sexta-feira, 20 de março de 2015

Uma breve história sobre como ser pessimista foi a decisão mais sensata

Eu sempre achei que otimismo demais geralmente é um mau sinal




É muito legal falar sobre pensar diferente, mudar as coisas, ser criativo e assim por diante. Depois que a história decide os vencedores, podemos chamar um Walt Disney ou um Ghandi de grandes visionários. Ao chegarem a esse ponto, geralmente os períodos de dúvidas e inseguranças já passaram, e sobram os louros da vitória.

Difícil mesmo é passar a sensação de estar do outro lado do consenso, enquanto as coisas estão acontecendo. Como prometi há muito tempo não falar daquilo que não entendo, ou não recomendar comportamentos que não testei, vou falar de duas decisões tomadas num passado recente, para tentar passar a sensação de ir contra a boiada.

A primeira foi quando  “descobriram" o pré-sal. Parecia que o Brasil havia entrado em festa. Em meio a discursos de como o dinheiro salvaria coisas como educação e saúde, criaríamos fundos estratégicos e faríamos parte de um seleto grupo internacional, enquanto as ações da empresa subiam e tinham projeções revisadas para cima, fiz o impensável: vendi as minhas.

Eu as tinha havia pouco menos de três anos e até ganhei um bom dinheiro com elas. Eu estava em uma livraria em um shopping de Curitiba e, ao ver várias capas com aquelas famosas fotos do nosso presidente sujo de petróleo, liguei para a corretora onde tenho conta e pedi para vender tudo.

Naquela época, nem se falava em corrupção como se fala hoje. É que eu sempre achei que otimismo demais geralmente é um mau sinal. Com tantas projeções de ganhos, tanta alegria, decidi que ao menos parte daquilo não poderia se tornar realidade.
A segunda vez foi quando, uns quatro anos atrás, resolvi começar a comprar ativos atrelados ao dólar. Naquele tempo, o otimismo ainda reinava, e tive tempo para ir tomando coragem e aumentar minha aposta.

Hoje é fácil dizer que acertei (também já errei bastante, eu tinha ações de empresas de energia elétrica antes da famosa “canetada” do setor, mas a coluna é minha e eu falo do que quiser). Meu ponto, caro leitor, não é o resultado.

Sabe o que acontece quando você é do contra? Você se sente um idiota completo. É extremamente difícil olhar todas as notícias, ir contra até o que nossos governantes estavam dizendo, tapar as orelhas em cada encontro social em que alguém ecoa a opinião do consenso. Enquanto as coisas estão acontecendo, você se sente um burro teimoso, vendo a coisa continuar andando na mesma direção por um tempo.

Após eu vender as ações, o preço delas continuou subindo. Após eu apostar no dólar, por um tempo eu estive errado. Experimente fazer algo assim e contar para as pessoas à sua volta. Vão te olhar torto, perguntar se está tudo bem. “Todo mundo sabe” que o dólar não vai subir tanto, ou que o pré-sal é um bom negócio. Por que, afinal, você faria algo que iria contra a opinião reinante?

Não vamos medir palavras. Toda vez que você fizer algo diferente, toda vez que assumir algo que vá contra o que a maioria pensa ou faz, em algum momento você vai se sentir um idiota. Basta olhar em volta e não faltarão evidências e opiniões de que você está errado. Como as pessoas à minha volta costumam ser educadas, me acostumei a olhares estranhos e recomendações de fazer o contrário. Resta a boa e velha confiança no taco, e aquela capacidade de ficar no espaço entre o desespero e o otimismo que as pessoas criativas aprendem a ocupar.

Não importa, caro leitor, se estamos falando de investimentos, da decisão de abrir um negócio próprio ou da vontade de mudar de emprego ou carreira. Toda vez que você abandonar uma posição confortável por outra arriscada, a sensação surgirá. Alguns, desconfortáveis com o frio na barriga e as noites mal dormidas, seguirão pelo mesmo caminho trilhado por outros. É uma troca justa: Incerteza por estabilidade.

Para uns, é melhor abrir mão das potenciais recompensas do que assumir os riscos. Para outros, é exatamente o contrário. 

Escolha com cuidado: de qual lado você está?



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