quarta-feira, 21 de maio de 2014

Educação financeira deve começar cedo, e na família

- riscos do consumismo descontrolado; - pais "poupam" filhos dos limites na vida e com o dinheiro; - riscos desta conduta; - relação com o dinheiro é desafio para a família e educação das novas gerações; - cuidados e provocações.




Atendendo famílias empresárias, por mais de 37 anos, nos seus processos de transferência do patrimônio e legado, para as novas gerações, tem sido possível observar que um dos grandes desafios continua sendo o descuido no preparo dos filhos/herdeiros, para uma boa relação com o dinheiro e seus significados.

E este tema tem ainda maior importância num país como o Brasil, onde as fortunas trocaram de mãos de forma muito veloz nas duas últimas décadas. Ou seja, as experiências e lições vividas pela nossa burguesia decadente, não tem produzido alterações no comportamento dos chamados “novos ricos”. Muitos destes mesmos erros vêm sendo repetidos, tanto na ostentação como também na maneira como estes novos “abonados” educam – ou deseducam – seus filhos, na sua relação com o dinheiro, consumo, poder, status...ou seja, com a vida em si mesma.

Empreendedores de origem humilde, que são em grande parte responsáveis pela construção deste novo Brasil empresarial, continuam sendo pais ausentes que procuram substituir o diálogo e formação dos filhos, pelo discurso de que “desejam evitar que seus descendentes passem pelas dificuldades e desafios que ele viveu”, e, desta forma os “poupam” de um processo educativo de conquistas próprias.

E, como resultado de toda esta conduta, terminam produzindo uma sensação de conforto perigoso para os filhos, muitos dos quais se tornam figuras dependentes, financeira e psicológica, dos caminhos já abertos pelas conquistas dos seus pais. Não se sentem, ou menos ainda, consideram-se, preparados para construir sua própria história e percurso de vida.

É evidente que se olharmos este tema na perspectiva de um mercado consumidor, cheio de atrativos e manipulações, os desafios dos dias atuais só tem aumentado para esta juventude. Mais desafiador ainda para um jovem que nasce sob a tutela de um pai brilhante e bem sucedido. Esta referência, e figura de sucesso, pode tornar-se, em si mesma, um inibidor na busca dos seus próprios sonhos, objetivos e fontes de realização. Ser filho de um pai brilhante publicamente é um desafio, maior ainda para filhos despreparados para a vida.

Acrescentando a este cenário familiar um total desconhecimento do custo das conquistas, tanto no plano material como emocional, está criado um paradoxo para o qual a maioria dos jovens de hoje não foi preparada.

Com estímulos de consumo que ainda valorizam muito mais o TER e PARECER, do que o SER, os jovens procuram preencher um vazio existencial com demonstrações externas de poder pela ostentação de marcas, grifes e modismos. Isto quando não se deixam fascinar pelo embalo das drogas, ou vícios, que produzem alienação e uma falta de compromisso com seu presente e futuro. Mas vale sempre lembrar que nada disto está desvinculado do seu passado.

Portanto, não se deve esperar que a escola, mentores, tutores, consultores em gestão de finanças pessoais ou quaisquer outros profissionais possam suprir esta lacuna. Todos eles podem exercer um papel complementar à formação que a família proporcionou aos seus componentes. Especialmente às novas e futuras gerações.

É importante dedicar tempo e atenção aos filhos no sentido de que conheçam algo da sua história familiar, dos valores não apenas manifestados em monólogos e lições de moral. Mas acima de tudo praticados de fato, na coerência entre o discurso e a ação.

Tornar os filhos responsáveis, desde muito cedo por algumas tarefas que possam gerar recompensas. Tratar de forma respeitosa os empregados da casa e dos ambientes freqüentados pela família.

Acima de tudo propiciar uma noção real do valor de tudo que é adquirido e o esforço necessário. Muitos jovens, que receberam tudo de “mão beijada”, não têm noção das profundas diferenças de valor entre um automóvel e uma bicicleta. Para ficar apenas em um exemplo banal. Até porque, ao longo de boa parte da sua vida, nunca tiveram que adquirir absolutamente nada. Tudo lhes foi oferecido ou adquirido mediante o acesso a um cartão de crédito mágico, que ele nunca soube como, quem e porque se pagava.

A atitude de muitos pais que poupam e fazem reservas para o futuro dos seus filhos é louvável. Mas vale sempre lembrar que, numa sociedade que a cada dia mais valoriza a meritocracia, é fundamental para as futuras gerações ter uma noção de como o recurso foi gerado. E, acima de tudo, como fazer para agregar valor ao patrimônio e legado recebidos.

Um dos objetivos deste artigo é provocar reflexões e ampliar o diálogo entre pais e filhos. Nada substitui os efeitos destes momentos, vividos e aprendidos, em família.



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