Para Akio Morita, um dos fundadores da Sony, o conhecimento
dos segredos tecnológicos e comerciais de uma empresa não são pessoais. É fácil
entender isto: prejudica não só a ex-empresa, mas todos os seus ex-colegas de
trabalho. Está certo fazer isso? Sair de uma empresa, utilizar os conhecimentos
adquiridos para beneficiar outra empresa concorrente e prejudicar ex-colegas?
Akio Morita, um dos fundadores da Sony no seu livro “Made in
Japan” mostra as diferenças entre a cultura e a gestão de uma empresa japonesa
e uma americana. Numa destas passagens ele conta como ficou chocado diante da
atitude de um gerente distrital de vendas americano, que lhe parecia bom, com
futuro promissor, e que ele havia investido muito em cursos, treinamentos tendo
inclusive enviado-o ao Japão.
“Certo dia, entrou em meu escritório, sem preâmbulos e
nenhum aviso disse: Sr Morita, muito obrigado por tudo, estou indo embora da
companhia. Eu não podia acreditar no que ouvia, mas ele não estava brincando...
Meses depois, fui a uma feira eletrônica em Nova York e lá encontrei num dos
estantes, o tal traidor. Achei que era bom evitá-lo, mas ele, ao invés de se
esconder de mim, veio correndo ao meu encontro, com cumprimentos efusivos e
muito papo, como se não houvesse nenhuma razão para se envergonhar...”
Ao longo da minha vida também passei algumas vezes por
situações semelhantes. Toda vez que alguém procede com deslealdade, lembro-me
dos mangás que lia quando criança. Geralmente eram histórias de samurais e o
enredo era com respeito ao “Bushi-dô”: a lealdade suprema dos samurais que
davam a própria vida pelo seu senhor.
“Bushi-dô” é um código de conduta não escrito, um radar
interior que conduz o modo de vida dos guerreiros. Um samurai não tem que “dar
a sua palavra”, não tem que “prometer”, ele só tem ouvidos para um único juiz,
a sua consciência. Com relação à
honestidade e justiça, só existe o certo ou o errado, não existem
justificativas. Fato é fato e ponto final.
Para Akio Morita, o fato era que aquele gerente comercial
tinha saído da Sony de posse de todas as informações comerciais, de marketing e
de outros segredos da casa. Morita percebeu que para o gerente americano não
tinha nada de errado sair de uma companhia e levar todo aquele conhecimento.
É o ponto que eu concordo: o conhecimento dos segredos
tecnológicos e comerciais de uma empresa não são pessoais. É fácil entender
isto: prejudica não só a ex-empresa, mas todos os seus ex-colegas de trabalho.
Está certo fazer isso? Sair de uma empresa, utilizar os conhecimentos
adquiridos para beneficiar outra empresa concorrente e prejudicar ex-colegas?
Os samurais quando ficavam sem o seu amo, ficavam
perambulando, andando perdidos, sem caminho a seguir. Isto está correto? Qualquer roteiro da vida que seja só uma
única linha vertical leva a um beco sem saída. É como trem que descarrilha
porque tem que andar em cima de dois trilhos. Porém, se você não guiar a vida
profissional por alguns princípios, você se torna uma mercadoria que se vende
por dinheiro.
Toda pessoa que se vende por dinheiro é pior que uma
prostituta. A prostituta vende o seu corpo, mas não vende a alma. Toda pessoa
que se vende perde a essência da vida, que é a liberdade. Liberdade de poder
olhar “olho no olho” sem nada a temer, sem nada a esconder. Por mais caro que
se venda, no fundo é um escravo, uma mercadoria que pode ser transacionada. E o
escravo não é livre!
Lealdade significa ser leal, ser verdadeiro consigo mesmo.
Fidelidade é ser leal, ser verdadeiro com as pessoas que relacionamos. A
fidelidade pode ser justificada: “eu ganho pouco”, “vou cuidar da minha vida”,
“todo mundo faz isso”, etc. A lealdade não pode ser justificada.
O “bushi-dô” de um samurai não se limitava a apenas na
lealdade ao senhor. A lealdade era também em relação àqueles que estão sob seus
cuidados, à família e às pessoas que o ajudaram. Em outras palavras tinham que
ter fidelidade também. Em termos de
gestão de pessoal temos que ser leais para com a empresa e com as pessoas que
convivemos profissionalmente, sejam superiores ou subordinados.
Jesus ensinou que não podemos servir a dois senhores. Quem
pode ser senhor da minha vida? Eu próprio. Eu sou o senhor da minha vida. Eu
preciso ser leal comigo mesmo. No contexto bíblico o dinheiro é considerado o
outro senhor. O outro senhor não pode ser os meus interesses materiais. Não
posso servir a duas empresas por interesses materiais, por interesses pessoais,
prejudicando outras pessoas.
A nossa missão, a razão de estarmos neste mundo é para
vivificarmos um ao outro. Este mundo é o mundo de ajuda mútua. Precisamos ser
útil, necessário às pessoas e ao mundo. Significa que se fizer qualquer coisa
que não ajuda o outro, que prejudica outras pessoas, o meu propósito de vida
não está correto. Creio eu, na minha modesta opinião, que esta é a lealdade que
preciso ter comigo mesmo, o meu radar interior, o meu “bushi-dô”.
Fonte: Administradores
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