Definir objetivos ambiciosos e trabalhar por eles é, sem
dúvida, algo importante. Mas precisamos adquirir sensibilidade para entender
possíveis excessos
A lista de empresas em processo de downsizing (enxugamento)
é longa: American Airlines, Cisco, IBM, Kraft, Hewlett-Packard e American
Express. Enquanto isso, Ford, Nokia e Procter & Gamble estão reduzindo a
quantidade (e a complexidade) de seus produtos para readquirir competitividade
no mercado. Ou seja, em lugar de crescer, essas empresas estão encolhendo.
É interessante notar que essa tática corporativa (reduzir,
simplificar, diminuir) também pode ser útil para nós como indivíduos, já que,
sem saber, acabamos muitas vezes influenciados por um perigoso paradigma. O
"paradigma do maior", "do mais rápido", "do que mais
cresce", "do que mais vende ", "do mais competitivo".
Um círculo vicioso que tem prejudicado várias empresas e que pode contribuir
para aumentar nossas frustrações.
Vejamos, portanto, algumas dimensões de nossa vida que podem
ser reduzidas para melhorar nossa carga diária de estresse e, quem sabe,
ajudar-nos a readquirir novo impulso, assim como essas empresas.
Reduzindo a dependência das tecnologias digitais
Estudos coordenados pelo neurobiólogo britânico Simon
Laughlin, da Universidade de Cambridge, demonstram que o cérebro humano pode
ter chegado ao limite da sua capacidade devido a peculiaridades termodinâmicas.
Segundo ele, o problema estaria relacionado a uma limitação no fornecimento de
energia para os neurônios e no "superaquecimento" de nossas conexões
cerebrais.
Otimista, no entanto, um artigo da revista Scientific
American contorna a situação, afirmando que as tecnologias digitais
(principalmente a internet) nos disponibilizam várias maneiras para burlar essa
limitação. Afinal, a internet guarda nossas memórias, nos informa, planeja
nossas atividades e nos ajuda a tomar decisões, verdade? Não sem um preço!
O psiquiatra Elias Aboujaoude, da Universidade Stanford, em
seu livro "Virtually You: The Dangerous Powers of the E-Personality"
,vincula uma série de enfermidades mentais à nossa dependência digital. E não
estamos falando de coisas simples, mas de transtornos obsessivo-compulsivos,
ansiedade e até depressões. Segundo ele, a internet faz com que criemos um
alterego. Um "eu" que vive no mundo virtual e que, ao desconectar-se,
precisa conviver com uma realidade bastante diferente.
Por estranho que possa parecer, diminuir nossa dependência
das tecnologias digitais pode vir a ser uma boa ideia. Pode nos ajudar a nos
sentirmos mais relaxados e até fortalecer nossas relações interpessoais.
Aquelas entre pessoas de carne e osso.
Simplificando nossas escolhas
Na China comunista de Mao Tse-Tung, os cidadãos não podiam
escolher livros, roupas ou sapatos. Aliás, não podiam escolher o destino de
suas próprias vidas. E, sem o poder da escolha, homens e mulheres eram privados
não apenas de sua liberdade mas de sua autonomia, um direito fundamental. Mas
hoje, felizmente, a situação é outra. Já que muitos chineses podem exercitar
sua liberdade e escolher entre 165 variedades de sucos industrializados, 30
marcas de bronzeadores ou 40 tipos de pastas de dente.
Mas será que esse estrondoso incremento de opções (e
decisões) melhora ou deteriora nossa autonomia? Afinal, quem nunca se sentiu
impotente diante das 20 opções de hotéis na internet? Confuso diante dos 15
diferentes tipos de dieta ou frustrado com todos os programas dos 115 canais da
TV a cabo? Qual será a melhor esposa (ou marido) para mim? Qual será a melhor
maneira de educar nossos filhos? Qual será o melhor trabalho para meu futuro...
Qual será, enfim, a melhor escolha?
Aparentemente, a busca constante pelo "melhor"
(entre um número cada vez maior de alternativas) consome uma energia para a
qual nós não estamos biologicamente preparados. Diz Barry Schwartz, autor do
livro "The Paradox of Choice". Segundo ele, o excesso de alternativas
não nos torna necessariamente “mais” livres. Mas pode nos levar a um estado de
impotência ou marasmo.
Para Schwartz, uma maneira de melhorar essa situação
consiste em reconhecer que muitas vezes "bom o suficiente" pode ser
suficientemente bom para nós. E que o perfeccionismo não é uma virtude, mas um
defeito, já que nos remete a um constante estado de insatisfação. É prudente,
portanto, limitar nossas escolhas e parar de buscar a perfeição em todas as
facetas de nossas vidas.
Diminuindo expectativas
Meu filho se preparava para um acampamento com sua escola.
Seria e primeira vez, em seus doze anos de vida, que embarcaria numa viagem
longe de nós. Um dia antes do embarque, ele não se continha com tantas
expectativas. Expectativas sobre os passeios programados, sobre a praia, sobre
a comida, sobre as brincadeiras e sobre a viagem em si. A semana passou e, de
volta à casa, fizemos a pergunta inevitável: como foi a viagem? E a resposta
logo veio: não foi como eu esperava! O tempo não estava bom, os passeios eram
sem graça, alguns dos meus colegas brigaram e eu passei mal durante a viagem. Podia
ver a frustração estampada no seu rosto. Uma sensação causada, sobretudo, pela
distância entre suas expectativas e a realidade que ele encontrou.
Curiosamente, todas essas variáveis (tempo instável,
possibilidade de sair alguma confusão entre jovens de doze anos ou alguém
passar mal) são perfeitamente prováveis nesse tipo de passeio. Mas, mesmo
assim, não faziam parte de sua mentalização dias antes do embarque.
A experiência com meu filho vem apenas a confirmar nossa
tendência de projetar expectativas. Aliás, muitos de nós projetarmos nossas
expectativas em tudo: em pessoas, em produtos, em situações ou em
relacionamentos. E, em excesso, a rotura dessas expectativas podem causar
frustração e estresse desnecessários.
Definir objetivos ambiciosos e trabalhar por eles é, sem
dúvida, algo importante. Mas precisamos adquirir sensibilidade para entender
possíveis excessos. Mais do que isso, precisamos ajustar suas expectativas e
considerar as opções (ou resultados) que não sejam necessariamente aqueles que esperamos.
Enfim. Aumentar, avançar e multiplicar são todas palavras
muito importantes no que se refere a nossa carreira. Todas, aliás, cheias de
conotações positivas. Mas o segredo pode residir na habilidade de reduzir,
diminuir, ou simplificar quando necessário.
Fonte: Administradores
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