Na maior parte dos casos, essa prática ocorre de forma
vertical, ou seja: parte de um superior a um subordinado
Projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que,
em 2030, a depressão será a doença mais comum no planeta, à frente do câncer e
de doenças infecciosas. De acordo com a entidade, atualmente, cerca de 121
milhões de pessoas sofrem desse mal. Segundo o órgão, 350 milhões de pessoas
(cerca de 5% da população mundial) sofreram algum episódio de depressão no ano
passado. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 25 milhões de pessoas são
depressivas, com manifestações leves, moderadas ou severas.
Parte importante das causas desse distúrbio resulta da vida
profissional. “O trabalho representa uma importante instância na patogenia, no
desencantamento e na evolução de distúrbios psíquicos”, afirma Edith
Seligmann-Silva, doutora em medicina e especializada em Saúde Pública, ambos
pela Universidade de São Paulo, e autora de diversos títulos sobre
psicopatologias do trabalho. Além da insatisfação profissional, medo do
desemprego e preocupações com a renda, um fator ganha força cada vez maior no
agravamento desse quadro: o assédio moral.
A busca crescente por resultados financeiros, ganhos de
produtividade, enxugamento de mão de obra e o consequente acúmulo de funções,
entre outros, aumentam as tensões no ambiente de trabalho. A isso, mais vezes
do que se supõe, somam-se ações como ignorar um funcionário, maltratá-lo,
desprezá-lo, retirar-lhe responsabilidades e atribuir-lhe tarefas e metas
infactíveis. Quando constantes, práticas como essas caracterizam o assédio
moral, que acaba por comprometer a performance profissional de uma pessoa e,
muitas vezes, sua saúde mental e física.
Na maior parte dos casos, essa prática ocorre de forma
vertical, ou seja: parte de um superior a um subordinado. Há também o bullying
de caráter horizontal, caso do chamado mobbing. Ocorre quando um grupo passa a
praticar assédio psicológico contra um colega de mesmo nível hierárquico, por
exemplo, por meio de críticas e comentários, disseminação de rumores ou
ridicularização. Por vezes, esse comportamento parte de pessoas que buscam, de
formas pouco profissionais, agradar a superiores, repetindo, quando possível,
seus atos.
Entre as consequências que a vítima de assédio moral pode
enfrentar estão episódios depressivos, transtorno de estresse pós-traumático,
neurastenia, neurose profissional, síndrome de esgotamento profissional, entre
outros. Há ainda a chamada Síndrome de Burnot. Causado pelo estresse
profissional, o mal acomete muito os chamados “workaholics”. Porém, suas causas
estão intimamente ligadas a uma percepção de desvalorização profissional,
característica marcante da exposição ao assédio moral.
A Síndrome de Burnout se caracteriza por tensão, esgotamento
físico e mental extremo, fadiga persistente, distúrbios de sono, dores
musculares e de cabeça, enxaquecas, problemas gastrointestinais, respiratórios
e cardiovasculares. É um quadro extremo dos males a que um trabalhador pode ser
exposto.
O número de doenças psíquicas catalogadas que têm algum
vínculo com o trabalho e as práticas de assédio moral identificadas e nomeadas
basta para se ter uma noção do quão preocupante é o quadro. Os prejuízos não se
restringem aos profissionais expostos a essas práticas, mas também aos CEOs,
sócios e donos de uma empresa, que, com desvios de conduta de seus executivos,
podem ter diversos tipos de prejuízos em seu negócio.
Um levantamento realizado pela HSD Consultoria em RH a
partir de 5 mil avaliações realizadas com executivos detectou desvios de
conduta em 20% dos pesquisados. Outro dado revelador aponta que 90% dos
desligamentos de profissionais com cargos de chefia e gerência devem-se a
comportamento e não a conhecimento ou desempenho. Desses, mapeados para
identificação de potencial, 100% apresentavam desvios de conduta que
representavam potenciais prejuízos financeiros para seus empregadores.
Poucas empresas expressam preocupação com o conhecimento do
perfil comportamental de seus executivos e lideranças, não só no que se refere
a atitudes observáveis, mas principalmente quanto à sua estrutura de caráter. A
conduta e a ação das pessoas que representam uma organização pode ser uma
referência para o sucesso ou fracasso de um negócio.
Apesar do indicador, observamos que algumas empresas relutam
em tomar decisões para o desligamento de executivos que apresentam desvios de
conduta. É comum CEOs justificarem essa omissão com o argumento de que esses
profissionais trazem resultados para o negócio. Porém, se há desvio de conduta
comprovado pela auditoria, uma ação imediata e contundente deve ser tomada, já
que, certamente, outras pessoas da organização conhecem as práticas desse
profissional. Nesses casos, as medidas tomadas funcionam como uma mensagem.
Quando nada é feito, outros membros da equipe entenderão a empresa como
tolerante a desvios de conduta.
A omissão nesses casos é um erro grave, mesmo se analisada
apenas do ponto de vista financeiro. Além de potenciais perdas por conta de
ações trabalhistas, essas práticas acabam por comprometer a parte operacional
do negócio. Isso ocorre por conta do clima instalado entre os funcionários.
Faltas, turnover elevado, problemas disciplinares, queda de performance,
tensões e conflitos no ambiente de trabalho tornam-se parte do cotidiano da
empresa. As consequências econômicas são óbvias, mas há ainda prejuízos à
imagem institucional da organização. Há casos de organizações que, mesmo com
uma política salarial atraente, acabam por ter dificuldades em atrair bons
profissionais, por conta da fama que têm no mercado.
Fonte: Administradores
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo participação!