É muito evidente que os dilemas da meia-idade abrangem
várias questões, etapas e papéis da vida. Não podem ficar restritos apenas a
uma das dimensões da nossa existência. Mas por outro lado não podemos negar que
o universo do trabalho, com destaque para a carreira, ganham uma importância
significativa pelo que representam em nossa cultura.
Para Carl Gustav Jung “a meia-idade é o momento do grande
despontar, quando um homem ainda se entrega ao seu trabalho com toda a energia
e vontade. Mas é este o exato momento do início da segunda metade da vida; o
‘outono da vida’, como é chamado. A paixão muda de figura e chama-se agora
obrigação; o ‘eu quero’ torna-se um inexorável ‘eu preciso’; e as curvas do
caminho, que antes traziam surpresas e descobertas, já se tornam tediosas pela
força do hábito. O vinho está fermentado...Procuram-se verdadeiras motivações e
fazem-se verdadeiras descobertas. O exame crítico de si próprio e de seu destino
permite ao homem reconhecer suas peculiaridades. Essa conscientização, porém,
não lhe sobrevém facilmente; ela só é alcançada mediante os mais violentos
choques”.
Para a maioria dos profissionais a idéia de carreira
significa, erroneamente, um processo de crescimento sempre vertical. Não
admitem muitas vezes carreiras horizontais ou ampliação de desafios em posições
já ocupadas.
Para muitos a carreira pode ser importante fonte de
estabilidade, mas também de frustração. A estagnação profissional pode ser
conseqüência natural do estreitamento da pirâmide da organização, especialmente
em períodos de crescimento limitado. Portanto a decorrência natural é que a
maioria dos executivos chegará a um ponto de paralisação em suas carreiras. E
na maioria das organizações não existem instrumentos de auxílio para o
confronto com o fracasso na vida corporativa.
O que ocorre muitas vezes são alguns arranjos ambíguos de
deslocamento horizontal ou rebaixamento disfarçado. Ou até, como última medida,
a demissão pura e simples.
É evidente que cada vez mais os executivos devem
apropriar-se das suas carreiras – e sua vida – não entregando simplesmente
estas atribuições às empresas.
Segundo o economista e professor do comportamento
organizacional holandês, Manfred Kets de Vries, é na metade da carreira,
provavelmente, que o executivo deverá enfrentar um primeiro embate face-a-face,
o primeiro confronto consigo mesmo. Levará em conta não apenas aquilo que fez,
mas também o que não fez. Traços de personalidade aliados a circunstâncias
externas determinarão sua maneira de enfrentar o balanço que fará de sua vida,
especialmente a forma de encarar a carreira e a relação conjugal”.
Vries pesquisou e concluiu que existem quatro estilos
principais com que os executivos interagem com seus ambientes nesta fase. É
evidente que nunca existe um “estilo” puro. Existe uma certa ‘contaminação’
entre os mesmos.
Apenas a título de contribuição para o leitor descrevo
abaixo uma síntese dos quatro estilos pesquisados pelo professor Manfred Vries.
Estilo construtivo:
É representado pelos executivos que desejam, realmente,
engajar-se em uma avaliação realista e apresentam capacidade de reestruturar
suas experiências através de novas informações e aprendizagens. Conseguem desta forma repartir seus recursos,
habilidades e criatividade para auxiliar o desenvolvimento da geração de
profissionais mais novos. Portanto este período de vida torna-se o tempo de
auto-confiança, satisfação e realização.
Sentem que estão no apogeu de sua capacidade, e que podem
lidar com ambientes altamente complexos. Para estes profissionais a crise na
meia-idade é um período bastante calmo; não há o aspecto dramático e traumático
que pode existir para outros.
Estilo Acomodado:
Alguns executivos encaram seus ambientes de uma forma
basicamente realista, mas se relacionam de modo mais passivo com o mundo à sua
volta. Podem ser chamados de Acomodados. Tais pessoas não possuem aspirações
elevadas e facilmente se satisfazem. Suas vidas não conhecem tormentos; não são
de ‘balançar o barco’. Para alguns pode até parece exagerado falar de crise no
meio da carreira. Esta fase passa sem dramas. São pessoas que executam bem seu
trabalho estando com ele envolvido por longo tempo. Não apresentam ambições de
melhoria salarial ou de status. Sentia-se satisfeito com a autonomia do seu
cargo. São descritos como agradável, simpático, obediente à autoridade e sem
agressividade. Esta situação poderá ser interrompida apenas por uma demissão
abrupta.
Estilo Defensivo:
A combinação do caráter ativo com uma orientação distorcida
e irrealista em relação ao mundo produz o estilo defensivo. Os executivos deste
grupo apresentam, freqüentemente numerosos sintomas de stress. A vida é
suportada e muitas vezes sentida como algo bastante tedioso. São profissionais
fortemente sujeitos ao pânico quando percebem de que suas vidas – pessoal e
profissional - podem ter-se dirigido para fins que, nesta fase, consideram
errados. A incidência de obsolescência no emprego é bastante comum entre os
executivos deste grupo. Não apresentam nenhuma disposição pra treinar a geração
mais nova e procuram guardar para si todo o conhecimento adquirido. Tornam-se
irritadiços e podem comprometer tanto sua vida pessoal, conjugal como familiar.
Estilo Depressivo:
Com certas características do estilo defensivo, o Depressivo
possui também uma combinação de passividade com uma orientação distorcida em
relação à vida. Culpar outros, auto-depreciação, sentimento de fracasso e
pessimismo são fortes características deste grupo. O sentimento é de que não
alcançaram suas aspirações originais. A vida se viveu por nada e não existe
razão para continuar existindo. Não confiam em si mesmos para um novo começo e
também não acreditam que possam continuar aprendendo ou progredindo. Duvidam de
que, algum dia, possam ter alguém que os admire. E o atingir a metade da
carreira traz a sensação de ser sempre tarde demais. Apegam-se fortemente ao
passado procurando isolamento e apresentando uma série de distúrbios
psicossomáticos.
É evidente que esta resumida descrição dos estilos deve
servir apenas para algumas referências e reflexões.
Além de demonstrar a importância da vida profissional é
evidente que nesta fase da meia-idade todo este ‘balanço’ de vida ganha
importância. Muitas vezes este não é um processo isento de dor e frustrações.
Mas é de grande utilidade.
Fonte: Administradores
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