Quanto maior a transparência e o esclarecimento das
expectativas entre empregador e empregado, menor a frustração no trabalho
Conheço essa máxima há mais de dez anos, quando tive a
felicidade de ser aluno da Professora Maria Aparecida Rheins Schirato, autora
do livro O Feitiço das Organizações e professora da USP. Ela repetia isso com
frequência.
Como lembrava a própria mestra na época, mãe não demite
filhos nem promove a competição dentro de casa. Mãe ama, cuida, ensina, sofre
junto e, se necessário, deixa de comer para não ver os filhos passarem fome.
Por outro lado, a maioria das pessoas continua trabalhando
como se as empresas tivessem a obrigação de realizar todos os seus desejos e
atender todas as suas necessidades, de ordem pessoal e profissional. Ainda é
comum se ouvir nos bastidores: - essa empresa é uma mãe para mim!
De onde vem toda essa carência dos empregados? De certa
forma, da própria carência do ser humano acostumado a uma zona de conforto. Na
prática, trabalhar dá muito trabalho, principalmente, quando os objetivos
pessoais estão desalinhados com os objetivos da empresa.
Ao fim do século XIX, o fenômeno da Revolução Industrial
mudou a nossa forma de executar o trabalho, de maneira radical, e tornou-se um
marco decisivo no processo de desenvolvimento humano.
O historiador Edward Palmer Thompson chegou a afirmar que o
trabalhador inglês médio tornou-se mais disciplinado, mais sujeito ao tempo
produtivo do relógio, mais reservado e metódico, menos espontâneo e menos
violento.
Dessa forma, a Revolução Industrial criou uma nova maneira
de arranjo social, de sobrevivência e de conduta humana. O trabalho já não era
mais o mesmo e um novo conceito começava a ganhar forma: o emprego.
Com o emprego, a maioria foi deixando de lado a sua
competência predominante desde os tempos mais remotos: a de sobreviver por
conta própria e risco. Se tivesse vivido após a Revolução, Richard Cantillon,
economista irlandês, diria que o ser humano perdeu a sua incrível capacidade de
empreender.
Antes disso, as pessoas não tinham empregos no sentido fixo
e unitário. Havia, contudo, uma forma corrente e mutante de tarefas de modo que
os empregos, no mundo pré-industrial, eram essencialmente atividades. A
transição para os empregos, como conhecemos hoje, foi lenta e gradual e ocorreu
em diferentes tempos e lugares.
De acordo com a mestra Maria Schirato, as empresas se
constituem um mundo de intenções e de promessas, onde a magia do crachá
proporciona uma pseudo-segurança com uma moeda de troca conhecida: dinheiro X
trabalho duro, fidelidade e alguns benefícios.
O que não é conhecido são os limites e as tolerâncias da
relação. Quando isso não está claro, as pessoas tendem a confundir o ambiente
de trabalho com o com o ambiente da empresa e se sentem parte de uma família.
Quanto mais desalinhadas estiverem as pessoas com os
objetivos, as metas e os valores da organização, maior a dependência e o
sofrimento. Em vários casos de demissão, a perda dos benefícios, do sobrenome
da empresa e do crachá significa para muitos a perda da própria dignidade.
O que falta para muitas empresas, principalmente, nas
públicas e nas de origem familiar, é o esclarecimento das expectativas.
Empregados que não entendem essa relação de profissionalismo, quando perdem o
emprego, se tornam órfãos magoados que nunca vão aceitar o fato de terem sido
demitidos pela sua própria mãe.
Pense nisso e empreenda mais e melhor!
Fonte: Administradores
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