O projeto permite que estudantes com visão abaixo de 30% ou
subnormal – que enxergam em um campo de visão a até 20% do normal – enxerguem
melhor o que está na lousa e o que eles copiam no caderno, em sala de aula
A Bonavision – empresa fundada por um pesquisador da clínica
oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP) – desenvolveu um sistema para que estudantes com visão
abaixo de 30% ou subnormal – que enxergam em um campo de visão a até 20% do
normal – possam enxergar de forma ampliada e com maior comodidade o que está na
lousa e o que eles copiam no caderno, em sala de aula.
Resultado de um projeto realizado com apoio dos Programas
Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e de Apoio à Propriedade
Intelectual (PAPI), da FAPESP, o equipamento é mais ergonômico e custa a metade
do preço de produtos importados voltados para essa finalidade, afirma o
oftalmologista José Américo Bonatti, um dos diretores da empresa.
“O preço de um equipamento importado é por volta de R$ 8
mil, enquanto o sistema que desenvolvemos custa R$ 4 mil e é mais ergonômico”,
disse Bonatti à Agência FAPESP.
De acordo com o pesquisador, os equipamentos importados são
compostos por uma câmera de vídeo com ajuste para longe e para perto, presa a
uma base fixa com haste flexível para cima e para baixo e conectada a um
monitor de computador ou TV – como uma webcam.
Para o estudante enxergar ampliado na tela do monitor com o
equipamento, colocado sobre a carteira escolar, é preciso ajustar com a mão a
câmera de vídeo para cima, em direção à lousa. Já para ver também de forma
ampliada o que se está escrevendo, é preciso virar a câmera para baixo, em um
ângulo de 90º, a fim de focalizar o caderno.
Ao retornar o foco da câmera de vídeo para a lousa e
vice-versa, no entanto, perde-se o ponto em que se estava. “Se o estudante
esquecer o que estava escrito na lousa quando estiver copiando, com a câmera
focalizada no caderno, ele terá que direcioná-la novamente para a lousa e, com
muita dificuldade, procurar o ponto em que estava antes. Isso desestimula o
aprendizado”, avaliou Bonatti.
Nos últimos quatro anos, o pesquisador e sua sócia, a
doutora em design pela Faculdade de Arquitetura da USP Fernanda Bonatti,
estudaram uma forma de contornar esse problema. A solução a que chegaram foi um
sistema com duas câmeras de vídeo com alternância, conectadas a um mesmo monitor.
A primeira câmera de vídeo do equipamento, voltada para a
lousa, é presa a um suporte vertical fixo com haste flexível para cima e para
baixo e para os lados, apoiado sobre a carteira escolar. Já a segunda câmera de
vídeo, voltada para perto, desliza sobre um trilho de uma prancha para leitura
e escrita desenvolvida anteriormente pela empresa.
A fim de alternar o uso das duas câmeras, sem que a primeira
perca o foco da lousa e a segunda o do caderno, os pesquisadores desenvolveram
um botão de controle que pode ser acessado pelo usuário no momento em que
desejar.
“Com o botão de controle, o estudante pode alternar o uso
das duas câmeras de vídeo na mesma tela. Quando estiver escrevendo e esquecer o
que estava escrito na lousa, basta apertar o botão e a imagem exata do que
estava copiando aparecerá na tela. Ao apertar novamente o botão, surgirá a
imagem do caderno e assim sucessivamente”, exemplificou Bonatti.
Sistema inclusivo
O equipamento começou a ser comercializado no início deste
ano por meio do site da empresa. Além de possibilitar a alternância das câmeras
e ampliar de dez a 15 vezes o foco para longe, outras vantagens do equipamento,
segundo Bonatti, são a facilidade de uso e a inclusão do estudante com
deficiência visual, dispensando a necessidade de ser acompanhado por uma pessoa
em sala de aula para ler o que está escrito na lousa.
“Há casos de professores de estudantes com deficiência
visual que têm de ficar ao lado do aluno para ler o que está escrito na lousa
ou de estudantes que têm de ficar com o rosto muito próximo à lousa para ler o
que está escrito e voltar para a carteira para copiar”, disse Bonatti. “As duas
situações são extremamente cansativas”, avaliou.
O produto é o quarto lançado pela empresa. O primeiro, em
2008, foi uma lupa especial para leitura que amplia textos em sete vezes. Já em
2009, os pesquisadores da empresa lançaram uma prancha de leitura acoplada à
lupa. Em 2011, desenvolveram uma versão eletrônica da prancheta, na qual se
basearam para desenvolver o sistema com alternância de câmeras.
Assim como os outros equipamentos, o sistema foi
desenvolvido para ser utilizado com treinamento mínimo do usuário, ressaltou
Bonatti. “Procuramos desenvolver um sistema simples, que permite ao usuário
memorizar o que está na lousa linha por linha ou mais linhas, dependendo da
capacidade de memorização dele, e fácil de usar. Demoramos mais para
desenvolver uma solução de uso simples do que para desenvolver a tecnologia em
si”, disse Bonatti.
O pesquisador fez uma apresentação sobre sua experiência com
o desenvolvimento de equipamentos de apoio à leitura para pacientes de baixa
visão no dia 14 de agosto, durante a 5ª Semana de Propriedade Intelectual &
Inovação, promovida pela Agência USP de Inovação.
Fonte: Administradores
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