O colunista Ricardo Voltolini fala sobre o livro Lições de
um empresário radical, que ensina como ser sustentável na prática
Se entre as resoluções de início de ano você prometeu ler um
livro fora da lista dos mais-mais, desses que fazem a diferença para a
carreira, mas ainda não cumpriu a promessa, ainda dá tempo: proponho Lições de
um empresário radical, do autor Ray Anderson. É uma aula de sustentabilidade na
prática. Um banho de evidências que vão desconcertar os céticos que ainda acham
- sim, eles existem nas diferentes camadas de uma empresa - que este conceito é
bandeira de abraçadores de árvores e se contrapõe à lógica da gestão de
negócios lucrativos.
Até a primeira metade da década de 1990, a InterfaceFlor era
uma desconhecida fabricante de carpetes que, nas palavras de Anderson, o seu
presidente, guiava-se, sem culpas, pela doutrina do business as usual. Nela,
muita produção de fumaça nas chaminés e volumosas montanhas de lixo despejadas
em aterros sanitários representavam a prova material de que o negócio
prosperava. Significavam mais empregos, mais pedidos entrando, produtos saindo
e dinheiro no banco.
Em 1994, fez-se a luz. Impactado pela leitura de A ecologia
do comércio, de Paul Hawken, Anderson teve o insight de que, a partir daquele
momento, “não tiraria da terra o que a terra não pudesse repor”. Como resultado
imediato do desafio auto-estabelecido, pariu um projeto chamado Missão Zero,
cuja ambição é eliminar os impactos ambientais da companhia até 2020. À época,
vale dizer, Anderson foi considerado excêntrico, um doidivanas disposto a
rasgar dólares em nome da preservação da mãe natureza – tratamento, aliás, normalmente
aplicado aos visionários.
Os números confirmam o acerto da estratégia de Ray Anderson.
Em 15 anos de iniciativa, a InterfaceFlor reduziu as emissões de gases de
efeitos estufa em 94%, o consumo de combustível fóssil em 60%, o desperdício em
80% e a utilização de água em 80%. Ah, céticos de plantão, fez tudo isso
aumentando as vendas em 66%, duplicando os resultados financeiros e elevando as
margens de lucro.
Conheci Anderson em 2008, durante um evento realizado no
Brasil. E ouvi de sua boca algumas de suas interessantes teses e também uma
parte das histórias contadas neste livro. Relatou-me com entusiasmo juvenil a
sua metáfora da “escalada da montanha da sustentabilidade”, detendo-se em cada
um dos sete estágios, para fazê-la da base ao topo, muito bem detalhados em
Lições de um empresário radical. Foi especialmente enfático ao argumentar sobre
como motivou os funcionários a incorporar os princípios de sustentabilidade no
cotidiano de suas atividades. “Fico feliz de ver que hoje até os colocadores de
carpete sentem orgulho em dizer aos clientes que sua missão é preservar a
natureza”, afirmou-me.
Anderson morreu em 2011. Este livro, que deveria ser leitura
obrigatória em qualquer escola de negócios, é o legado mais importante dele: um
líder contemporâneo que provou que sucesso empresarial só acontece com respeito
ao meio ambiente e às sociedades.
Fonte: Administradores
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