Os principais fatores que compõem o custo-Brasil são
sistêmicos e dependem quase que totalmente de ações e projetos governamentais
As implicações do ‘custo-Brasil’ são muitas, mas sua raiz é
basicamente um conjunto bem conhecido de fatores que atrapalham a
competitividade das empresas e emperram o desenvolvimento do país. Entre eles,
os mais impactantes parecem ser a exagerada carga tributária, a legislação
fiscal complexa e ultrapassada, a excessiva burocracia administrativa e
tributária, além da precária infraestrutura logística em todo o país. Podemos
somar a isso o alto custo do dinheiro (taxa de juros e spread bancário), inflação
em alta e mão de obra pouco qualificada. Como resultado, temos o “custo-Brasil”
– que nada mais é senão o custo extremamente elevado de produtos domésticos,
quando comparados com similares importados vendidos aqui, ou mesmo com produtos
nossos quando colocados em outros países. Em estudo recente, a Fiesp identifica
esse custo como sendo 38% a mais em relação a países emergentes e 30% a mais quando comparado a países
desenvolvidos.
Um dos fatores que mais impactam o custo-Brasil e o ambiente
de negócios é a alta carga tributária – uma das mais vultosas do mundo, que
penaliza tanto as empresas como os consumidores. Pode-se dizer que as ações do
governo têm sido bastante acanhadas no sentido de reduzir carga tributária. Recentemente, o
Senado aprovou uma medida provisória que visava à desoneração da folha de
pagamento de alguns setores. Na prática, entretanto, a medida gerou uma redução
de apenas 0,5%, em média, no preço final de produtos e serviços. Isso indica
que não se deve esperar do governo muito mais do que reduções pontuais, como do
IPI para determinados setores. A propósito, essas medidas se mostram
protecionistas para as empresas de tais segmentos. É o reconhecimento, pelo
Estado, de que esses setores não conseguem competir com os importados devido à
ineficiência sistêmica.
Não é difícil compreender a falta de vontade política do
governo para uma ampla reforma tributária, já que esses recursos são usados
para manter a máquina do governo e financiar projetos – alguns, é certo,
importantes para melhorar a competitividade do país e outros tantos mais
populistas, visando manter a governabilidade e a elegibilidade. Infelizmente, o
que sobra é mal direcionado e mal gerido. Escândalos de superfaturamento estão
por toda parte, assim como casos e mais casos de nepotismo e de funcionários
fantasmas que constam da folha de pagamento sem nunca terem atuado na pasta.
Na esteira dos impostos vem a burocracia fiscal – fruto de
uma legislação fiscal complexa e ultrapassada, com mais de 3.200 normas
tributárias que exigem do setor privado uma estrutura descomunal. No ano
passado, um estudo do Banco Mundial identificou que no Brasil uma empresa chega
a gastar 2.600 horas por ano no processamento de tributos. Em países
desenvolvidos, o tempo gasto é de apenas 179 horas. Mais um detalhe: são
necessários cerca de 200 funcionários para atender às normas fiscais no Brasil,
enquanto empresas norte-americanas de mesmo porte necessitam de apenas quatro.
Em estudo recente, a Fiesp revela que essa carga tributária e a excessiva
burocracia fiscal são responsáveis por metade do custo-Brasil. Contribuindo um
pouco menos – sem deixar de ser importante – surge a ineficiência da
infraestrutura, que penaliza todos os setores da economia – do industrial ao
agronegócio e o setor extrativista. Com pouco investimento, capacidade
deficiente de gestão, e foco no curto prazo, é difícil imaginar que os
problemas de infraestrutura possam ser resolvidos dentro de cinco, seis, ou
oito anos. Geralmente, são projetos com cerca de dez anos de maturação e que,
por isso, acabam saindo do foco do governo.
Pode-se concluir que os principais fatores que compõem o
custo-Brasil são sistêmicos e dependem quase que totalmente de ações e projetos
governamentais. É possível chegar também à conclusão de que as chances de o
governo adotar uma abordagem mais assertiva sobre esses fatores são quase nulas
– pelo menos no curto prazo. Portanto, sobra para empresas e empresários
brasileiros a missão de atuar sobre fatores que estão a seu alcance, no sentido
de reduzir custos e aumentar a competitividade. Vale a ressalva: por mais que
se tenha alta eficiência operacional, sempre é possível atuar em variáveis
internas e descobrir processos que podem nos dar um pouco mais de eficiência e
nos tornar mais competitivos.
Focar na capacitação e no desenvolvimento dos colaboradores
é uma forma de fomentar a melhoria – que, aliás, ainda é um ‘mantra’ nas
empresas japonesas, independentemente do nível de competitividade em que se
encontram. Embora a história mostre que, em países como Japão, Taiwan, Coreia
do Sul e China, essas virtudes foram fomentadas, coordenadas ou incentivadas
pelo governo, podemos inventar um novo modelo em que o principal fator de
competitividade está nas empresas e na capacidade individual. Na opinião de
Michael Porter, consultor e professor da Harvard Business School, a
prosperidade de um país é criada, não herdada. Ela não deriva das riquezas
naturais, do número de trabalhadores ou do valor de sua moeda. Outrossim, é
função da capacidade de inovar de suas empresas.
Fonte: Administradores
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