Quando na metade do século passado o psicólogo e professor
americano Abraham Maslow publicou o trabalho criando a pirâmide das
necessidades básicas do ser humano, este conhecimento transitava somente nos
círculos humanistas, em especial na área de psicologia. Somente depois que
Maslow conheceu Peter Drucker e se envolveu com a área de gestão, passou a
conectar suas teorias com o management, desenvolvendo diversos trabalhos neste
campo.
Posteriormente, a teoria da hierarquização das necessidades
humanas passou a fazer parte do marketing, pois no fundo, o marketing pode ser
conceituado como uma forma de oferecer alternativas para a satisfação das
necessidades humanas. Hoje, sempre que se fala em marketing, reporta-se, pelo
menos inicialmente, à estas necessidades. E no estudo da satisfação destas,
desde as mais elementares, na base da pirâmide, até as mais sofisticadas, no
topo, muitas teorias e ações de marketing foram e estão sendo feitas.
Figura extraída so site: www.acasadoaprendiz.com/motivação
Hoje em dia muito se discute sobre a atualidade desta
pirâmide ou sobre sua defasagem perante um mundo moderno, bem diferente daquele
no qual viveu Maslow, onde ele fez as observações que o levaram a montar sua
teoria e coloca-la sob uma forma geométrica. Levantam-se muitas discussões
sobre este tema, geralmente associadas à recorrente pergunta se o marketing
cria novas necessidades ou não. Logicamente que a inquietude mental do ser
humano leva-o a contestar tudo e isto é salutar, pois é o que leva a humanidade
a trilhar novos horizontes. Se nos cristalizássemos em cima do conhecimento
existente sem contestá-lo ou amplia-lo, estaríamos ainda na idade da pedra.
Entretanto, neste exercício eu diria até que saudavelmente
iconoclasta, há duas vertentes diferentes: desconstruir o conhecimento
previamente existente e tentar substituí-lo por outros ou ampliar, atualizar,
trazer para um mundo moderno os conhecimentos já existentes. Tom Peter é um
arauto da desconstrução do conhecimento, pregando a substituição do
conhecimento existente e a criação de novos modelos. Mas está longe de ser uma
unanimidade, mesmo entre os grandes gurus do management. Esta mesma discussão
permeia os já tão debatidos 4 Ps do marketing, objeto de outro artigo meu neste
site. No caso do mix de marketing, é possível adapta-lo ao moderno sistema de
vida atual e aos novos modos de se fazer marketing.
No que se refere à pirâmide, as críticas que tenho lido,
pelo menos até agora, não a descaracterizam, não a tornam obsoleta. Têm sido
frutos de uma má interpretação do real significado da palavra necessidade,
muitas vezes confundida com desejo ou mesmo de uma interpretação mais livre da
primeira palavra. Assim, muitas vezes se diz que o celular ou o automóvel são
necessidades do mundo moderno, que não se pode viver sem eles. Primeiro devemos
dizer que as necessidades, dentro da pirâmide, são inerentes a todos os seres
humanos, independente de sua situação social, seu país, sua idade. Já as
chamadas novas “necessidades”, como automóvel, celular, computador, são desejos
e instrumentos de trabalho e lazer de uma minoria de pessoas no mundo. Ora, se
bilhões de pessoas pelo mundo afora podem viver sem automóvel ou sem celular,
eles não são propriamente “necessidades” dos humanos, mas sim de uma minoria.
Logo, sob meu ponto de vista, não poderiam ser encaixados na pirâmide, a não
ser como extensão de alguma das necessidades ali contempladas. No tempo de
Maslow, provavelmente o trem, o bonde e o telégrafo pudessem ser encarados como
de tanta “necessidade” como o são hoje os automóveis e o telefone.
Assim, poderemos encaixar o telefone celular como uma
ferramenta para atingir a necessidade básica de alimentação, no primeiro
patamar da pirâmide, se ele for usado como instrumento de trabalho que vai
gerar renda para comprar alimentos. Será enquadrado como ferramenta do segundo
patamar se for usado para aumentar a segurança e como ferramenta do terceiro ou
quarto estrato se for usado por uma pessoa simplesmente para “pertencer ao
grupo”, para não destoar do grupo social, como é o caso de adolescentes que o
usam simplesmente porque os outros também usam e ninguém quer “ficar por fora”.
Assim, ele não é uma necessidade em si, mas um instrumento para ajudar a
satisfazer uma ou mais necessidades.
Um excelente exercício é trabalhar com a pirâmide e tentar
encaixar tudo que temos hoje à nossa disposição, em termos de consumo, e ver a
que necessidade ele se reporta, para qual ou quais necessidades básicas os
novos produtos são ferramentas, são instrumentos para satisfazê-las. Vamos nos
surpreender com a amplitude e a enorme atualização da pirâmide, vendo que ela pode
e deve ser atualizada, mas em termos de interpretação, de seu entendimento de
forma mais profunda. Enfim, ela ainda não se esgotou como conhecimento para a
área do marketing.
Fonte: Administradores.com.br
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