Quando uma ferramenta criada para ajudar na comunicação
começa a tomar o rumo absolutamente contrário, chega a hora de abandonar o
barco
Resolvi. Cancelei minha conta no WhatsApp. Eu demorei até
certo tempo, comparado ao meu ciclo de convívio, para iniciar no aplicativo.
Houve um encantamento imediato sobre a facilidade de trocar mensagens, vídeos,
imagens, mas o efeito “nefasto” que o app provoca nas pessoas me fez abandonar
a ideia de tê-lo.
A palavra “nefasto” pode até soar pesado para alguns, mas,
de fato, é assim que passei a enxergar a questão. Ir a um barzinho, estar em
uma confraternização/aniversário, encontrar os amigos. É quase uma regra
(principalmente se você tem entre 12 a 30 anos), sempre terão aqueles que não
desgrudam os olhos da tela do celular e entram em seu mundo paralelo digital,
geralmente no WhatsApp ou Facebook.
As pessoas ao redor desses “ultra conectados” parecem meras
peças de um cenário paralisado que só acontece a real interação em três
momentos: Na chegada ao local (é preciso cumprimentar as pessoas); no momento
da foto (é claro, a foto vai para as redes sociais para mostrar como a pessoa
se diverte com o restante do grupo); e na hora de ir embora (ainda dizendo como
foi bom o reencontro).
O problema é que esse número de pessoas alienadas está se
multiplicando. Chega ao ponto que não existe um diálogo, fica cada um imerso em
sua mini tela. Isso, quando a conversa entre as pessoas não é: “Você viu aquele
vídeo no WhatsApp? Você tem que ver... muito engraçado. Estou enviando para o
seu”. Sim, essa é apenas uma situação ruim do aplicativo, mas não irei me alongar
nas outras.
A questão é que vivemos em plena era de ouro da comunicação,
onde todos têm possibilidades infinitas para interagir, mas talvez, seja o
momento mais crítico da história da comunicação. Há falta de diálogo, convívio,
interação com quem está próximo de nós. Até ligar já está virando “artigo de
luxo”. Exagero? As operadoras de telefone estão acompanhando essa tendência de
comportamento e invertendo seu marketing... Não se oferece mais tantos planos
para ligar, a questão, agora, são os planos com internet ilimitada, internet a
R$ 0,25, entre outros.
Acho que o sempre otimista filósofo Pierre Levy, quando
descreveu o conceito de Inteligência Coletiva, não imagina que o WhatsApp
poderia ter sido inventado. Ou até imaginava, mas não sabia que as pessoas iam
preferir ficar ali – no aplicativo -, em vez do convívio social.
As falas de um de seus maiores opositores, o polêmico
filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard (já falecido), feroz crítico da
sociedade de consumo, nunca fizeram tanto sentido. Principalmente na questão de
quando se transfere suas características para as novas máquinas, o homem está
abrindo mão de si mesmo.
Na edição novembro/dezembro resolvemos questionar sobre o WhatsApp em nossa editoria contraponto. Colocamos
dois especialistas para defenderem sua tese e apontar as vantagens e
desvantagens do aplicativo. Você pode ler aqui o que os dois especialistas
falaram.
Confesso que minha opinião foi alterada ao longo do tempo. Antes
favorável à facilidade de comunicação que o WhatsApp poderia gerar, coloco-me
hoje a favor da comunicação real, do tête-à-tête, sem as barreiras das mini
telas. Apesar de não me encaixar no perfil alienado (como aquele citado acima),
estar no aplicativo me colocava no status de condescendente com algo que sou
contra. Isso estava incomodando.
Que tal refletir
Acho que essa questão de como lidamos com a internet e com o
ato de estar conectado 24h cabe uma reflexão individual. Você: como lida com
essa conexão com redes sociais e aplicativos no celular?
Talvez não esteja no momento de avaliar e refletir sobre o
tempo que se "dedica" a eles?
Acho que a reflexão vale, principalmente, para aqueles que
se encaixam no perfil de sentir necessidade de ver a timeline constantemente,
que trocam a leitura de um livro para ver vídeos e besteiras na internet ou até
mesmo não que conseguem realizar algumas atividades e tarefas de sua rotina por
falta de concentração que as redes sociais e aplicativos com o WhatsApp geram.
Não sou contra redes sociais e apps, pelo contrário, acho
que são fontes de interação, entretenimento e até de negócios muito válidas. No
entanto, percebo certa alienação que essa conexão provoca em muitos. Não quero
causar uma revolução nesse aspecto, apenas proponho que se busque encontrar
formas de equilibrar essa balança do real com o virtual.
Enquanto isso não acontece, acho melhor deixar minha conta
do WhatsApp cancelada.
Fonte: Administradores
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