domingo, 10 de julho de 2016

Messi e a pressão nossa de cada dia




A surpresa da Copa América aconteceu depois de mais uma derrota nos pênaltis da Argentina para o Chile: Messi renunciou à seleção alviceleste.

À primeira vista, sua decisão está exclusivamente vinculada a mais uma derrota. Não concordo com essa tese e, embora acredite que o craque irá mudar de ideia, acho que vale a pena identificar as causas que o levaram a essa escolha.

Como se sabe, Messi sempre foi visto como o cara que resolveria a abstinência de títulos da seleção argentina, há 23 anos sem erguer uma taça. Mais do que isso, os argentinos, incluídos aí imprensa e torcida, exigiram dele que não só liderasse, mas carregasse o time para essas conquistas.

Depois de tudo que fez pelo Barcelona, é até compreensível que os argentinos vissem nele a salvação. Messi, o predestinado. Mas ao que parece, foi aí que se criou um novo problema.

Na mitologia grega, Atlas carrega as abóbodas celestes em suas costas não como prêmio, mas como castigo imposto por Zeus. Na Argentina, Messi também foi incumbido de carregar tudo em suas costas.

Na mitologia grega, o titã Atlas carrega as abóbodas celestes em suas costas não como prêmio, mas como castigo imposto por Zeus. Na Argentina, Messi também foi incumbido de carregar tudo em suas costas. Como se fosse sua obrigação resolver tudo sozinho. Não funcionou.

A federação de futebol da argentina é tão amadora e desorganizada quanto a nossa CBF e o time da argentina também possui suas carências. Mas a conclusão de que a seleção argentina não é o Barcelona, apesar de óbvia, não impediu que o senso comum pleiteasse, na seleção, o Messi do Barcelona. Para muitos só o alto salário que ganha um craque como ele já justifica a responsabilidade compulsória que recebeu. Há também o componente Maradona que, por si, rende também teses e análises.

Ainda que o próprio Messi tenha se colocado sob essa mesma carga pesada, a última decisão da Copa América mostrou, mais uma vez, que só pressão e cobrança somadas ao talento do jogador são insuficientes para resolver todos os problemas da Argentina ou, ao menos, o principal deles: um título.

O mais curioso é que, depois do anúncio em que abre mão da camisa argentina, os próprios argentinos parecem ter notado o equívoco. A segunda derrota para o Chile parece ter ficado em segundo plano. O objetivo, agora, é evitar um novo desastre: a saída do craque.

O jornal Olé publicou uma capa em que implora a permanência de Messi e até o presidente da Argentina ligou para o jogador pedindo que ele não saia.

Enfim, parece que caiu a ficha. Embora seja um dos maiores jogadores da história, Messi é humano e não suportou o nível de pressão e exigência que lhe foi imposto. E isso é muito bom.

Como apontaram analistas, talvez essa humanização seja o primeiro passo para que a Argentina mude sua relação com o craque. Eles perceberam que, mais do que ninguém, Messi é argentino, se preocupa com a seleção do país e se incomoda em não vencer. Porém, não é capaz de solucionar tudo como eles imaginavam. No futebol e na vida, ninguém faz nada sozinho.

Quanto a nós, podemos aprender que pressão é bom, ajuda a motivar. Mas quando extrapola certos níveis do que é suportável não há salário alto ou talento capaz de trazer os resultados esperados.

Em tempos em que somos cada vez mais exigidos e nos impomos metas cada vez mais agressivas é bom lembrar que somos humanos. É bom respeitar nossas limitações porque, afinal, até o Messi tem as suas.

Momento do Administrador, Rodrigo Focaccio - 10 de julho 2016.


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