Roberto comenta: “Navarro, estou casado há pouco mais de um
ano e venho discutindo muito com minha esposa por causa de dinheiro,
administração das finanças familiares, gastos e por ai vai. Não conseguimos
investir, cada um quer gastar seu dinheiro de forma independente e não chegamos
a um consenso. E agora? O que fazer? Obrigado”.
Administrar as finanças familiares é um desafio porque exige
de cada um de nós desprendimento em relação ao dinheiro (ele deve ser
prioridade, mas não pode ser fator de intimidação) e humildade para aceitar que
todos os demais também têm seus desejos e objetivos (e precisam de apoio para
chegar lá).
Repare, portanto, que o cuidado com as contas do lar não é
só uma questão matemática ou de uso de ferramentas melhores – trata-se, em
essência, de um problema de natureza humana. E se a questão passa por nosso
comportamento e, principalmente, por nossas crenças enraizadas, ela merece
atenção redobrada.
De cara, devo afirmar que não há uma fórmula ideal ou método
capaz de adequar-se aos casais que desejam cuidar melhor de suas finanças.
Adoraria apresentar um conjunto de passos infalíveis, mas isso não vai
acontecer. Agir assim seria ingênuo e um desserviço ao propósito de divulgar a
educação financeira.
Em vez de uma receita, trago neste artigo experiências
pessoais e estudos sobre novos hábitos capazes de criar uma atmosfera familiar
saudável e que permita que o dinheiro seja um assunto tratado com sinceridade,
diálogo e, é claro, como uma prioridade. Acompanhe.
1. O casal deve ter objetivos comuns
Eu sempre digo que quando duas pessoas decidem unir-se e
constituir família, o mínimo que se espera desse relacionamento é que eles
tenham uma, pelo menos uma, meta conjunta. Parto do princípio de que as pessoas
se casam e criam seus lares porque assim desejam, e não porque é o que a
sociedade espera que eles façam. Coloquei o dedo na ferida?
Relacionamentos deveriam ser uniões com objetivos comuns,
ainda que cada um tenha e mantenha sua individualidade (falaremos disso adiante).
Esqueça o romantismo ou a religião, não estou falando de unir-se com propósitos
maiores, muitas vezes abstratos e pouco palpáveis.
Objetivos comuns são aquelas metas tão sonhadas antes do
casamento, mas depois deixadas de lado e engolidas pela rotina. Casa própria,
abertura do negócio próprio, uma viagem internacional e por ai vai. Coisas mais
mundanas, simples, mas essenciais para criar na relação responsabilidade e
compromisso.
Atitude desejada: em vez de discutir a situação das finanças
da casa, na próxima vez proponha uma avaliação das prioridades e criem uma
lista com cinco objetivos comuns.
2. As tarefas devem ser compartilhadas
Atendi muitas famílias em que o papel de organizar as contas
e lidar com as responsabilidades financeiras era de apenas um dos cônjuges.
Apesar de não achar isso um problema, prefiro que as tarefas sejam
compartilhadas, ao menos quando lidar com as finanças traz angústia e
ansiedade.
Defendo que o envolvimento é essencial porque ele é capaz de
humanizar a relação. Explico: participar, arcar com responsabilidades que vão
além da rotina e dar satisfação no sentido de construir um resultado melhor são
atividades que nos tornam mais comuns, humildes, o que é fundamental para
compreender que riqueza e prosperidade financeira.
Lidar melhor com o dinheiro em casa não se trata de ganhar
muito mais ou de ser alguém extraordinário – pelo contrário, são os hábitos
simples (e saudáveis) que criam o ambiente perfeito para uma vida mais feliz.
Atitude desejada: criem um orçamento doméstico ligado ao lar
e definam responsabilidades relacionadas a ele e aos objetivos comuns definidos
no item anterior.
3. Deve haver respeito e valorização individual (hobbies e
“manias”)
Até agora, você deve ter percebido que minhas sugestões
foram no sentido de incentivar o casal a tratar o dinheiro com mais
naturalidade, ainda que com seriedade e foco em priorizá-lo. Tudo para que as
finanças sejam vistas com a importância que merecem, mas trabalhadas com
respeito e muito diálogo.
A individualidade é tão importante quanto a decisão de levar
o relacionamento aos próximos estágios (casamento, filhos etc.). Entendo que é
preciso respeitar os gostos individuais e tudo aquilo que está ligado ao jeito
de ser de cada um dos cônjuges. Cresci ouvindo uma frase muito interessante em
casa: “Uma relação a dois só existe quando ela é feita por duas pessoas
inteiras”.
Cada um tem suas “manias”, seus hobbies e interesses
próprios. Tudo isso precisa ser respeitado e tem que ganhar espaço na agenda
familiar. Respeitar os objetivos comuns traçados e ter a humildade para
reconhecer e admirar as características individuais do outro parecem ser
atitudes coerentes com o propósito de construir uma família, você não concorda?
Atitude desejada: fale menos sobre o que fazer e apenas observe
e incentive o outro a praticar suas atividades. Admire mais e cobre menos.
Conclusões
É importante que você não pense em termos de “certo” e
“errado”. Em problemas de natureza humana, não dá para apontar a “melhor
alternativa”, senão experimentar e agir de forma sincera e honesta com seus
valores e princípios. E dialogar, com paciência, humildade e muito amor.
A dificuldade em lidar com dinheiro nos relacionamentos vem
muito mais de nossos hábitos e menos do desconhecimento de métodos financeiros
ou orçamento. A questão não é “onde encontro ensinamentos para nossas contas
fecharem?”, mas sim “estou disposto a ser uma pessoa digna de merecer essa
atenção de meu cônjuge?”.
Fonte: Dinheirama
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