sábado, 25 de outubro de 2014

Na hora de falar em público, com que personagem você se parece?

"Espera-se domínio do tema, clareza e objetividade, além de apuro quanto ao conhecimento e à pronúncia das palavras"




Você não precisa ser palestrante, consultor empresarial, locutor de rádio, apresentador de TV para ler este artigo. Comunicar-se bem é fundamental para pessoas e profissionais de qualquer área, porque a interação é base de todo e qualquer relacionamento humano. Ninguém existe por si só, mas apenas em relação a algo que lhe é exterior, como a família, o trabalho, os amigos, as atividades intelectuais e de lazer. Em síntese, nós apenas somos o que somos em função dessa relação que estabelecemos com o mundo. E quanto mais ela for aprimorada, mais valorizados seremos como pessoas e profissionais.

No caso das apresentações em público, a cobrança evidentemente é maior. Espera-se domínio do tema, clareza e objetividade, além de apuro quanto ao conhecimento e à pronúncia das palavras. Naquele exato momento em que estamos em uma reunião ou diante de uma plateia, somos do tamanho da nossa comunicação. Isso implica grande responsabilidade. Conhecer a Língua Portuguesa e saber utilizá-la, falar bem, apresentar-se com desenvoltura são requisitos imprescindíveis para a qualidade de uma apresentação em público. Mais do que isso, enquanto comunicadores, temos um compromisso com a imagem que projetamos, pois é ela que nos distingue profissional e pessoalmente.

Para além da impressão digital, todos nós temos algumas características que nos distinguem ao falarmos em público. Um estilo de se comunicar. Quando esse estilo apresenta ruídos ou falhas, pode transformar-se em um estigma. Sabe aquelas pessoas que são definidas por falarem “assim” ou “assado”? Que, ao abrirem a boca, aquele colega com humor mais sarcástico logo sentencia: “Lá vem o(a) _________”?

Quando isso ocorre, o estilo se transforma numa faca de dois gumes. Por um lado, faz com que sejamos reconhecidos imediatamente, conferindo-nos personalidade enquanto comunicadores. Por outro, expõe a nossa vulnerabilidade e resulta em uma série de contratempos tanto para quem fala quanto para quem ouve.

Como a primeira coisa que estamos expondo aos nos comunicarmos somos nós mesmos, vamos imaginar que cada estilo possa ser comparado a um ser... Humano? Sim, mas não necessariamente. Real? Não, fictício. Um personagem? Isso mesmo, mas pode ser humano, animal, objeto ou qualquer coisa que a sétima arte tenha ousado inventar. De preferência, inesquecível. Assim, mesmo aqueles que não são cinéfilos, certamente se lembrarão deles ao mencionarmos seus nomes.

O mais importante não é a biografia desses personagens nem o enredo dos filmes que lhes deram vida, mas o conceito de comportamento por eles apresentado e que podemos associar a determinados vícios de linguagem, ou seja, gafes cometidas de forma recorrente durante o processo comunicativo. No extremo oposto, para não esquecermos dos comunicadores altamente preparados, que trazem em si a marca da eficiência, da segurança e da credibilidade, também vamos incluir nessa lista de estilos um perfil altamente inspirador fornecido pelo universo da telona.

Aviso importante: ao se identificar com alguma característica da qual não há motivo para se orgulhar, continue lendo e descobrirá que, ao contrário dos personagens de cinema que foram eternizados e continuarão sendo os mesmos para sempre, você pode mudar e melhorar muito as suas comunicações.

Estilo Carrie, a estranha

Como na cena final do filme, o comunicador “Carrie, a Estranha” não consegue se controlar quando é o centro das atenções. O medo da rejeição e de não agradar prejudica sua apresentação em diversos momentos e, nos casos mais drásticos, do começo ao fim. Sente-se nervoso, confuso, tropeça nas palavras; a dicção e a articulação são deficien­tes. Gagueja e, mesmo estando preparado e organizado, perde-se com frequência. As palavras são emitidas com dificuldade. Estar ali parece representar um grande sacrifício. Olha para o teto, para o chão ou para o nada, como se pos­suísse uma cortina diante dos olhos. Esconde-se atrás da mesa e do flip-chart. Segura chaves, canetas ou livros. Seus olhos mostram-se constantemente assustados, como se estivesse prestes a ser pego em flagrante.

Estilo Smeagol

Assim como Smeagol, existem aqueles comunicadores que repetem incansavelmente os mesmos termos, transformando-os em vícios de linguagem. São barreiras que interrompem o fluxo da mensagem, impedem a fluência e o ritmo da apresentação e prejudicam a imagem do comunicador quanto ao uso da Língua Portuguesa. Um caso típico é a repetição constante dos mesmos termos, que, no final das contas, revelam-se palavras absolutamente desnecessárias. Exemplos: “Veja bem”, “Está me entendendo”, “Né”, “Ok”, “Certo”, “Está claro?”, “Compreende?” etc. Também costuma criar apêndices no início ou no final das frases: “Bom” (houve algo ruim?), “Na verdade” (houve alguma mentira?), “Na realidade” (até então, tudo era fantasia?), “Enfim” (a conversa chegou ao fim?), “Concorda?” (alguém discordou?) etc.

Como resultado, o ouvinte começa a prestar mais atenção nos vícios de linguagem e nos apêndices do que na mensagem em si.

Estilo Mestre Yoda

Na vida real, o comunicador Yoda é aquele que também “troca as bolas”, não para criar uma charada e exercitar o nosso raciocínio, mas unicamente porque não tem um bom domínio do Português. Pronuncia incorretamente as palavras, cometendo erros graves na hora de falar. Por exemplo: “asterístico” (asterisco); “áurea” (aura); “impecilho” (empecilho); “sombrancelha” (sobrancelha); “interviu” (interveio); “envólucro” (invólucro); “buginganga” (bugiganga); “beneficiente” (beneficente); “desiquilíbrio” (desequilíbrio); “revindicação” (reivindicação); “rúbrica” (rubrica); “fluído” (fluido); “décano” (decano); “fortuíto” (fortuito) etc. Esses e outros erros “doem” nos ouvidos e podem favorecer críticas à formação intelectual do comunicador.

Estilo Dobby (o elfo de Harry Potter)

Exageros à parte, o comunicador estilo Dobby é aquele que não acredita no próprio potencial e assume uma postura de inferioridade. Pede desculpas o tempo todo para a plateia, do começo ao fim da apresentação: “Espero não chatear vocês”, “Serão só 20 minutos”, “Não sei se estou preparado para tão seleta audiência”, “Desculpem por ter tomado o seu tempo” etc.

Essas são falas que afastam os ouvintes, justamente pelo tom de subserviência que deixam transparecer. A segurança e o equilíbrio entre gestos, atos e palavras são condições básicas para podermos gerar credibilidade.

Estilo Robocop

Embora dotado de força e de capacidades muito superiores às dos seres humanos comuns, no quesito interação Robocop deixava a desejar. Afinal, era mais máquina do que homem. Possuía apenas algumas lembranças esparsas de sua história pregressa e sua comunicação também ocorria de forma truncada. Um dos principais sinais dessa deficiência era aquela fala robotizada, parecendo mais uma gravação do que algo espontâneo.

Por incrível que pareça há quem se comunique em público dessa forma: como um robô. Nada do que diz soa espontâneo, como se estivesse lendo um papel invisível, e pior, sem a entonação adequada para manter a interação com a plateia. A comunicação em público exige uma atenção redobrada quanto ao ritmo e à velocidade da fala: se o apresentador falar muito depressa, corre o risco de não ser bem compreendido; se falar de forma exageradamente lenta, poderá aborrecer ou dispersar a atenção da plateia.

O comunicador estilo Robocop é aquele que não segue códigos de interatividade que são fundamentais na apresentação em público. Fala de forma acelerada ou muito pausada. Sua voz possui um único acorde, gerando monotonia. As frases parecem ensaiadas, como se prescindissem da presença do público, e este realmente acaba perdendo o interesse. É como uma entrevista feita ao vivo, porém sem réplica nem tréplica, apenas pergunta e resposta. Não dá a ênfase necessária a frases conclusivas ou que reforçam seu ponto de vista, de forma que a plateia sai da palestra sem ter internalizado uma única informação. Esse tipo de despersonalização também pode atingir a linguagem corporal; os gestos são desprovidos de sintonia com o que está sendo dito e, sobretudo, de emoção.

Estilo James Bond

James Bond é um agente (quase) infalível. Seu ponto fraco é sua própria imagem, excessivamente perfeita, sedutora, irresistível. O mesmo ocorre com o comunicador estilo James Bond. Chega de mansinho, como um felino. Tem uma autoconfiança inabalável. Com uma voz aveludada, estilo locutor de FM, sabe falar bem, tem bom vocabulário, é enfático, usa imagens impactantes, frases surpreendentes, ideias criativas. É, enfim, um bom orador. Deve ter lido muito sobre como encantar as pessoas, principalmente as mulheres. Finge ouvir seu interlocutor, mas tem sempre uma frase de efeito, uma informação inesperada feita para agradar. Quando fala do seu trabalho, usa jargões técnicos para impressionar e entremeia seu discurso com exemplos que atestam seu conhecimento de pessoas famosas, das quais se diz “íntimo”. Claro, somente famosos. Isso dá um sabor especial à conversa.
Na verdade, tudo isso não passa de um jogo de aparências. Aparência nota mil; essência muito a desejar.

Estilo Matrix 1

Nas apresentações em público, os recursos tecnológicos também desempenham um papel-chave, porém não podemos atribuir a eles uma função maior do que apenas a de instrumentos eficazes para a transmissão coerente de informações e conceitos.

Quando isso ocorre, surge o comunicador estilo Matrix, para quem impressionar uma plateia é sinônimo de show audiovisual. Usa e abusa da parafernália eletrônica, como o requisitado PowerPoint. Nesse “desfile de efeitos especiais”, a presença do público torna-se um mero detalhe: o apresentador fica o tempo todo voltado para a tela e pouco interage com a audiência; alguns chegam a ficar de costas para a plateia, impedindo a interação visual. Como resultado, torna-se um refém da tecnologia e rouba dos ouvintes a possibilidade de entrar em contato com o que é mais importante: a sua mensagem.

Estilo Matrix 2 – o reverso

O estilo Matrix também produz um outro tipo de comunicador, que é igualmente refém da tecnologia, porém pelo fato de não saber como utilizá-la. Assim, faz “apresentações a seco”, apoiadas apenas no poder da palavra, o que em plena era da internet e dos milhares de aplicativos disponíveis soa como excessivamente retrô, ou emprega mal os recursos durante a apresentação, resultando em poluição visual, mau uso das cores, excesso de conceitos ou palavras em um único slide, abuso das letras maiúsculas, texto ilegível em função do tamanho reduzido da fonte, erros de digitação.

Estilo Frank Slade

O comunicador estilo Frank Slade é inteligente, sensível e se prepara meticulosamente para suas apresentações. A estrutura de seu discurso é baseada em argumentos consistentes e há uma harmonia entre introdução, desenvolvimento e conclusão. Evita os vícios de linguagem e, com isso, sua comunicação é fluente e sem empecilhos. Sua voz é firme sem ser autoritária. Tem boa dicção e sabe utilizar bem a ênfase e a entonação. Tem um excelente vocabulário e sabe usá-lo de acordo com seu público. Consegue adequar gestos, atos e palavras. Atinge a mente e o coração de seus ouvintes. Transpira credibilidade e profissionalismo. Demonstra naturalidade (não parece fazer força para se comunicar), segurança e é muito autoconfiante sem se tornar egocêntrico. Promove interação, cria um clima harmonioso e produtivo e traz elementos para a plateia pensar e se transformar.

Não estamos livres de vários deslizes em nossa comunicação. Por isso é preciso estarmos atentos na busca de feedback para a melhoria do processo comunicativo em todos os níveis e consequentemente da nossa imagem pessoal e profissional.



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