Mais do que a troca de presentinhos, algumas datas se
transformaram em verdadeiros impulsionadores do comércio e modificaram o
comportamento do consumidor
Véspera de Natal, supermercado lotado, pessoas em alvoroço,
correndo contra o tempo para encontrar o que falta para a ceia e ainda sair a
tempo de passar em alguma loja para comprar os presentes dos amigos e da
família. Para os mais rigorosos com a tradição religiosa, uma cena de
consumismo que deturpa o real significado da data. Para o mercado, a melhor
época do ano. Julgamentos de valores à parte, o fato é que as datas
comemorativas têm um papel crucial nas economias (principalmente para o
comércio) e, no fim das contas, acabam até fazendo pelo menos uma boa ação:
geram dezenas de milhares de empregos temporários, dos quais uma parte
significativa se torna efetiva. Celebrar, definitivamente, é um bom negócio.
No Brasil, as cinco datas comemorativas mais importantes são
Natal, Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais e Dia das Crianças. De
acordo com Roque Pellizzaro Jr., presidente da Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL), o Natal, sozinho, gera um faturamento equivalente a
três meses normais do ano. Segundo ele, o motivo é o fato de a busca não ser
somente por presentes, como nas demais épocas. “Todas as datas movimentam
faixas específicas. O Natal movimenta todas. No final de ano, geralmente, as
pessoas querem reformar a casa, trocam o carro, fazem compras para a ceia e, é
claro, compram presentes”, explica.
Nas demais, de acordo com Pellizzaro Jr., o acréscimo varia
de 30% a 60%, na comparação com o mês anterior. Na hora de fechar a conta do
ano, são as épocas festivas que garantem o equilíbrio. É na Páscoa, por
exemplo, que o mercado do chocolate tem seu maior movimento. De acordo com
Fernanda Della Rosa, assessora econômica da Fecomercio-SP, a data foi
responsável por mais de 70 mil contratações temporárias, um número maior até
que o da segunda data mais tradicional ano, o Dia das Mães. Conforme ela
explica, isso se dá porque a Páscoa movimenta, além do comércio, a indústria,
que inicia a produção e, consequentemente, começa a contratar nos meses
anteriores à comemoração.
Para o Natal deste ano, a FecomercioSP calculou em novembro
155 mil contratações temporárias no Brasil, sendo 80 mil para o Sudeste, das
quais 46 mil apenas para o estado de São Paulo. Segundo Della Rosa, 15% dessa
mão de obra deve ser efetivada. Uma pesquisa encomendada pelo Serviço de
Proteção ao Crédito (SPC) e a CNDL, entretanto, é ainda mais otimista. Os
resultados mostram que mais de 290 mil varejistas afirmaram estar dispostos a
contratar pelo menos um temporário para o final de ano
Aumento na demanda, desafio para o atendimento
Com mais gente procurando produtos e serviços, as empresas
precisam ficar atentas a um quesito crucial: o atendimento. “As datas
comemorativas são sempre um desafio nessa parte, porque todos os
estabelecimentos estão procurando atrair a atenção dos clientes, com promoções
e ações especiais. A concorrência é grande e, se o cliente não ficar
satisfeito, vai para a loja ao lado na mesma hora. Por isso, é preciso um
treinamento adequado. É importante que o lojista se prepare e prepare sua
equipe para atender bem”, afirma Della Rosa.
O desafio do e-commerce
Com o aumento do poder aquisitivo da classe C, um número
cada vez maior de brasileiros tem conseguido acesso à internet e adquirido o
hábito de fazer compras on-line. Com isso, as empresas de e-commerce têm
desafios maiores a cada dia, no que diz respeito à segurança de dados
fornecidos e algo que ainda é um calo incômodo e já causou grandes transtornos
em épocas de pico, como o Natal: a logística. Por isso, para aproveitar as
oportunidades geradas para as datas comemorativas, as empresas precisam traçar
estratégias que evitem ao máximo problemas que afastem os consumidores. Assim,
todos ganham.
“Primeiramente, a empresa precisará preparar sua loja para
qualquer ação de marketing, desenvolvendo um ótimo layout com todas as boas
práticas de aumento de conversão, fazer uma boa elaboração da vitrine, dando
ênfase aos produtos que pertencem às categorias mais vendidas, criar promoções
etc. No caso das empresas de pequeno e médio porte, devem atentar-se a manter
todos os produtos divulgados em estoque, para entregá-los em um prazo
competitivo, passando confiança, brigando assim com os grandes players”,
explica Felipe Martins, CEO da Dotstore, empresa que desenvolve soluções de
e-commerce para empresas.
Felipe acrescenta ainda que, caso necessário, com
antecedência, as empresas devem “investir na contratação de novos colaboradores
e passar constantes treinamentos aos mesmos, planejar e talvez estudar a
possibilidade de uma segunda empresa de logística para o caso de a principal
falhar, efetuar todos os testes necessários e fazer ajustes em seu sistema e/ou
plataforma para que não aconteça de um cliente conseguir comprar produtos que a
loja não tenha em seu estoque”.
Mercado quer fortalecer outras datas
Diante do grande potencial das datas comemorativas, o
mercado está sempre atento a novas oportunidades. Com o envelhecimento da
população, o mercado de produtos específicos para a terceira idade, por
exemplo, começou a apostar no Dia dos Avós, comemorado em 26 de julho. “Já está
havendo uma atenção maior da economia para essa parcela da população e o Dia
dos Avós é uma data que já começou a ser trabalhada e deve ser fortalecida nos
próximos anos”, explica Roque Pellizzaro Jr., presidente da CNDL.
Como surgiram as principais datas comemorativas
Apesar do apelo comercial, as datas comemorativas mais
tradicionais não são invenções do mercado (que apenas deu um jeitinho de
utilizá-las a seu favor).
Natal
Em um país eminentemente cristão como o Brasil, é um feriado
que dispensa explicações. Marca o dia do nascimento de Jesus Cristo. Antes de
ser absorvida pela Igreja Católica com esse fim, a festa já era comemorada por
culturas pagãs, com o objetivo de marcar o nascimento anual do deus Sol. Pelo
caráter de confraternização que tem, criou-se o hábito de, nessa época, trocar
presentes e reunir familiares e amigos para uma refeição especial.
Data universal: 25 de dezembro
Dia das Mães
Uma manifestação que existe desde a Grécia Antiga, como
homenagem à deusa Reia, mãe de Zeus e considerada a matriarca de todos os
deuses, ganhou seu significado moderno nos Estados Unidos, como homenagem às
mães que perderam filhos na Guerra Civil Americana. Algumas décadas depois, sob
influência dos EUA, foi trazido para o Brasil, durante o primeiro governo de
Getúlio Vargas. No final dos anos 1940, começou a ser explorado comercialmente
no país.
Data no Brasil: segundo domingo de maio
Dia dos Pais
Surgiu nos EUA, em homenagem a um pai que criou seis filhos
sozinho. No Brasil, a origem mais plausível é comercial, através de uma ação
atribuída ao publicitário carioca Sylvio Bhering, em 1953.
Data no Brasil: segundo domingo de agosto
Dia dos Namorados
Na Europa e nos EUA, é comemorado no Dia de São Valentim,
que, segundo a tradição, se impôs contra a proibição de casamentos determinada
pelo imperador romano Cláudio II e foi executado por isso. No Brasil, a
comemoração entrou para o calendário festivo, provavelmente, graças a uma ação
do publicitário João Dória, nos anos 1940.
Data no Brasil: 12 de junho
Dia das Crianças
Foi instituída por uma lei federal no início do século
passado e tinha como objetivo simplesmente homenagear os pequenos. Mas não
emplacou. Nos anos 1960, entretanto, uma ação da marca de brinquedos Estrela
com a “Johnson & Johnson” resgatou a iniciativa, que tem dado muito certo
até hoje.
Data no Brasil: 12 de outubro
Fonte: Administradores
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