2014 será um ano para andar de lado, o que, diante das
nossas potencialidades desperdiçadas e de oportunidades pelo mundo, significará
mais um ano perdido
Como estamos no limiar de um novo ano, empresas e gestores
estão todos com os periscópios levantados no esforço de enxergar o que vem pela
frente, o que fazer e como se posicionar. No meu entender, salvo para algumas
empresas e setores pontualmente beneficiados, 2014 será um ano para andar de
lado, o que, diante das nossas potencialidades desperdiçadas e de oportunidades
pelo mundo, significará mais um ano perdido.
Para entender porque, precisamos olhar para dentro e para
fora do país. Internamente, pelo menos quatro fatores continuarão deixando a
desejar: a inflação crônica, a assimetria entre as políticas monetária e
fiscal, o aumento do déficit público e a deterioração das contas externas, sem
perspectivas de mudança por serem atreladas ao modelo político-econômico
vigente. No cenário internacional, estamos diante da recuperação e melhoria dos
Estados Unidos, dos principais países europeus e da própria China. E, dentro
dessa mesma perspectiva, em decorrência do somatório dessas realidades interna
e externa, estamos diante da piora na percepção da economia brasileira. Fatos e
percepções estarão contra nós, o que não se reverte apenas com discursos ou
promessas, razão pela qual são visíveis no horizonte, a) o rebaixamento do
rating de risco brasileiro, b) a apreciação do dólar e c) a diminuição do fluxo
de investimento direto e não especulativo.
Importações perderão a conveniência e as exportações
tenderão a ser favorecidas, o que parece positivo, embora se imponha uma
análise mais profunda. A desindustrialização e falta de investimentos dos
últimos anos aumentaram em muito a dependência de insumos importados, o que
fará com que a subida do dólar tenha um impacto direto nos custos, por
decorrência, nos preços e, portanto, na inflação. Esta, sendo crescente,
obrigará o governo a elevar a taxa de juro, com reflexos de aumento nos custos
financeiros das empresas e de diminuição na capacidade de consumo da população,
pois, mesmo que continue a política de concessão de reajustes do salário mínimo
acima da inflação, os preços reais subirão mais do que isso. Em síntese, a
balança comercial e de pagamentos tenderá a ser pouco favorecida pelo
comportamento do dólar em alta, embora, evidentemente, o agronegócio, as
commodities e os minérios deverão ser beneficiados.
Pode ser esperada a continuidade da política de fomento ao
consumo via subsídios, benefícios, bolsas ou mesmo desonerações tributárias
pontuais para produtos ou setores específicos, mas seu uso retroalimentará
negativamente os fatores internos e externos que nos afligem. A obrigatória
subida dos juros terá como efeitos: 1) retração do consumo pelo encarecimento
do crédito; 2) aceleração do esgotamento da capacidade de endividamento das
pessoas físicas; 3) aumento das taxas de inadimplência; 4) maior dificuldade de
tomada de crédito, por óbvios critérios de maior seletividade por parte dos
bancos.
O clássico efeito tesoura fará com que empresas tenham uma
tendência a margens e resultados decrescentes. Por decorrência, a Bolsa de
Valores deverá, na melhor das hipóteses, andar de lado. Quem depender de
investimentos governamentais não poderá esperar reversão da lentidão ou atraso
de obras, pois não haverá recursos suficientes para cumprir cronogramas.
Toda essa realidade aponta para uma performance pouco
satisfatória do comércio, em decorrência do endividamento das famílias ter
atingido seu limite. Se somarmos essas duas constatações, que já são um fato,
veremos que consumidores que compraram além da conta estão recorrendo ao
crédito pessoal – com tradicionais taxas altas – para liquidar suas dívidas, o
que faz antever um aumento da inadimplência. O esgotamento da capacidade
popular de tomada de crédito está também já demonstrado no decrescente uso de
recursos do próprio programa “Nossa Casa Melhor”.
Para aquela parcela de brasileiros eternamente otimistas que
acham que a Copa da FIFA trará uma injeção de ânimo nos negócios, um alerta:
ela poderá favorecer, pontual e limitadamente, hotéis, companhias de aviação e
restaurantes, além de impulsionar cervejas e televisores. Mas não será boa para
o varejo em geral, pelo fechamento de lojas, feriados, dispersão de atenção,
gastos com ingressos e correlatos etc. Como disse um empresário do ramo:
“ninguém compra um tênis novo para assistir um jogo”. Sem falar que o término
das obras que forem terminadas para a Copa jogará no mercado uma substancial
força de trabalho que não necessariamente encontrará novas oportunidades.
Toda essa realidade mostra que o ano entrante terá mais um
pibinho com evolução pífia rondando os 2%, como tem sido os últimos, muito
longe de uma evolução mínima de 4% a 5% que seria necessária para manter esta
nave pelo menos estabilizada, ainda que não pujante.
O cenário será difícil para as empresas endividadas e com
estruturas de capital desbalanceadas. Episódios como os do desmoronamento do
Grupo X (Eike), mesmo que decorrentes de menor pirotecnia, poderão se repetir.
Os erros de governança, planejamento, gestão e falta de realismo econômico,
mais do que nunca mostrarão sua cara. Por isso, podemos esperar crescente
número de recuperações judiciais e falências, com todos os efeitos daí decorrentes.
Diante disso, e em síntese, cabem as seguintes recomendações
às empresas:
- Seja mais conservador do que nunca e preserve sua
liquidez;
- Postergue investimentos e decisões não essenciais;
- Fique atento para boas oportunidades de aquisições, pois
muitas empresas terão problemas, oportunizando ativos a baixos preços;
- Evite e reduza o endividamento;
- Se mesmo assim precisar de crédito, os bancos oficiais
tenderão a ser melhores alternativas;
- Caso recursos de longo prazo forem necessários, debêntures
tenderão a ser uma boa alternativa, inclusive porque investidores
internacionais serão atraídos por taxas crescentes no Brasil;
- Não conte com investidores de capital de risco: será
difícil achá-los, salvo em condições desinteressantes de deságio influenciadas
pelo cenário brasileiro.
Fonte: Administradores
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