Nascida no final do século 19, Follet foi uma revolucionária
e suas ideias construíram alguns pilares da Administração que inspiram teorias
utilizadas até hoje
Imagine um pesquisador que tem ideias inovadoras em uma
realidade que está vários passos aquém de sua linha de pensamento. Nesse caso,
é provável que seja difícil para este pesquisador se fazer ouvir, receber
crédito e conseguir avançar nas análises sobre sua teoria. Ele ainda corre o
risco de ser silenciado e até ridicularizado pela sociedade que dificilmente
compreenderia suas propostas. E se, na realidade, esse pesquisador fosse uma
mulher e sua época fosse dominada por homens? Pois é, o tempo foi uma das
barreiras para a difusão das ideias da estudiosa Mary Parker Follet, que já no
início da década de 1920 forneceu as mais valiosas contribuições à
Administração.
Considerada por Peter Drucker a "profeta do
gerenciamento", Follet foi pioneira ao introduzir o conceito de
circularidade na interação entre seres humanos. Ela explicava que no
comportamento circular existem, em uma discussão aberta, a confrontação e o
jogo livre na exposição de ideias. Há a integração das diferenças, ao invés de
haver dominação de uma ideia sobre as outras ou a concessão das partes na busca
por uma ideia comum a todos. Ou seja, surgindo um conflito em um grupo, as
soluções devem ser encontradas somente com a participação de todas as partes,
não por meio de uma “psicologia de adaptação”, mas de uma “psicologia de invenção”.
No entanto, a dinâmica circular, que pode sugerir um círculo
virtuoso e positivo, que leva à criatividade e ao desenvolvimento, também pode
criar um círculo vicioso e negativo, levando à esterilidade e à desagregação.
No momento em que um membro do grupo toma posição frente aos
demais, os outros também tomarão uma posição em relação a ele. A hipótese do
círculo de desenvolvimento que segue a espiral positiva prevê que o
comportamento socialmente integrador em uma pessoa tende a induzir um comportamento
análogo nos outros. Instaura-se, assim, um clima favorável que, de acordo com
Domenico De Masi, “multiplica e enriquece a troca de informações em todos os
níveis, elimina as ameaças e os medos, potencializa a coragem de tentar e
errar, atrai do exterior os melhores cérebros, protege os participantes com
personalidades mais fracas e os ajuda a permanecer no grupo, determina a
sintonia e a ‘extensão de onda’ comum, graças às quais é mais fácil colher as
mais sutis intuições, que frequentemente se revelam resolutivas”.
Mary Parker Follet desenvolveu conceitos que foram
redescobertos por estudiosos da Administração anos mais tarde. Apesar disso,
poucos ouviram falar da pesquisadora pois, como afirmou Peter Drucker, nos anos
1930 e 1940, suas ideias, conceitos e preceitos desenvolvidos foram rejeitados.
Seus ensinamentos eram incompreensíveis naquela realidade, em que a sociedade
estava dominada por uma crença profunda na luta de classes. Patrões e
empregados em eterna posição antagônica.
Follet foi uma visionária que desenvolveu um pensamento
extremamente atual, que é base para o gerenciamento colocado em prática no
dia-a-dia das empresas. Ela faleceu em 1933 sem ter o devido reconhecimento,
mas suas pesquisas e constatações foram revolucionárias, fundamentais e até
hoje fazem história na Administração.
Fonte: Administradores
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