quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O guia do planejamento estratégico pessoal

Evitar estabelecer direção, sentido e propósito para a vida é trilhar um caminho incerto e nocivo na busca de suas realizações pessoais. Se você se esquiva dessas responsabilidades, está na hora de rever e planejar sua vida com estratégias que tragam resultados




Somos todos sonhadores inatos, possuidores de desejos e aspirações. Casar, ter filhos, fazer aquela tão esperada viagem, conseguir o cargo na empresa que sempre imaginou, comprar aquele carro com o motor potente, ter o reconhecimento em seu trabalho. Por mais variado que seja, fazer projeções é uma característica intrínseca no real “jogo da vida”. Mas, como conquistar todos os nossos sonhos no curto período de tempo que nos é dado pela natureza? Como atingir satisfação plena na vida quando, muitas vezes, na velocidade imposta pelo dia a dia, estamos em busca de quantidade e não qualidade?

Muitas pessoas esperam um sinal divino, que as coisas caiam do céu, seja pela simples acomadação ou por esperar que tudo irá melhorar por si só. No geral, existe uma dificuldade em, após identificar uma necessidade, dar um próximo passo para resolver o problema. Um “culpado” bastante apontado nesses momentos é o tempo: “eu ainda não fiz isso porque não não tive tempo” é uma frase que provavelmente você já deve ter escutado algumas vezes (se você mesmo já não a repetiu). No entanto, o que muitas vezes se esquece é que nós mesmos somos os grandes responsáveis para realizações de nossos sonhos e aspirações - e que, com dedicação, trabalho árduo e planejamento, é possível realizar boa parte deles.

Da mesma forma que empresários e empreendedores têm suas metas de vendas e lucros para seus negócios, é necessário estabelecer objetivos pessoais claros e alcançáveis. Se o gestor não possui uma vida pessoal organizada e estrategicamente pensada, dificilmente conseguirá comandar uma empresa ou sua própria carreira de maneira funcional.

Primeiro Passo

Para dar início a um planejamento estratégico pessoal, você deve, primeiramente, estar ciente da sua situação de vida. Esta capacidade de autoconhecimento e autoanálise lhe dará discernimento para diferenciar quais são os seus desejos e objetivos sinceros, separando-os daqueles que "foram passados ao longo da vida como 'ideais a serem alcançados'", afirma Heloisa Capelas, coach e especialista em Psicodinâmica Aplicada aos Negócios.

Quando se faz planos, entretanto, é necessário pensar na vida como um todo. Para o educador Tom Coelho, não existe sucesso se não olharmos uma série de fatores que afetam vários comportamentos e momentos da nossa rotina, que ele caracteriza como "sete vidas" (veja o box)."Integrar, conciliar e harmonizar vários elementos da nossa vida pode significar o caminho mais curto para você encontrar o sucesso e a felicidade", afirma.

Segundo os especialistas, entretanto, olhar e privilegiar apenas a principal dimensão de um objetivo é um dos maiores erros na hora de colocar em prática um plano de vida. Quando se mantém uma visão limitada da vida, perde-se o que acontece paralelamente e isso pode significar a perda de oportunidades que adicionariam novas perspectivas.

"Os dois únicos fatos verdadeiros para qualquer pessoa são que você nasce um dia e vai morrer em algum outro dia. O que acontece entre essas duas datas depende de seu modo de vida", reflete Tom Coelho. Não adianta fazer planos na esfera financeira ou profissional e gastar toda sua energia na realização desse sonho para, no fim, estar exausto fisicamente e emocionalmente.

Organização pessoal e profissional


O administrador Douglas Duran, hoje aos 60 anos de idade, precisou organizar a vida desde cedo. Aos 7 anos, já trabalhava como engraxate, passando a vendedor de frutas na estação de trem e, depois, entregador. Seu passado em nada lembra a atual posição de vice-presidente de finanças do grupo editorial Abril e CEO da DGB, a holding de logística do grupo. A experiência o ensinou uma lição valiosa: é possível se projetar para o futuro, mas planejá-lo não é tarefa fácil.

Duran conta que sempre foi organizado e para controlar as contas diárias comprou um caderno de anotações. "Abri várias colunas, do primeiro ao último dia do mês, onde anotava meus gastos reais e o balanço diário do que estava sobrando ou faltando para cumprir meus objetivos", comenta.

Enquanto que, para Douglas, estruturar a vida pessoal foi o que ajudou em sua carreira, para José Rubens a necessidade surgiu através do seu próprio negócio. Quando abriu o "Guia-se Negócios" a ideia era ter um guia de anúncios para as cidades de cada um dos sócios, porém, a sociedade eventualmente desmoronou. O administrador, analisando os concorrentes, percebeu que as empresas do setor não contavam com uma organização adequada nas áreas de atendimento ao cliente e desenvolvimento de produtos e serviços. “Decidi que nosso compromisso principal deveria ser com os resultados do cliente”, relembra.

Para conseguir alinhar seu posicionamento com as novas diretrizes da empresa, Rubens precisou reestruturar sua vida. "Eu penso o seguinte: eu preciso ser feliz, meus colaboradores precisam ser felizes, meus franqueados precisam ser felizes e os clientes e os usuários precisam também."

Da sua experiência, ele ressalta que é preciso definir bem o que você quer para transmitir com facilidade e exatidão para o público. "Não adianta a sua missão de vida ser diferente ou se contrapor à missão da empresa. O planejamento só funciona se a cultura, missão, visão e valores estão bem alinhados, pessoal e profissionalmente", finaliza.

Geração Y, Planejamento e Carreira 

Uma das dificuldades que os jovens esbarram na hora de se planejar é a falta de visão em longo prazo e o imediatismo pelos resultados exigido por eles mesmos. Duran culpa a formação da "geração Instagram", com sua"arrogância e falta de humildade", pelas frustrações que encontram pelo caminho, principalmente no profissional. "Eles não conseguem se sentir satisfeitos com o trabalho porque acham que são os melhores", critica. "Fazem parte de uma geração que sempre teve tudo nas mãos e não aprendeu a ter certas responsabilidades e a dar valor ao que tem. Eles não acham que precisam se esforçar para atingir o sucesso".

As mudanças ocorridas no estilo de vida da população criaram, na visão de Duran, uma necessidade de planejamentos que sejam em curto prazo, de no máximo 12 meses. O especialista em finanças pessoais Maurício Galhardo compartilha da opinião e aconselha a sempre estipular prazos para suas metas, dessa forma, atribuindo o valor desse sonho na sua vida: o que é mais importante e precisa ser realizado primeiro? "Quando você coloca data, está mudando a situação de um sonho para um objetivo e a coisa começa a ficar mais palpável", explica.

Por isso, todo planejamento, por mais que tenha um foco, deve ser flexível. Muitas vezes nos deparamos com situações que fogem ao nosso controle e que necessitam de tomadas de decisões que alteram o futuro. A partir do momento que você estabelece um objetivo a ser alcançado, não se deve fechar os olhos para as outras oportunidades que surgem no meio do caminho e que devem ser consideradas.

Apanhado teórico

Sabe aquela história contada por Sun Tzu de vencer a guerra antes da batalha? Ou melhor, de evitar a todo custo a própria batalha para vencer a guerra? Essa é uma das melhores imagens para se ter em mente quando o assunto é estratégia. "Não procures vencer teus inimigos à custa de combates e vitórias", recomenda. Quando um general domina todas as variáveis envolvidas no conflito, sua vitória é certa; quando deixa ao acaso, corre o risco de ficar à mercê do inimigo ou de simplesmente medir forças no campo de batalha.

Faz sentido. Um conflito tem um custo alto para vitoriosos e derrotados, e a estratégia é a melhor maneira de encerrar o combate com a menor quantidade de baixas possível, o mais cedo que puder -- se possível, antes de começar. No mundo corporativo, pode-se calcular as baixas em tempo gasto, profissionais envolvidos, horas trabalhadas, refeições, salários, benefícios e -- o mais importante -- o timing do mercado. "Pior do que ter uma estratégia rasa é não ter estratégia", afirma o executivo e professor de Administração Carlos Alberto Júlio.

Antes de pensar na estratégia, no entanto, é necessário entender o planejamento. Como essa palavra é mastigada ad infinitum nas salas de aula dos cursos de Administração, não é necessário um aprofundamento maior nestas páginas. Henry Mintzberg, autor de Ascensão e queda do planejamento estratégico destaca cinco formas de compreender o conceito:

1. Planejamento é pensar o futuro;
2. Planejamento é controlar o futuro;
3. Planejamento é tomada de decisão;
4. Planejamento é tomada de decisão integrada e, o mais importante;
5. Planejamento é um procedimento formal para produzir um resultado articulado na forma de um sistema integrado de decisões.

"O que capta a ideia de planejamento acima de tudo é sua ênfase na formalização, a sistematização do fenômeno ao qual se pretende aplicar o planejamento", explica. A formalização, de acordo com Mintzberg, é a chave. Pode se referir a "decompor", "articular" mas, principalmente, "racionalizar" o processo. Significa, trocando em miúdos, pegar um papel, lápis e criar uma representação gráfica do que está estruturado em sua mente. "Acima de tudo, o planejamento é caracterizado pela natureza de decomposição da análise -- reduzindo situações e processos a suas partes".

Planejar torna-se, portanto, uma ferramenta essencial para coordenar e mensurar a produtividade, racionalizar os processos e, sobretudo, antecipar o futuro. De modo básico, o planejamento se subdivide em estratégico, tático e operacional, conforme o tipo de decisão que se precisa tomar, segundo notação de Djalma Rebouças no livro Planejamento Estratégico. "De forma resumida, o planejamento estratégico relaciona-se com objetivos de longo prazo e com estratégias e ações para alcançá-los que afetam a empresa como um todo, enquanto o planejamento tático relaciona-se a objetivos de mais curto prazo e com estratégias e ações que, geralmente, afetam somente parte da empresa", relata.

Apenas grandes empresas devem planejar e pensar estrategicamente seu futuro? A resposta é não. Segundo Júlio, pequenas empresas e até mesmo as pessoas em sua individualidade devem ter noções de estratégia sem precisar recorrer a teorias e métodos complexos. Assim, pode-se dizer que qualquer planejamento do “jogo da vida”, aquele jogado na vida real e com ações reais, é estratégico -- uma vez que uma pessoa é indivisível, não dá para determinar que seu cérebro coordene e planeje e que suas mãos façam o trabalho operacional. O sistema já é perfeito, não tem o que melhorar. Resta saber o que você quer, e como chegar lá.



Como faz?

Rebouças explica que, bem ou mal, cada empresa tem sua estratégia. E, bem ou mal, cada qual aplica de uma maneira que lhe parece melhor, independente se isso é feito de forma eficiente e eficaz. Porém, quando há uma forma -- um esquema definido e fielmente executado --, diferentes metodologias tendem a englobar os elementos fundamentais de uma estratégia bem consolidada. E isso vale para a vida pessoal. São quatro etapas no planejamento estratégico: diagnóstico estratégico, missão, instrumentos prescritivos e quantitativos e controle e avaliação.

1. Diagnóstico

Parece frívolo, mas é determinante ter um objetivo que possa ser alcançado por etapas, "pois somente dessa forma se pode verificar a validade da metodologia apresentada". No diagnóstico, são definidos também a visão e os valores da empresa. Em um nível pessoal, pode-se considerar os valores como os princípios consolidados durante a criação e formação do indivíduo, e a visão como suas aspirações -- algo que requer uma boa dose de autoconhecimento. Ao final do planejamento você irá obter as seguintes informações:

1.1 SWOT

Forças -- Quais são os meus pontos fortes e como posso utilizá-los melhor;
Fraquezas -- Quais são os meus pontos fracos e como torná-los irrelevantes ou adequá-los;
Oportunidades -- Quais são as oportunidades que tenho e como aproveitá-las;
Ameaças -- Quais são as ameaças que vou enfrentar e como evitá-las ou superá-las.

2. Missão

Também requer autoconhecimento. Rebouças define a missão como o "motivo central da existência". Ou seja, o que você quer fazer, para quem você quer fazer e por quê. Os propósitos vão informar quais são os setores dentro da missão onde você vai atuar -- ou já atua. Depois são montados os cenários do futuro, com base nas informações coletadas até então e nas projeções. Com isso, você vai saber se posicionar estrategicamente diante do que você quer ou espera para o futuro.

3. Instrumentos

3.1. Objetivo: o que você pretende, afinal, atingir. Para esse destino é que devem ser direcionados os seus esforços;
3.2 Desafios: feitos que precisam ser conquistados, porém com um prazo, e quantificáveis;
3.3. Metas: passos, também quantificáveis, para se chegar aos desafios e objetivos;
3.4. Projetos: trabalhos que devem ser executados com resultados esperados, considerando os recursos e tempo que deverão ser gastos;
3.5. Planos de ação: reunião das partes comuns dos projetos, direcionadas ao objetivo.

4. Controle e avaliação

"Por mais bela que seja a estratégia, esporadicamente você deve analisar os resultados", dizia Winston Churchill. E essa é a etapa a ser cumprida antes de reiniciar o ciclo. Você deve criar indicadores para avaliar o desempenho, o quanto você se desviou do objetivo, desafios, metas e projetos e, então, tomar uma atitude com as informações disponíveis. Por fim, esses resultados devem ser acrescentados ao planejamento estratégico, e o processo recomeça.

Como diria Ford, ninguém constrói uma reputação com base no que pretende fazer. Portanto, mais vale uma execução malfeita do que a mais bela estratégia que nunca saiu do papel. O que se espera é a compreensão da estratégia, o direcionamento dos esforços rumo ao objetivo traçado e a construção de uma agenda com início e fim, destacando as prioridades. Assim, o “jogo da vida”, aquele jogado na vida real e com ações reais, pode ser muito mais tranquilo. E mesmo que não se termine no “espaço do milionário”, ainda sim, você terá tudo para sair como o vencedor.

Muitas metas atrapalham?

É preciso que se estabeleça uma quantidade de metas que você possa lidar sem pressão, para que não desista no meio do caminho. À medida que suas realizações vão acontecendo, pode-se incluir novos objetivos a serem perseguidos. Se um de seus objetivos é grande demais, foque apenas nele por um momento. Pense e estude todas as possibilidades e, sempre que possível, distrinche-o em pequenos (porém não muitos) outros marcos idealizadores. Ajuda na visualização se você escrever todos os sonhos em um papel em branco. "É importante ver que quando a pessoa escreve isso, você percebe o que não está fazendo. É muito comum encontrar pessoas que parecem saber o que querem, mas em momento nenhum pararam para pensar nisso", indica o especialista Maurício Galhardo. 





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