Apesar de se considerar preparado, pesquisa revela que o
brasileiro não sabe lidar com o próprio dinheiro: 85% faz compras por impulso e
74% admite não ter qualquer investimento
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) divulgou uma
pesquisa que aponta que a maioria dos brasileiros realizam compras por impulso
motivados pela ansiedade e insatisfação com a própria aparência. O levantamento
foi realizado com 646 consumidores de todo o Brasil.
O estudo foi encomendado para testar o grau de conhecimento
do consumidor sobre finanças e conclui que, apesar de se considerar preparado,
o brasileiro não sabe lidar com o próprio dinheiro: 85% da população faz
compras sem planejamento e 74% não possui qualquer investimento fixo, como a
caderneta de poupança, por exemplo.
Faz compras sem planejamento?
O levantamento mostra o quanto que fatores puramente
emocionais interferem negativamente nas contas do consumidor: quatro em cada
dez entrevistados (43%) admitem fazer compras por impulso em momentos de
ansiedade, tristeza ou angústia. Na avaliação do SPC Brasil, este tipo de
consumo descontrolado revela ser um mecanismo de compensação para suprimir
carências que nada têm a ver com o universo material.
Entre os que fazem compras movidas por impulsos emocionais,
a ansiedade por um evento que se aproxima (festas, jantares e viagens, por
exemplo) é o motivo mais decisivo entre consumidores de classes A e B. Por
outro lado, a baixa autoestima (insatisfação com a própria aparência) é a razão
mais citada entre consumidores das classes C e D. “Na busca pelo prazer
imediato ou para exibir um estilo de vida que não condiz com a própria renda, o
comprador se alivia momentaneamente, sem se importar com o futuro do próprio
bolso”, diz a economista do SPC Brasil Ana Paula Bastos.
Quando questionados se pedem algum desconto ao fazerem
compras a vista, a maioria (85%) respondeu que sim. Apesar deste comportamento
maduro, o brasileiro ainda peca na hora de fazer compras a prazo: a maior
parcela dos consumidores (37%) só observa se o valor mensal da parcela cabe no
próprio bolso e não leva em consideração a taxa de juros embutida no
financiamento. “Esse comportamento é ainda mais marcante nas classes C e D (42%
contra 30% nas A e B), porque são consumidores que estão aprendendo a lidar com
o crédito e que têm costume de fazer compras ─ principalmente as de maior valor
─ parceladas”, explica a economista Ana Paula Bastos.
O que considera mais importante ao parcelar uma compra?
Eles não poupam
O estudo também revela o imediatismo do consumidor
brasileiro: quatro em cada dez entrevistados (42%) gastam tudo o que ganham e
não conseguem poupar qualquer quantia. Considerando somente consumidores das
classes C e D, este percentual é ainda maior, chegando a 53% ante 28% nas
classes A e B. “Isso se deve a menor renda disponível nas classes C e D,
impossibilitando estas pessoas de guardarem um pouco de seus salários, depois
de pagar as contas primárias como aluguel, água, luz e telefone”, explica a
economista.
Em uma situação hipotética de perda total das fontes de
rendimentos, 30% dos consumidores admitiram quem não conseguiriam manter o
atual padrão de vida nem por um mês, enquanto 35% conseguiriam mantê-lo de um a
três meses. 17% deles conseguiriam por quatro a seis meses e 10% entre sete e
dozes meses. Apenas 7% da população conseguiria manter-se firme nessa situação
por mais de um ano.
Eles não investem
A maioria (74%) dos entrevistados também admite não possuir
qualquer tipo de investimento fixo como a caderneta de poupança. Na visão do
SPC Brasil, o baixo percentual de investidores entre os consumidores é reflexo
da falta de conhecimento do brasileiro sobre como e onde aplicar o próprio
dinheiro. “Apesar de a pesquisa apontar que 72% dos entrevistados se consideram
aptos a fazer a administração das finanças de casa, o que se percebe é que o
brasileiro não tem noções básicas de orçamento doméstico e não sabe lidar com o
próprio dinheiro”, afirma a economista.
Importância da educação financeira
Para o SPC Brasil, o atual cenário econômico e social
brasileiro revela uma melhoria do padrão de vida da população, impulsionado por
fatores como alta empregabilidade, aumento da renda média e amplo acesso ao
crédito. A combinação desses fatores fez emergir no Brasil uma nova classe
média, ou seja, o país presencia a ascensão de uma parcela significativa da
sociedade ao mercado de consumo.
O novo padrão de consumo que se estabeleceu em decorrência
destas mudanças vai além das necessidades consideradas primárias e abrange
produtos e serviços que no passado se limitavam um percentual restrito de
consumidores. “Daí surge à importância da educação financeira como forma de
contribuir ativamente para aumentar o nível de consciência financeira,
reduzindo a inadimplência e possibilitando um mercado mais transparente e com
vantagens para todos que utilizam o crédito”, alerta a economista.
Fonte: Administradores
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