Trata-se de um modelo de gestão que parte do princípio de
que todo processo produtivo está recheado de atividades que não agregam valor
ao produto
O primeiro relatório econômico do ano, divulgado no começo
do janeiro pelo Banco Central, denominado Focus, “esfriou” um pouco mais o
atual “banho de água fria” da economia brasileira e aumentou o pessimismo do
mercado.
Naquele balanço, o governo estimou que o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2013 deverá recuar de 2,3% (que era a previsão
anterior), para 2,28%. O PIB de 2014 também teve sua previsão rebaixada pelo
Governo, de 2% para 1,95%.
Nesse contexto, nada melhor do que começar a adotar ou se
aprofundar no sistema Lean, filosofia de gestão originária da montadora Toyota.
A empresa japonesa se tornou a maior do mundo utilizando esse modelo de gestão
que inclusive, vem sendo adotado por companhias de todos os setores ao redor do
mundo.
Trata-se de um modelo de gestão que parte do princípio de
que todo processo produtivo está recheado de atividades que não agregam valor
ao produto. O sistema visa identificar o “valor”, sempre sob a ótica do cliente
final. Então, alinhar, na melhor sequência, as etapas necessárias que agregam
esse “valor”. E também realizar essas etapas de maneira contínua e sempre que
alguém as solicita. É a busca pela perfeição.
Para isso, o sistema lean reúne uma série de técnicas,
práticas, pensamentos e atitudes que visam eliminar as atividades
desnecessárias, ou seja, aquelas que não agregam valor, cortando assim custos e
gerando crescimento sustentado para a empresa, o que parece ser a melhor
escolha para enfrentar este cenário apontado para 2014.
Por outro lado, se houver crescimento econômico, trata-se de
um modelo de gestão que, naturalmente, torna a empresa mais competitiva e,
portanto, mais preparada para enfrentar a dura concorrência do mercado
globalizado. Ganha-se, então, em qualquer contexto econômico.
Aliás, foi justamente em meio a uma “crise econômica” que
nasceu tal modelo. Foi na profunda crise do pós-2ª Guerra Mundial que, com o
Japão devastado pelo conflito, a Toyota, então à beira da falência, foi
obrigada a “reinventar” seu modo de produção.
Engana-se, porém, quem ainda acredita que se trata de um
sistema “exclusivo” para ser utilizado na Toyota ou mesmo no setor da indústria
automotiva. Com o tempo, as empresas acabaram descobrindo que o lean se tratava
de um modelo de gestão possível de ser aplicado em empresas de qualquer ramo,
tamanho ou região. Boa parte das companhias brasileiras já adota tal modelo.
Tanto verdade que ele está presente hoje, por exemplo, em diversos ramos além
da manufatura, como na construção civil, no setor de serviços e até mesmo em
hospitais. Mas, por outro lado, boa parte das companhias brasileiras ou ainda
não descobriu o modelo lean ou está nos primeiros passos da jornada. É
possível, ainda, encontrar aquelas que implementam o sistema, mas de forma
equivocada.
Para iniciar a jornada lean e aplicá-lo de modo correto,
gerando uma gestão sustentável, é preciso, antes de qualquer coisa, entender
que o lean é também uma forma de pensar. Por isso, dizemos “pensamento lean”...
O “lean thinking” (ou mentalidade enxuta) é, em resumo, a
“atitude mental” de se realizar, diariamente, de forma incensante, em tudo o
que se faz, a busca pela maximização do valor, isso sempre por meio da contínua
eliminação de desperdícios e da melhoria dos processos produtivos.
Trata-se de um sistema complexo, mas que tem princípios
básicos. O ponto de partida é saber definir, precisamente, o que é “valor”.. O
“pensamento lean” acredita – diferente do que muitos pensam – que não é a
empresa, mas sim o cliente que define o que é “valor”.
Um próximo passo, então, é identificar o “fluxo” desse
“valor”. Isso significa “mapear” a cadeia produtiva e separar os processos em
três tipos: aqueles que efetivamente geram valor, os que não geram valor, mas
que são necessários para a realização dos processos e, por fim, aqueles que não
agregam valor (que devem ser imediatamente eliminados).
Outro princípio importante é a "fluidez" que deve
haver nos processos e nas atividades. Isso exige deixar de lado a idéia da
produção “por departamentos” e pensar a empresa como um todo
Além disso, um conceito fundamental é o da “produção puxada”
que propõe inverter o fluxo produtivo “empurrado” típico das empresas com
gestão tradicional: empresas não mais empurram os produtos para o consumidor,
mas, sim, o consumidor passa a "puxar" a produção. Um dos resultados
consequentes da produção puxada é a redução de estoques.
Por fim, uma das bases do modelo lean é a busca constante e
frenética pelo aperfeiçoamento contínuo em direção a um estado ideal de
processos produtivos. Isso deve nortear todos os esforços da empresa, de forma
transparente, num movimento em que todos os membros da cadeia produtiva tenham
conhecimento profundo dos processos como um todo, podendo dialogar e buscar
melhores formas de criar valor.
Tal esforço para a adoção correta do sistema vale a pena. Em
médio e longo prazo, os resultados típicos de uma implementação do modelo
normalmente significam saltos de desempenho, como aumento de produtividade de
30% a 60%, redução de lead time acima de 50%, redução drástica de custos, além
de liberar capacidade e melhorar a qualidade.
Claro que há uma série de outros conceitos, técnicas e
atitudes que são necessárias e que exigem um profundo aprendizado por parte da
empresa para adotar, da forma correta, tal modelo. De qualquer forma, quem
ainda não entrou na jornada lean a primeira coisa a se fazer é “dar o primeiro
passo”, ou seja, procurar entender as bases do pensamento. Com ou sem cenários
de crises ou baixo crescimento econômico, os resultados serão positivos para o
negócio.
Fonte: Administradores
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