Cultivar ideias é um processo que podemos praticar para
produzir mais
Criatividade é um mistério, certo? Talvez, não. Trago aqui
um exemplo do processo que é a ciência da criatividade e de como aproveitar o
poder do cérebro para ter ótimas ideias. Ah, ideias! Quem não quer ter mais
ideias brilhantes? Eu quero.
Geralmente, penso em ideias como mágicas e difíceis de
produzir. Eu espero que elas apenas apareçam sem que eu as cultive, e fico
frustrada com frequência quando elas não aparecem no momento em que preciso.
A boa notícia é que cultivar ideias é um processo que
podemos praticar para produzir mais (e, com esperança, melhores) ideias. Por
outro lado, muitas vezes, grandes ideias podem simplesmente chegar a nós
enquanto estamos no chuveiro ou em outro ambiente relaxante.
Primeiramente, vejamos a ciência do processo criativo.
Como nossos cérebros funcionam criativamente?
Até agora, a ciência não determinou com exatidão o que
acontece com nossos cérebros durante o processo criativo, uma vez que ele
combina vários processos cerebrais diferentes. E, ao contrário da crença
popular, esse processo inclui os dois lados do cérebro trabalhando em conjunto,
ao invés de só um.
A verdade é que os hemisférios cerebrais estão
intrinsecamente conectados. Os dois lados do cérebro são distinguidos apenas
pelos diferentes estilos de processar. A ideia de que pessoas podem “pensar com
o lado direito” ou “pensar com o lado esquerdo” é, na realidade, um mito que eu
já desmontei.
A origem desse mito vem de uma pesquisa realizada em 1960,
com pacientes cujos “corpus callosum” (partes das fibras neurais que conectam
os hemisférios) haviam sido cortados como último recurso no tratamento de
epilepsia. Isso eliminou o processo natural da comunicação inter-hemisférica e
permitiu que cientistas conduzissem experimentos sobre o modo como cada
hemisfério trabalha em isolamento.
A menos que você tenha passado por esse procedimento, ou
teve metade do cérebro removido, você não pensa melhor com o lado direito ou
com o lado esquerdo.
No entanto, temos uma ideia aproximada de como esses
processos podem funcionar.
As três áreas do cérebro que são usadas para o pensamento
criativo
Entre todas as redes e centros específicos em nossos
cérebros, há três áreas que são conhecidas por serem usadas no pensamento
criativo:
- A rede de controle da atenção nos ajuda a focar numa
tarefa em particular. É ela que ativamos quando precisamos nos concentrar em
problemas complicados ou prestar atenção em uma atividade como ler ou ouvir uma
palestra.
- A rede de imaginação, como você pode ter adivinhado, é
usada para coisas como imaginar cenários futuros e lembrar coisas que já
aconteceram. Essa rede nos auxilia a construir imagens mentais quando estamos
engajados nessas atividades.
- A rede de flexibilidade da atenção tem o importante papel
de monitorar o que está acontecendo em nossa volta, bem como dentro de nossos
cérebros, e alternar a rede de imaginação e a rede de controle da atenção.
Você pode ver a rede de controle de atenção (em verde) e a
rede de imaginação (em vermelho) na figura abaixo:
Produzir novas ideias é um processo
A produção de ideias é um processo tão definido como a
produção dos Fords – James Webb Young
Em seu livro “Técnica para produzir ideias” (A Technique for
Producing Ideas), James Webb aponta que, enquanto o processo para produção de
novas ideias é simples o suficiente para ser explicado, “ele, na verdade,
requer o tipo mais pesado dos trabalhos intelectuais”.
Ele também explica que trabalhar para encontrar lugares onde
as ideias surgem não é a solução para ter mais ideias. Precisamos treinar a
mente para produzir novas ideias naturalmente.
Os dois princípios gerais
James descreve dois princípios da produção de ideias que me
agradam bastante:
- Uma ideia é nada mais, nada menos do que uma nova
combinação de elementos antigos.
- A capacidade de trazer elementos antigos para novas
combinações depende amplamente da habilidade de ver/perceber relações.
O segundo é muito importante para produzir ideias novas, mas
é algo em que nosso cérebro precisa ser treinado. Para determinadas mentes,
cada fato é pouco separado do conhecimento. Para outras, é um elo da cadeia de
conhecimento.
Para ajudar nosso cérebro a nos entregar boas ideias,
precisamos primeiramente de uma preparação. Vamos dar uma olhada no que é
preciso para preparar os cérebros para a criação de ideias.
Prepare-se para ter novas ideias
Como ideias são feitas da percepção de relações entre
elementos existentes, precisamos coletar um inventário mental desses elementos
antes que comecemos a conectá-los. James também observa em seu livro como, na
maioria das vezes, abordamos esse processo incorretamente.
Em vez de trabalharmos sistematicamente para coletarmos
matéria-prima, sentamos à espera. Preparar o cérebro para o processo de fazer
novas conexões leva tempo e esforço. Precisamos adquirir o hábito de coletar as
informações que nos cercam para que nossos cérebros tenham com que trabalhar.
Juntar tudo
O trabalho duro está principalmente na coleta de material
que o cérebro precisa para formar novas conexões. Contudo, também há muito que
você pode fazer para ajudar seu cérebro a processar toda essa informação.
O neurocientista Mark Beeman explica como chegamos àquele
momento final “Aha!” na produção de uma ideia por meio de outras atividades:
“Uma série de estudos tem usado eletroencefalografia (EEG) e
ressonância magnética funcional (fMRI) a fim de estudar as correlações neurais
dos “momentos Aha!” e seus antecedentes. Embora a experiência de um insight
seja repentina e possa parecer desconectada do pensamento imediato anterior,
esses estudos comprovam que o insight é o resultado de inúmeros processos e
estados cerebrais operando em diferentes escalas de tempo.”
Gosto bastante do modo como John Cleese fala sobre esses
aspectos da criatividade e de como nossas mentes trabalham. Ele realizou uma
palestra excelente anos atrás sobre como os cérebros desenvolvem ideias e
resolvem problemas criativos, onde discutiu a ideia de nossos cérebros serem
como tartarugas:
“A criatividade age como uma tartaruga, empurrando a cabeça
para fora, nervosa, para ver se o ambiente está seguro antes de emergir
completamente. Portanto, você precisa criar uma clausura como uma tartaruga –
um oásis na loucura da vida moderna – para ser um porto seguro onde sua
criatividade pode emergir.”
Outro assunto que John Cleese aborda é sobre como pode ser
benéfico “dormir no problema”. Ele se lembra de observar uma mudança dramática
em sua abordagem de um problema criativo após deixá-lo em paz. John não apenas
acordou com uma ideia perfeitamente clara de como continuar seu trabalho, como
também o problema em si não era mais percebido. O truque aqui é confiar o
suficiente para esquecer.
Quando empenhamos nossa mente consciente em outras
atividades, como dormir ou tomar banho, nosso subconsciente pode trabalhar em
achar relações em todas as informações que colhemos até o momento.
Fonte: Administradores
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