessidade é o ambiente ideal para que os manuais de autoajuda e as consultorias de ‘boteco’, onde o sucesso é atingido em 12 passos simples, se multipliquem”. 

Porém, o consumo desse conteúdo “enlatado”, ao ser interpretado ao pé da letra, pode deixar a pessoa mais frustrada quando ela se dá conta de que não é possível ser tudo aquilo descrito ou quando ela tenta e não consegue o objetivo esperado. A verdade é que o mito do profissional perfeito não é um perigo apenas para as pessoas, mas também para as empresas que se empenham em formar a “equipe perfeita”. 

Quero destacar que não sou contra todos os livros, consultores e cursos oferecidos no mercado. Pelo contrário! Existe muita coisa boa sendo oferecida e que vale o investimento. No entanto, é preciso separar o joio do trigo, identificar os discursos mal embasados e perceber que esse negócio de “profissional perfeito” é tudo balela. 

Uma lista especial

Como o profissional perfeito adora listas, tenho uma para indicar. Na edição 23 da Administradores, a repórter Agatha Justino escreveu brilhantemente uma reportagem sobre o mito do profissional perfeito. A matéria possui uma lista com quatro mitos bem comuns para quem busca atingir esse patamar. Veja abaixo:

Utilização de Jargões de Negócios - Toda área possui os seus jargões, claro. Eles servem para designar operações e facilitar o trabalho dos profissionais. Mas sempre existem os que abusam. Os jargões se tornaram um idioma à parte e quem está fora da área em questão só é entendido por aqueles que pertencem ao mesmo habitat. Essas pessoas adotam esses termos a fim de mostrar mais conhecimento e deixam de lado a autenticidade na forma de falar. Not cool.

Ser líder "desesperadamente" - A história sempre endeusou os líderes e o universo corporativo não poderia ser diferente. Foi criada uma cultura que atribuía a essas figuras o sucesso ou fracasso de uma empresa. Essa estrutura organizacional que coloca o líder como o centro das decisões deverá desaparecer aos poucos. As decisões deverão ser compartilhadas e o trabalho em equipe será a prioridade na gestão.

Ser excessivamente comunicativo - Em uma sociedade obcecada por comunicação, a timidez parecia um defeito capaz de destruir a carreira de um bom profissional. Os extrovertidos pareciam vender melhor, transmitiam mais segurança e simpatia. Entretanto, esse é apenas mais um mito do profissional perfeito. Pesquisas apontam que os tímidos se concentram com mais facilidade, são melhores ouvintes e mais sensatos nos negócios. 

Ser um Workaholic - Você conhece o Ritmo Ultradiano? Esse é um fenômeno também conhecido como ciclo de descanso-atividade básico. Segundo ele, nosso cérebro consegue se concentrar completamente em uma atividade durante 90 minutos. Após esse período, ele se sente sobrecarregado e não funciona na mesma intensidade. O conselho dos cientistas para ser mais produtivo é organizar o seu dia de trabalho com intervalos de 10 minutos a cada 90 minutos de concentração.



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