Por mais capaz e competente que seja o empreendedor, ele não
consegue vislumbrar todas as diversas perspectivas e nuances que cercam seu
negócio
Um dos exercícios mais valiosos que um empreendedor pode
realizar para o bem do seu negócio é a abertura às críticas construtivas sobre
as idéias relacionadas ao seu empreendimento.
Por mais capaz e competente que seja o empreendedor, ele não
consegue vislumbrar todas as diversas perspectivas e nuances que cercam seu
negócio, sobretudo se ele é um especialista por formação ou por experiência em
uma determinada área. Na maioria das vezes, um excelente técnico encontra
dificuldades em compreender as regras de mercado e a receptividade do seu
público-alvo às características intrínsecas de seu produto. Da mesma forma, um
analista financeiro não se sente à vontade ao lidar com aspectos relacionados
aos bastidores das negociações comerciais e políticas com parceiros, clientes e
fornecedores.
A verdade é que não existem empreendedores completos,
detentores de 100% de todas as características que tanto ouvimos e elevam os
empreendedores à categoria de ‘super-homens’. Até os mais proeminentes
empreendedores conhecidos, se cercaram de pessoas competentes em habilidades
complementares às suas.
Conhecer o negócio por inteiro é, portanto, um dos
requisitos fundamentais de todo empreendimento de sucesso. Como já mencionado
em outros artigos, o Plano de Negócios é um dos instrumentos que ajuda o
empreendedor a: ou conhecer melhor o seu negócio, ou se dar conta da sua
ignorância sobre todos os fundamentos a ele relacionados.
‘Como saber o que posso estar esquecendo de importante sobre
o meu negócio?’. Esta é uma das maiores angústias do empreendedor veterinário
que abriu uma pet shop, do tecnólogo que abriu uma assistência técnica em micro
informática, do jornalista que abriu sua assessoria de imprensa e outros
profissionais que estão batendo cabeça em suas aventuras pelo mundo
empreendedor.
O teste do Advogado do Diabo é uma forma de lidar com esta
questão. Trata-se de uma técnica que abre espaço para o processo de validação
de uma idéia, seja ela uma proposta de solução de um determinado problema, um
novo negócio ou a avaliação de uma oportunidade. O empreendedor cerca-se de
pessoas que façam parte de sua equipe, especialistas em diversas áreas ou
pessoas de confiança, para um encontro com este fim específico. Cada
participante representa o papel do advogado do diabo, um algoz, mesmo que
acredite firmemente nas idéias. É um exercício que estimula o pensamento
reverso, a capacidade de enxergar as mesmas coisas sob outros ângulos, um
brainstorming ao contrário, sem o intuito de criar novas idéias, mas validar
aquela que já existe, questionando-a, criticando-a, colocando-a em situações de
conflito, levantando objeções e duvidando de sua viabilidade.
Quando o grupo adota esta postura, está na verdade testando
a idéia, colocando à prova seus conceitos e fundamentos, legitimando a proposta
e identificando pontos importantes que precisam de uma resposta aceitável. O
objetivo do grupo não é a malhação da idéia pura e simplesmente falando, mas
tentar levantar questões que não necessariamente o empreendedor tenha se
atentado, ou dado a devida importância.
Numa sessão do advogado do diabo o empreendedor não precisa
ter resposta para todas as perguntas que a sua equipe fizer, mas precisa estar
atento para buscar uma solução para um item que ele julgue importante e que não
havia sido cogitado antes. O advogado do diabo parte do pressuposto que nada
está bom, nada está funcionando bem, nada pode ser assumido como garantia de
sucesso. Para ele sempre haverá alguma falha em algum ponto do modelo. Muitos dos itens que farão parte
do Plano de Negócios sairão de uma dinâmica como esta.
O mais difícil na condução desta técnica é saber diferenciar
as críticas construtivas das negativas sem o viés gerado pelo sentimento de propriedade
e paternalismo sobre a idéia. Por isso, as sessões em grupo são mais eficazes,
pois as perguntas evoluem a partir da troca que ocorre dentro do grupo. Por
exemplo, um pergunta, o outro complementa, um terceiro dá um exemplo e o quarto
sugere as conseqüências. Os quatro, assim, corroboram e colaboram para a
compreensão ampla da preocupação levantada.
Outro problema que costuma surgir neste exercício é a
tendência do empreendedor assumir uma postura excessivamente defensiva,
buscando sempre uma justificativa e uma resposta plausível para todos os
comentários que surgem. É preciso lembrá-lo que não se trata de uma defesa
pública de sua idéia, ele não precisa ‘inventar’ respostas para convencer os
outros que sua idéia é boa, em lugar disso, é uma boa prévia que simula as
perguntas que uma banca de investidores, por exemplo, poderia fazer, mas com o
conforto de poder dizer simplesmente: ‘Não sei, não havia pensado nisso, mas
vamos verificar!’ pois ele se encontra entre amigos, parceiros e sócios que, inclusive,
deverão se mobilizar depois para ajudar a cobrir estes buracos descobertos no
modelo de negócio.
A regra é: Descubra seus próprios defeitos, antes que os
outros o façam!
Fonte: Administradores
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo participação!