terça-feira, 17 de maio de 2016

Viramos acumuladores de gente




Sabe aquela história de que as coisas mudam quando você muda? Devo confessar que ela é verdadeira.

Há algum tempo andava entediada com meu Facebook, achava os conteúdos repetitivos pra não dizer inúteis mesmo. Chegava a ver o mesmo texto ou imagem girar em minha timeline inúmeras vezes o que, consequentemente, ocultava outros conteúdos que poderiam ser mais interessantes para a minha realidade.

Agora deixa eu te fazer uma pergunta: Você realmente precisa de todos aqueles contatos em sua rede social? Necessita mesmo de 100 likes naquela frase que achou bacana ou comentários que beiram o nonsense em seu último selfie?

Acredito que fazemos muitas coisas sem pensar e arrisco dizer que aceitar ou adicionar todos os contatos que chegam em seu Facebook são algumas dessas coisas.

Sempre achei que todo contato seria uma possibilidade e levei quatro anos para descobrir que estava errada.

Isso por causa de uma frase clichê que você já deve ter ouvido por aí: "Vivemos em um mundo onde ter vale mais do que ser".

Ter mais roupas, mais bens, mais likes e mais contatos virou sinônimo de ser alguém bem sucedido, pop, amado – grande ilusão! E comecei a notar isso não olhando para os outros, mas para mim mesma. Me tornei uma acumuladora, não de roupas ou objetos, mas de pessoas.

Você provavelmente já deve ter feito alguma mudança de casa ou uma bela faxina em seus pertences notando, com isso, como acumula coisas que talvez jamais irá utilizar. É aquela camiseta que não serve mais, aquele carregador de celular que você nunca voltará a ter ou o livro que imagina lhe ser útil algum dia. O problema está justamente aí, esse dia provavelmente nunca chegará. O mesmo acontece com o acúmulo de pessoas em sua rede de contatos.

Longe de mim comparar pessoas a objetos – espero que você entenda essa analogia, pois foi a melhor maneira que encontrei para tentar explicar como acumulamos coisas e pessoas das quais talvez nunca precisaremos.

Durante quatro anos em minha vida, aceitei todos os contatos que me chegavam via redes sociais, em qualquer uma delas, sem analisar, filtrar, sem pensar como aquela pessoa poderia ser útil para mim e, principalmente, sem ponderar como eu poderia ser útil na vida daquelas pessoas, porque networking verdadeiro é isso, uma relação de ajuda mútua.

Foi então que criei coragem e resolvi rever todos os meus contatos para reencontrar no meio daquele mar de gente, conteúdos legais que via com mais frequência antes de me tornar uma draga de contatos.

Tamanha foi a minha surpresa quando descobri que boa parte dos perfis não eram mais contatos, mas pessoas que haviam desativado suas contas e ainda permaneciam lá, fazendo volume em números, ou ainda pessoas que simplesmente pararam de utilizar seu perfil há mais de um ano, formando um grande cemitério de gente viva. Pesado, eu sei, mas no final das contas era isso. Pessoas com as quais eu não interagia, não sabia de onde vinham e nem o que faziam da vida.

Vi muitos selfies, bebês fofos que eu sabia que jamais conheceria pessoalmente, reclamações da crise, do governo, dos políticos e, principalmente, muito conteúdo repetido.

Com essa constatação decidi que era hora de tomar uma atitude. Não drástica, mas racional, porque no fundo sei que não sou nem de longe o contato mais importante para essas pessoas e assim deixei meu ego e apego de lado e comecei a reestruturação de minha rede social.

No começo hesitei, justamente por se tratar de pessoas, mas depois, com um olhar mais otimista da coisa, percebi que agindo assim estaria fazendo bem para elas e para mim, pois assim liberaria espaço para novas possibilidades aos que gostavam de ter o maior número de contatos possíveis e bem pra mim, que poderia acompanhar melhor pessoas que me acrescentavam, fosse em conhecimento, carinho ou até mesmo distração.

Então me inspirei na frase do Balu, do Mogli – “Somente o necessário” e dei início à saga de exclusão, sem choro nem vela, como dizia meu pai quando eu começava a fazer manha, hoje mais conhecida como mimimi mesmo.

Nosso grande erro é acreditar que todo contato é possibilidade quando na verdade é mais exposição do que qualquer outra coisa, afinal, quem nunca publicou coisas da vida pessoal que mais tarde achou ridículo ou sem importância que dê o primeiro unfollow.

Como bem disse certa vez Rosana Hermann em seu twitter: se você compartilha coisas em sua rede social de maneira pública, você é uma pessoa pública, a diferença está no alcance.

Confesso que hoje sinto vergonha de muitas publicações que fiz ao longo desses anos, do mesmo jeito que sinto vergonha das carteiradas que dei quando era uma profissional mais nova. Ainda bem que o tempo passa, que se amadurece e por fim notamos que quando a gente cresce, nosso networking também cresce, pois, tal qual um chef que seleciona os melhores ingredientes para seu prato, também percebemos que é preciso selecionar melhor as pessoas com as quais convivemos, mesmo que virtualmente – para, então, aproveitar as verdadeiras iguarias da vida.

Chega de acumular objetos que nunca serão utilizados, teorias que nunca vão virar prática, livros que jamais serão lidos e contatos que nunca foram e nem jamais serão possibilidades. Pare de se iludir e busque o que realmente traz resultados em sua vida, seja em conhecimento aplicável, negócios rentáveis ou até mesmo um momento de distração para aqueles dias chatos.

E se antes quando alguém chegava e dizia: "Fulano de tal que é seu amigo no Facebook me adicionou". Eu logo respondia: "Não sou parâmetros para contatos no Facebook, pois não conheço grande parte dos meus contatos, aceite por sua conta e risco". Agora fico feliz em dizer: "Pode adicionar, pois o fulano é gente fina!".

E para os que estão com o dedo nervoso, prontos para descer lenha nos comentários falando que este texto é um desserviço, sugiro que leiam o artigo de Hannah Arendt denominado "O público e o privado", para entender o que digo.

Aproveito também para dar um conselho: antes de colecionar contatos e se iludir achando que você é relevante para todos eles, seja a mudança na vida das pessoas, pois melhor do que estar de passagem é poder ficar e fazer a diferença.

É como sempre digo – Talvez não possamos mudar o mundo, mas podemos perfeitamente mudar o mundo à nossa volta. E isso já é uma grande coisa.

E se dizem que a vida muda quando você muda, também digo por experiência própria que seu networking cresce quando você cresce. 

Momento do Administrador, Gisele Meter - 17 de maio 2016.


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