sexta-feira, 30 de outubro de 2015

De onde saiu esse Wesley Safadão?

Conheça a trajetória do cantor e como o forró se transformou em uma grande indústria




De repente descubro que Wesley Safadão se tornou um dos cantores mais bem pagos do Brasil. Alguns veículos especulam que o forrozeiro cobra R$ 500 mil por apresentação, ficando atrás apenas de Ivete Sangalo. No próximo sábado (1), o Safadão vai colocar em prática um projeto audacioso: gravará seu terceiro DVD no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. A produção será masterizada em Los Angeles e lançada pela SomLivre. Quem quiser participar pode comprar os ingressos a R$ 40 (VIP), R$ 180 (prime), R$ 420 (exclusive – mulheres) e R$ 520 (exclusive – homens), a variedade de preços expressa a essência do forró, que tem como objetivo tocar para um público diverso.

Se você acredita que o Safadão é uma novidade musical, saiba que ele tem 12 anos de carreira. Ele começou por acaso na banda Garota Safada, formada pela mãe, pelo tio e por outros integrantes da família. Um certo dia, o antigo vocalista se negou a subir no palco minutos antes do show e Wesley assumiu o microfone. A carreira foi crescendo progressivamente e a fama começou no Nordeste. Em 2013, ele assinou um contrato com duas empresas, uma delas administrada pelos sertanejos Jorge e Mateus.

A cultura brasileira é tão rica quanto diversificada. Enquanto muitos perdem tempo debatendo a qualidade musical de determinados gêneros, empresários, artistas e fãs lucram ao passo que se divertem.

De Luiz Gonzaga a Wesley Safadão, a história do forró une todos os elementos de um case de sucesso. Foi preciso quebrar estigmas, inovar, usar o marketing e olhar para o cliente que, aparentemente, ninguém queria.

A inovação de Emanuel Gurgel

Na década de 1990, o forró se reiventou como ritmo e abriu caminhos para cantores como Wesley Safadão. Um dos protagonistas da transformação do forró de um ritmo esquecido em um grande negócio foi Emanuel Gurgel. O empresário conta que gostava de dançar forró, mas não existia um lugar em que pudesse fazer isso, já que o gênero era considerado brega e visto com muito preconceito. “As pessoas não queriam se assumir como forrozeiras. Eu não só assumi, mas vi uma oportunidade de negócio. Antes, as bandas não eram profissionalizadas, não usavam a tecnologia e não possuíam esquemas de divulgação. Nós mudamos isso”, me contou o próprio Gurgel em entrevista que fiz há alguns anos para uma revista do Nordeste.

Após gerir alguns fracassos, Gurgel lançou a banda Mastruz com Leite e com essa veio um sucesso estrondoso. Antes as bandas só tocavam três músicas de forró no Nordeste, geralmente nos intervalos dos shows. O Mastruz, criado por Gurgel, tocava durante cinco horas. Para segurar a festa, a formação da banda possuía dois músicos para cada função. Introduziu guitarra, baixo, dançarinas e jogos de luz nos shows recriando o estilo.

Ele contou que então decidiu investir 150 mil dólares na época em um estúdio apenas para forrozeiros. “Muitos me chamaram de louco e achavam que eu nunca teria retorno, mas apenas a música ‘Meu Vaqueiro, Meu Peão’ pagou a conta”, disse.
Gurgel não parou por aí. Ele ainda lançou as bandas Cavalo de Pau, Brucelose, Cavaleiros do Forró e Magníficos (os nordestinos que estão lendo com certeza reconhecem ao menos um desses nomes). Depois do estúdio, ele criou a SomZoom, uma empresa que reunia rádio, emissora de TV e um parque de vaquejada, todos voltados para o forró, chegando a administrar 80 produtos fonográficos e dominar 8,4% do mercado nos anos 2000.

O marketing

Enquanto o mundo brigava contra a internet e a pirataria, os empresários do forró desenvolveram uma estratégia que usava ambos como instrumento de divulgação. Eles passaram a distribuir os CDs gratuitamente e lucrar a partir dos eventos e menções a empresas dentro das músicas. Calma, eu vou explicar. No meio do show, o cantor dava um “alô” para determinada marca. Esse show era gravado e distribuído gratuitamente, nos CDs e posteriormente, via downloads na internet, espalhando o nome da empresa junto. Uma estratégia muito parecida com essa foi adotada também na cena tecnobrega, na região Norte, alguns anos depois do forró. 

Para driblar o preconceito, os empresários também passaram a comprar horários em rádios de outras regiões a fim de tocar apenas o ritmo, fidelizando a audiência dos nordestinos espalhados pelo país e apresentando o estilo a outros.

É difícil medir o impacto econômico do forró. São milhares de bandas que animam cidades que você nem desconfia que existem. Empresas especializadas cuidam das bandas de forró e fazem uma gestão de marca eficiente e cuidadosa, trabalho que conseguiu elevar o status de bandas como Aviões do Forró, além de tantas outras famosas localmente. 

Em seus shows, Wesley Safadão costuma dizer que não morre de inveja, mas mata muita gente. Com tamanho sucesso, quem duvida disso? 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo participação!