sábado, 1 de abril de 2017

Aprendendo estratégia com Donald Trump

Olhando agora para os primeiros momentos do presidente americano, e o modo como ele vem conduzindo o seu governo, uma coisa não dá para negar: ele entende, e muito, de estratégia



Se você não gosta do jogo, mude-o.

Muitas pessoas tem uma noção errada sobre Estratégia. Nos filmes, sempre vemos um exército inteiro berrando em frente ao inimigo, com aquelas tomadas aéreas de milhares de pessoas morrendo ao mesmo tempo. Os filmes sobre empresas, pelo menos os mais populares, também costumam mostrar os adversários como inimigos mortais, enquanto um tenta destroçar o outro em uma batalha pela sobrevivência.

Quem estuda o assunto sabe que não é bem assim. O grande general Romano Júlio César entrou para a história quando conquistou a Gália. Não foi uma batalha aos moldes de Hollywood que garantiu a vitória, mas sim o muro que ele mandou construir em volta do inimigo que o levou à história. Alexandre, o Grande cercava o inimigo com a cavalaria. Winston Churchill preferia ataques estratégicos feitos por tropas especiais do que as grandes batalhas abertas que fizeram a fama da Segunda Guerra Mundial.

No mundo empresarial, a coisa também é parecida. Faz apenas 10 anos que a Apple lançou o primeiro iPhone e mudou as regras do jogo. Os concorrentes responderam da forma usual: anunciando antenas e processadores melhores. Não é à toa que a Nokia e a Motorola são uma sombra do que já foram.

Eu comecei a levar Donald Trump a sério em um debate com a Hillary Clinton. Os candidatos precisaram responder algo que respeitavam um no outro. Hilary começou dizendo que admirava os filhos de Trump e aproveitando o blablablá político de sempre sobre como o trabalho dela ao longo dos anos valorizava a família. Na sua vez, Trump disse algo como: "Ela é uma lutadora, eu não concordo com quase nada que ela fala, mas admiro que ela vai em frente e luta pelo que quer”. A câmera estava dividida, e deu para ver o sorriso de Hillary transformando-se em raiva.

Você pode gostar ou não do sujeito. Eu, particularmente, achava que tudo era uma grande piada. Olhando agora para os primeiros momentos do presidente americano, e o modo como ele vem conduzindo o seu governo, uma coisa não dá para negar: ele entende, e muito, de estratégia.

Em um de seus primeiros debates, foi o único pré-candidato de seu partido a dizer que não apoiaria mais ninguém. Ou apoiariam ele ou nada feito. É mais ou menos quando você diz para o vendedor que ou ele aceita o seu preço ou você vai embora.

Há pouco tempo, baniu o transporte de computadores e tablets em um punhado de companhias aéreas do Oriente Médio como “medida de segurança”. Não sou especialista em segurança, mas sei que há anos as companhias aéreas do Ocidente reclamam da competição das empresas daquela região. Uma forma fácil de fazer um viajante do Oriente preferir passar pela Europa do que pelo Oriente Médio é deixá-lo usar seus apetrechos durante as longas horas do voo. Obviamente, isso é especulação e vai contra o discurso oficial, mas no mínimo é um “efeito colateral” da decisão sobre segurança.

Agora, Trump praticamente travou a agenda do legislativo em torno de uma de suas promessas de campanha. Vinculou a aprovação da retirada do chamado “Obamacare”, que é bastante polêmica, à proposta de mudanças no regime tributário (e quem não gosta de corte nos impostos?). Independente do resultado, Trump já ganhou. Se conseguir, ele pode contar uma grande vitória para seu lado. Senão, pode dizer que tentou, culpar os adversários pelo fracasso e ainda assim ter uma vitória política.

Tudo isso confunde a mídia, que na falta do que pensar o ataca em um nível pessoal, e os políticos que não sabem como lidar com sua forma de fazer as coisas. É algo comum, no entanto, que uma mudança de estratégia desse nível gere estranheza. Trump não é político profissional. E, por isso mesmo, mudou as regras do jogo. É mais fácil ganhar quando ninguém sabe jogar direito.

Não sei aonde tudo isso vai levar, mas, independente da sua opinião política, é interessante testemunhar quando alguém resolve mudar as regras do jogo.

Momento do ADM, Fábio Zugman - 01 de abril 2017.


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