quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Intuição: você utiliza a sua?

Apesar de não ser encontrado facilmente nos livros de Administração (e muitas vezes ser ignorado), na prática, faz parte da vida de milhares de profissionais e empreendedores




Sexto sentido, insight, voz interior, feeling, toque divino, faro profissional, intuição. Os nomes utilizados para a capacidade mental de avaliar situações sem uma análise completa dos fatos são muitos. Mas você sabe o que é e de onde vem a intuição?

Fiz esse questionamento para uma dezena de pessoas e, pode acreditar, as respostas foram as mais variadas. Alguns falaram que ela funciona como se alguém soprasse em nossos ouvidos o melhor caminho a seguir. Outros, no entanto, acreditam que a intuição é criada de nosso próprio conhecimento, mas que está no subconsciente. Tiveram ainda os que consideraram ser um simples desejo pessoal de fazermos algo à nossa maneira.

Independente da variedade de respostas, em um contexto geral, houve um consenso sobre o seu significado. A maioria das pessoas apontou que a intuição é um pressentimento que não sai de nossa cabeça tão facilmente e impulsiona a frase: "alguma coisa me diz para fazermos dessa forma".

Esse pressentimento, inclusive, apesar de não ser encontrado facilmente nos livros de Administração (e muitas vezes ser ignorado), na prática, faz parte da vida de milhares de profissionais e empreendedores.

Akio Morita da Sony, Mark Zuckerberg do Facebook e Ray Kroc do McDonalds são alguns empresários conhecidos por construírem seus pilares comerciais fundamentados em suas intuições e instintos. Em 1991, após a explosão do walkman, Akio Morita chegou a dizer que “a criatividade depende do pensamento humano, da intuição espontânea e de um bocado de coragem”. Ignorando as recomendações de conselheiros, Ray Kroc comprou a marca McDonalds dos irmãos McDonald: “eu não era um jogador e não tinha esse tipo de dinheiro, mas meu instinto me impulsionou”.

E não é preciso ser vidente ou um mega empreendedor de sucesso para utilizar a intuição. De alguma forma, todos nós já experimentamos os efeitos dela e convivemos com as consequências dessas escolhas.

Se você já teve que tomar uma decisão antes de reunir todas as informações importantes por viver uma situação de tensão, ou teve a certeza de que uma ideia daria certo embora não tivesse todos os dados para assegurar seu potencial, ou até já pensou “parece tudo adequado, mas estou com um mau pressentimento”, parabéns! A intuição também tem exercido um papel influente em suas escolhas.




Intriga-me muito

Esse tema sempre intrigou pensadores e estudiosos. Platão, filósofo grego que viveu entre 428 e 347 a.C., já dava indícios de tentar compreender essa temática em sua chamada Teoria do Conhecimento. O fundador da psicologia analítica, Carl Jung, relatava a capacidade inconsciente do ser humano de perceber possibilidades. A cultura popular chinesa considera há séculos a existência das forças mentais Ying e Yang que, entre um de seus significados, simbolizam a “vanguarda intelectual da mente” (Yang) e a “retaguarda intuitiva da mente” (Ying).

Nos últimos anos, a ciência tem dado passos significativos para entender o que é, como funciona a intuição e, melhor, como utilizá-la a nosso favor. Uma das principais descobertas foi a comprovação de que a espécie humana desenvolveu dois sistemas de pensamento, que funcionam como se possuíssemos duas mentes: a analítica (fundamento dos processos racionais) e a intuitiva (responsável pelos sentimentos e comportamentos)

Uma boa definição para entender as duas mentes é do professor Eugene Sadler-Smith, um dos principais pesquisadores sobre psicologia da intuição na atualidade e autor do livro Mente intuitiva. “A mente analítica nos permite avaliar e resolver problemas. São os processos de educação e capacitação que trabalham basicamente com dados objetivos. Já a mente intuitiva funciona como um avançado programa de simulação que orienta na hora de decidirmos o que deve ou não ser feito, em quem devemos ou não confiar, e como tomar decisões importantes”, afirma

Os gestores que apostam tudo na mente intuitiva costumam ser muito bons em ter ideias, mas sem a ajuda de alguém para implementá-las, suas mentes perdem uso prático. Já os gestores que utilizam apenas a mente analítica costumam ser muito bons na realização de tarefas, porém, sem as ideias, suas mentes não possuem tanta utilidade. Por isso, nessa hora, ter a sabedoria em aliar as duas pode ser um bom caminho. Para Eugene Sadler-Smith, “é preciso unir e desenvolver um modo complementar de pensar, estimulando a consciência e a confiança nas nossas ilimitadas reservas de intuição ou capacidade de análise”.

Entrevista

Em 2012, tive a oportunidade de entrevistar o Eugene sobre esse tema. Abaixo, separei alguns dos pontos mais importantes desse contato.

Em que casos utilizamos mais a intuição?

Os administradores frequentemente usam a intuição em situações que são complexas, dinâmicas e incertas, o que inclui negociações e entrevistas de emprego. Muitas delas frequentemente envolvem julgamentos sociais, pois existe um grande número de informações para serem assimiladas e processadas rapidamente, com as quais a mente analítica não pode lidar e a mente intuitiva pode.

Quando você recomenda acreditarmos em nossa intuição?

O mais importante é que o uso frequente da intuição só deve ser feito quando os gestores têm a experiência (o que leva muitos anos para se desenvolver) de saber em que casos basear suas intuições. Se eles não têm a experiência para dar base à sua intuição, ela pode muito bem se tratar de uma adivinhação. Dessa maneira, a ideia-chave é a “experiência intuitiva”. 

Quem foram as personalidades mais intuitivas ao longo da história?

Existem muitos exemplos. Nos negócios, por exemplo, Steve Jobs e Richard Branson. Mas, surpreendentemente, existem muitos cientistas que recorreram à intuição, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel. Eu acredito que o intuitivo mais famoso é Einstein, que é conhecido por ter dito: “o intelecto tem pouco a fazer no caminho para a descoberta. Então, chega um salto na consciência, chame-o de intuição ou do quiser, e a solução vem e você não sabe como ou porque”. Sem a imaginação e criatividade que vem com a intuição ele poderia não ter descoberto a teoria da relatividade.



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