quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

De que você precisa para ser feliz?

Identificar nossas reais necessidades pode ser um dos caminhos para reconhecer a felicidade




Todos nós temos necessidades físicas e emocionais que precisam ser satisfeitas para sermos felizes. Assim como não podemos comer o suficiente para não sentirmos fome por um mês, o mesmo vale para quase tudo na nossa vida. Isso significa que nossas necessidades precisam ser constantemente atendidas de alguma forma. Quando isso não acontece, sentimos uma espécie de vazio. Parece que está faltando alguma coisa e começamos a procurar formas de preencher esse espaço.

O problema é que muitos acreditam que esse vazio deve ser preenchido por alguma coisa que ainda não se tem e precisamos conquistar, seja um namorado, uma promoção no trabalho, um bem material ou uma viagem.

Não é raro ouvirmos frases como: “Ah, quando eu conseguir comprar a minha casa eu vou me sentir realizado”, “Minha vida está quase perfeita, só falta um namorado”, “São esses quilos extras que estão me deixando infeliz”. E, então, fazemos desses desejos nossas metas para a felicidade.

Só que, às vezes, mesmo depois de conseguirmos, a felicidade que sentimos com o resultado é muito menor do que imaginamos que fôssemos sentir enquanto estávamos perseguindo esses objetivos.

No livro Stumbling on Happiness, o psicólogo e especialista em felicidade de Harvard Dan Gilbert aponta que o ser humano tende a superestimar aquilo que não tem e subestimar o que já conseguiu, da mesma forma que ele defende a teoria de que os nossos níveis de felicidade são estáveis depois de um tempo (quem quiser pode assistir à palestra incrível dele no TED, aqui).

Você já reparou que, às vezes, quando nos lembramos de coisas boas do passado sentimos uma nostalgia deliciosa e uma sensação de que éramos mais felizes do que agora? Mas, se pararmos para pensar, na época não achávamos que éramos tãããão felizes assim, né? Ou, quem nunca pensou coisas como “eu era feliz e não sabia”?

Muitas vezes, não sabemos reconhecer a felicidade quando ela está na nossa frente, mas só depois que ela já passou.

Isso acontece porque, infelizmente, a sensação de prazer, de orgulho que essas conquistas nos fazem sentir, não duram para sempre. Como bem disse Don Draper em um dos episódios de Mad Men:

O que é felicidade? É o momento antes de você precisar de mais felicidade.

Identificar nossas reais necessidades pode ser um dos caminhos para reconhecer a felicidade.

No caso de um relacionamento, por exemplo, a necessidade básica que precisa ser atendida é a de sermos amados, certo? Mas não dá para negar que por trás de muitos relacionamentos também pode existir a necessidade de se adequar a um determinado grupo, o medo da solidão ou até mesmo o fato de que já passamos de uma certa idade para estarmos solteiros.

Além das necessidades físicas e emocionais, que eu vou chamar de básicas, todos nós também temos uma enorme necessidade de validação. Essa validação pode ser interna ou externa.

Sem perceber, acabamos criando necessidades puramente por precisarmos da validação dos outros. Mas será que essas necessidades são realmente importantes para que sejamos genuinamente felizes?

As necessidades externas estão geralmente relacionadas às aparências, como: ser promovida para mostrar para o ex-namorado que ele estava errado quando disse que você não era ambiciosa. Perder 10 kg e malhar até conseguir um tanquinho para fazer aquela menina que te deu um fora se arrepender quando vir você sem camisa. Comprar um carro caríssimo só para mostrar para seu vizinho que você também é bem sucedido.

Muitas dessas necessidades também são geradas pela nossa cultura atual, que contribui colocando muita pressão para que sejamos bem sucedidos, tenhamos corpos perfeitos e sarados e roupas da moda.

O problema é a frustração causada quando essas necessidades artificialmente criadas não são atendidas e que acaba sendo muito maior do que o prazer de satisfazê-las.

As necessidades internas podem até ter como resultado as mesmas coisas, mas o motivo pelo qual você quer atingir é totalmente diferente. Você quer ser promovida em reconhecimento a todo o trabalho duro que você tem feito nos últimos anos, por exemplo, e não porque sua amiga também foi promovida e você não quer ficar por baixo.

Quando suas metas são baseadas nas suas motivações internas, não importa o que os outros vão pensar. Você está fazendo por você e isso geralmente aumenta sua felicidade e inevitavelmente faz com que as pessoas reconheçam seu valor.

Conquistar algo pelos outros sem dúvida faz bem para o ego, mas é como o efeito de uma droga, não dura muito. Enquanto que conquistar pela nossa satisfação pessoal aumenta a autoestima e faz os resultados serem mais duradouros.

O grande problema é que nem sempre fazemos isso conscientemente. Muitas vezes acreditamos que estamos perseguindo alguns objetivos por pura satisfação pessoal. Por isso, minha dica é que a cada vez que você estiver obcecado em conseguir algo, faça uma reflexão honesta sobre qual é a real necessidade que aquilo que você tanto quer irá satisfazer. Não será difícil chegar à conclusão de que muitas das nossas metas têm um fundo de validação externa.

Para sofrermos menos e sermos mais felizes, precisamos aprender a identificar o que há por trás das coisas que julgamos essenciais para a nossa felicidade e, principalmente, aprender a reconhecer e apreciar esses momentos quando eles acontecerem.

Eu tenho um defeito terrível que é ser perfeccionista. Mas não aquele perfeccionismo que muita gente descreve como defeito achando que é uma coisa boa. Eu me sinto mal ou triste quando algo não sai exatamente como eu queria, ou seja, o que eu entendo como perfeito. Por isso, eu já deixei de aproveitar minha estadia em um determinado lugar porque estava chovendo e eu tinha imaginado aquele lugar com sol. Acabei não sabendo apreciar outras coisas que o lugar tinha a oferecer ou até mesmo a beleza da chuva.

Não é fácil reconhecer e mudar as coisas. Mas é isso que fará com que a gente encontre outras maneiras de atender às nossas necessidades e, principalmente, de não ficarmos tão tristes quando algo não sair da forma que queremos.

Quando olhamos para o que não é óbvio passamos a entender que se nosso namorado terminar com a gente ou se aquele cara não ligou, isso talvez abra caminho para uma pessoa melhor entrar. Se tiver um corte na nossa empresa e formos demitidos, isso pode ser uma oportunidade para começarmos aquele negócio que nunca tivemos coragem de abrir.

Enquanto acharmos que as nossas necessidades – e, consequentemente, nossa felicidade – dependem de algo externo como bens materiais, status ou coisas que estão fora do nosso controle, como o amor de outra pessoa, continuaremos sentindo aquele vazio inexplicável mesmo depois de conquistarmos o que objetivamos.



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