"Por volta de 2005, eu entrei no Orkut, aquela nova
rede social em que nos viciamos rapidamente e que nos magnetizava para
reencontrarmos amigos, bisbilhotarmos vidas alheias e praticarmos narcisismos
nos nossos álbuns e perfis"
O brasileiro adora as redes sociais digitais. Nem metade do
Brasil ainda tem acesso à Internet, mas praticamente todos que usam estão
conectados a algum site de rede social: Facebook, Twitter, YouTube, Badoo,
LinkedIn e por aí vai. Estamos no top five dos países que mais usam Twitter,
Facebook e Orkut no mundo. São Paulo é a segunda cidade que mais tuíta no
mundo. No entanto, passamos para lá do 100º lugar quando falamos de percentual
de usuários de internet diante do número total da população.
Uma razão meio lógica do porquê dessa nossa vergonhosa
posição é que a Internet no Brasil ainda é muito cara e muito lenta, nossa
infra-estrutura não é das melhoes e certamente as mídias digitais demorarão
muito ainda para serem usada pelas empresas como mídias de massa. Televisão,
jornais e revistas ainda são as mídias que dominam os investimentos em nosso
mercado publicitário pelo simples fato de que é por meio dessas mídias off-line
que as agências engordam seus faturamentos.
Por volta de 2005, eu entrei no Orkut, aquela nova rede
social em que nos viciamos rapidamente e que nos magnetizava para
reencontrarmos amigos, bisbilhotarmos vidas alheias e praticarmos narcisismos
nos nossos álbuns e perfis. Reencontramos amigos da escola, do bairro. O Orkut
era legal demais, criávamos comunidades e interagíamos muito nelas. Fuçávamos
os scraps (praticamente uma caixa aberta e pública de emails). O Orkut foi uma
ferramenta meio pedagógica também. Ele nos ensinou a entender as lógicas dos
sites de redes sociais e a modular nosso comportamento nesses novos ambientes
virtuais.
Quem nunca passou por alguma saia justa no Orkut que atire a
primeira pedra. Quem nunca pagou algum mico pelo Orkut? E as comunidades,
então? Elas eram excelentes. Tinha aquela do “Odeio acordar cedo” que
congregava milhões de usuários. Além de outras espetaculares como “Gostou? Pega
senha!”, “Volta pro mar, oferenda!”, “Eu reencontrei minha mãe pelo Orkut”,
“Não fui eu, foi meu eu lírico”, etc.
Há alguns anos, estive em uma palestra que Orkut
Büyükkokten, o criador da rede, ministrou na Escola Politécnica, dentro da
Universidade de São Paulo (USP). Logicamente, ele fazia questão de pisar em
solo brasileiro sempre que possível, afinal o Brasil ainda era o maior usuário
de Orkut no planeta. Logo no começo da palestra, deu a mão à palmatória
afirmando que criou a rede para se conectar com amigos e somente anos depois
pensou em como capitalizá-la, criando banners, links patrocinados etc.
A parte mais divertida da palestra foi quando apresentou as
correlações entre as comunidades. Apontou que 80% das pessoas que estavam na
comunidade “amo sushi” também estavam na comunidade “amo fotografia”,
concluindo que pessoas que tiram fotos também apreciam comida japonesa. Mostrou
que 90% das mulheres que estavam na comunidade “sofro de TPM” participam da
“amo chocolate”, comprovando uma proximidade de temas já conhecida há anos. Por
fim, mostrou que usuários que utilizam foto sem camisa no perfil têm 90% de
probabilidade de serem do Brasil. A plateia caía na gargalhada, mas o Sr. Orkut
não entendia aquela suposta fixação brasileira de posar sem camisa para fotos.
Ele também tem o hábito de fornecer seu email, que é muito fácil
orkut@google.com (não sei se ele ainda lê esse email).
O fato é que o Orkut perde usuários de forma significativa
todos os meses. E a principal hipótese é meio óbvia: todos estão aos poucos
migrando para o Facebook, essa genial rede social usada por mais de um bilhão
de terráqueos. Mas o Orkut ainda tem usuários. Como assim, se grande parte de
meus amigos só usa Facebook? Pois é, temos o hábito de usarmos como referência
e nos balizarmos nas ações de nossos amigos mais próximos. Oras, o Brasil é
muito grande, é um país continental, temos vários Brasis dentro do Brasil.
Temos diversos São Paulos dentro de São Paulo.
Recentemente, perguntei para uma turma de alunos de uma
faculdade em que leciono na capital paulista. Perguntei se alguém ainda usava
Orkut. Cerca de meia dúzia levantou a mão, e eu questionei por que não usavam o
Facebook. E a resposta veio na lata: “ah, não, professor, acho o Facebook muito
chique”. Sabe, eles têm um bocado de razão. O Facebook é chique mesmo. O nome é
gringo e o site é azul. Na teoria das cores, azul é cor da nobreza, é cor de
sofisticação. Mas a rede de Mark Zuckerberg veio para ficar, cresce cada vez
mais no Brasil e o Orkut já foi bem ultrapassado pelo Facebook.
As redes sociais digitais são fantásticas. Ali podemos ser
nós mesmos, ou não. Podemos ser outro. Podemos modelar um perfil de um jeito
que a gente queira que demais usuários nos enxerguem. Podemos expor nossas
opiniões, sem as exigências do relacionamento pessoal. Para dar parabéns para
amigos no Facebook é muito mais cômodo: eu escrevo uma mensagem padrão como
“parabéns e felicidades”, copio e vou colando nos murais de meus amigos
aniversariantes. Mais conveniente e mais barato do que ligar para a pessoa e
desejar tudo de bom.
Seja saudosista. Ressuscite do orkuticídio que você cometeu
e comece a postar tudo lá de novo. O Orkut mudou e está com um visual muito
mais moderno. Até o aplicativo para iPhone disponível na app store está mais
bacana e intuitivo. Eu mesmo pensei em voltar para o Orkut hoje mesmo. Só que
não!
Fonte: Administradores
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