Os pesquisadores sugerem que a população ainda tem visão de
família nuclear patriarcal, ainda que sob uma versão contemporânea, atualizada
Pesquisa divulgada na última quinta-feira (27) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 58,5% dos
entrevistados concordaram totalmente ou parcialmente com a frase "Se as
mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". Em relação
a essa pergunta, 35,3% concordaram totalmente, 23,2% parcialmente, 30,3%
discordaram totalmente, 7,6% discordaram parcialmente e 2,6% se declararam
neutros.
"Por trás da afirmação, está a noção de que os homens
não conseguem controlar seus apetites sexuais; então, as mulheres que os
provocam é que deveriam saber se comportar, e não os estupradores. A violência
parece surgir, aqui, também, como uma correção. A mulher merece e deve ser
estuprada para aprender a se comportar", dizem os pesquisadores.
Os pesquisadores também perguntaram "Mulheres que usam
roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas": 42,7% concordaram
totalmente com a afirmação, 22,4% parcialmente; e 24% discordaram totalmente e
8,4% parcialmente.
"O acesso dos homens aos corpos das mulheres é livre se
elas não impuserem barreiras , como se comportar e se vestir
'adequadamente'", concluíram os pesquisadores.
Conforme o levantamento, 63% concordaram, total ou
parcialmente, que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos
somente entre os membros da família”, 89% dos entrevistados tenderam a
concordar que “a roupa suja deve ser lavada em casa” e 82% que “em briga de
marido e mulher não se mete a colher”.
Os dados fazem parte da pesquisa Sistema de Indicadores de
Percepção Social (SIPS) - Tolerância social à violência contra as mulheres, que
mostrou ainda que 78,1% dos entrevistados concordam totalmente e 13,3%
concordam parcialmente que a prisão é a punição adequada para o homem que bate
na esposa. A pesquisa colheu dados sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo
e relação familiar.
Os pesquisadores sugerem que a população ainda tem
"visão de família nuclear patriarcal, ainda que sob uma versão
contemporânea, atualizada. Nessa, embora o homem seja ainda percebido como o
chefe da família, seus direitos sobre a mulher não são irrestritos, e excluem
as formas mais abertas e extremas de violência.
Os resultados apontam que a Lei Maria da Penha, que endurece
as punições para o agressor, contribuiu para minimizar a tolerância à violência
contra a mulher. Para a secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra
as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Aparecida Gonçalves,
as tendências machistas vêm mudando. “Apesar de não ter mudado ainda da forma
como gostaríamos, elas vêm se alterando aos poucos, principalmente no que tange
à violência doméstica e familiar”.
Ao todo, 3.810 pessoas foram entrevistadas no ano passado,
sendo 66,5% mulheres.
Outra pesquisa do Ipea apresentou dados sobre o crime de
estupro no Brasil. A estimativa com base nos atendimentos prestados às vítimas
é que, a cada ano, 527 mil pessoas são estupradas no país. Apenas 10% dos casos
chegam ao conhecimento da polícia.
A maioria das vítimas é mulher, sendo 70% são crianças ou
adolescentes. Mais de 92% dos agressores são homens. Pais, padrastos, amigos e
conhecidos representam 56,3% dos criminosos.
Fonte: Administradores
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