Existem milhões de teorias difundidas em diversas áreas pelo
mundo. No entanto, você precisa saber algo que todas elas têm em comum
Eu não desejo cair em um buraco pensando em como devo
desenvolver teorias. Além disso, esse é o trabalho de psicólogos cognitivos,
que estudam a produção de conceitos e padrões de reconhecimento, mas nunca
dizem muito sobre como pensamos. Quero começar explicando sobre o que a teoria
não é, e então, passarei cautelosamente para o que elas parecem ser.
O que a teoria não é: verdade
É importante perceber, ainda no começo, que todas as teorias
são falsas. Elas são, no final das contas, apenas palavras e símbolos em um
papel, sobre uma realidade que parecem descrever. Por não serem realidade, elas
simplificam. Isso significa que nós devemos escolher nossas teorias, baseados
no quanto elas são úteis, e não na quantidade de verdade que elas apresentam.
Um exemplo simples explicará bem: em 1492, nós descobrimos a verdade. A terra é
redonda, e não quadrada. Será mesmo?
Para realizar essa descoberta, Cristóvão Colombo enfrentou
os mares. Mas algum dos construtores de seus navios, ou até seus sucessores,
conhecia a curvatura exata do mar? Eu acredito que não. Até então, a teoria que
a terra era plana funcionava perfeitamente bem na construção de navios, mas não
servia na hora de navegar. Aí a teoria que a terra era redonda funcionava bem
melhor, ou então, nós nunca teríamos notícias de Colombo de novo.
Na verdade, uma viagem à Suíça facilmente provará que
teorias são mentirosas. Não é uma coincidência o fato de que não foi um suíço
quem apresentou a ideia da terra redonda. A Suíça é o lugar da teoria que diz
que a terra tem formato irregular. Essa teoria é considerada global (de acordo
com os próprios satélites, a terra não é redonda, tem protuberâncias no
Equador).
Se a terra não é redonda, plana ou meio a meio, como esperar
que qualquer outra teoria seja verdade? Donald Hebb, um renomado psicologo,
resolveu esse problema bem: “A boa teoria é aquela que se sustenta tempo
suficiente até você encontrar uma teoria melhor”.
Mas como nossos exemplos já tornaram isso claro, a teoria
seguinte nem sempre é melhor ou mais útil para ser aplicada. Por exemplo, nós
provavelmente ainda usaríamos a física de Newton mais que a de Einstein. É isso
que faz a moda nas ciências sociais tão disfuncional, como a obsessão dos
economistas por mercados livres ou a fascinação que o behaviorismo exerce nos
psicólogos. A teoria em si pode ser neutra, mas a promoção de uma ideia como
verdade a torna um dogma, e isso faz com que paremos de pensar em prol da
doutrinação. Então, precisamos de todos os tipos de teorias – quanto mais,
melhor.
Como pesquisadores, estudiosos e professores, nossa
obrigação é a de estimular o pensamento, e de uma maneira positiva, que nos
ofereça teorias alternativas – diversas explicações do mesmo fenômeno. Nossos
estudantes e leitores devem deixar nossas salas de aulas e publicações
ponderando, imaginando, pensando, e não sabendo.
O que o desenvolvimento da teoria não é: objetivo e dedutivo
Se as teorias não são verdades, como elas podem ser
objetivas? Nós fazemos uma grande confusão acerca da objetividade da ciência e
na pesquisa, portanto, confundimos dois processos bem diferentes: a criação da
teoria e o teste da teoria. O primeiro baseia-se no processo de indução (do
particular para o geral, de informações tangíveis a conceitos gerais), enquanto
o segundo é formado através da dedução (do geral para o particular).
Eu fico feliz que outras pessoas testem teorias, façam
pesquisas dedutivas. Isso é útil; nós precisamos descobrir não se aquela teoria
é falsa (já que todas são), mas se pelo menos como, porque e onde ela funciona
melhor em comparação a outras. No entanto, eu simplesmente não acredito que
precisamos de tanta gente fazendo isto na nossa área, comparado à pequena
quantidade de pessoas que criam teorias interessantes. Eu, pessoalmente, sempre
considerei a vida muito curta para testar teorias.
Nunca deixa de me surpreender como nos amarramos a testar
hipóteses no nosso campo, seja em questões do tipo “como planejamento paga?” ou
“empresas agem certo ao fazer bem?”. Talvez o problema seja que nossas teorias
falem sobre nós mesmos, e como podemos ser objetivos sobre isso? É isso que me
motiva a ressaltar: devemos inventar explicações, não encontrá-las.
Nós não descobrimos as teorias, nós as criamos. E essa é a
grande diversão. Se pelo menos alguns dos nossos estudantes doutores
experimentassem! Mas não, eles foram ensinados a ser objetivos, científicos (no
sentido limitado da palavra), o que significa que nenhuma criação, apenas a
dedução, é academicamente correta. Anos atrás em uma publicação de administração
estratégica, o editor escreveu que “para nossa área continuar com esse
crescimento, é preciso desenvolver ligações entre pesquisa e prática, e então,
melhorar nossas pesquisas e o entendimento de que relevância vem do rigor”
(Schendel 1995:1).
Essa reivindicação não foi rigorosa, já que nenhuma
evidência foi apresentada em seu nome. Como sempre, foi levado como um artigo
de fé. Leia as publicações “rigorosas” da nossa área, e você chegará uma
conclusão oposta: que esse tipo de rigor, metodológico, encontra seu caminho
para relevância. Pessoas muito preocupadas em fazer sua pesquisa corretamente
geralmente falham na perspicácia. Claro, o rigor intelectual não fica no
caminho da relevância. O editor se referiu a isso no editorial como “lógica
cuidadosa”, mas o que ele quis dizer foi o seguinte: “pesquisas nessa área não
devem ser especulações, opiniões, ou jornalismo esperto; devem ser sobre
produção de trabalhos nos quais as conclusões possam ser desenhadas
independentemente do público-alvo da pesquisa ou dos resultados que foram
atribuídos”.
Eu vejo como uma pesquisa burocrática, porque procura
observar a dimensão humana – imaginações, insights e descobertas. Se eu
estudasse um fenômeno e através dele surgisse uma boa teoria, não seria certo
desenvolvê-la porque ela pertenceria a outra pessoa? Aceite isso e você estará
rejeitando praticamente todas as teorias, da física à filosofia, porque nós
todos somos esforços idiossincráticos, invenções de mentes criativas. (Já
pensou? “Desculpe-me, Einstein, mas sua teoria da relatividade é muito
especulativa, não foi comprovada, então não podemos publicá-la”).
É por isso que vemos tão pouca indução na nossa área, a
criação de poucas teorias interessantes. O estágio inicial, o ato de conceber
ou criar uma teoria, não me parece algo para chamar de uma análise lógica, por
não estar suscetível a isso. A questão é de como a nova ideia surge para o
homem – seja um tema musical, um conflito dramático ou uma teoria científica.
Essa pode ser uma ótima sugestão de pesquisa para psicologia científica; mas é
irrelevante para a análise lógica do conhecimento científico.
Fonte: Administradores
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo participação!